Angola comprou mais de 28 mil toneladas de carne suspeita do Brasil
ESCÂNDALO.Depois de a Polícia Federal do Brasil ter descoberto a fraude da carne, vários países suspenderam a importação. Angola está entre os principais importadores e já anunciou a abertura de uma investigação.
Dos vários milhões de toneladas de carne, alvo de investigação pela Polícia Federal (PF) brasileira por suspeitas de adulteração, 28.112 toneladas, da espécie bovina, foram exportadas para Angola, nos últimos dois anos. Os cálculos são da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) que repartem as vendas para Angola em 17.381 toneladas em 2015 e 10.731 toneladas em 2016, volumes que, no conjunto, representaram mais de 100,6 milhões de dólares.
Mais de uma semana após a divulgação do escândalo, não há informações que atestem a entrada, no país, de carne deteriorada proveniente das empresas visadas na investigação da PF do Brasil. As autoridades angolanas já anunciaram, no entanto, a abertura de uma investigação. O director dos serviços de veterinária de Luanda, Edgar Dombolo, em declarações à imprensa, adiantou que estão equipas no terreno a fazer a recolha de dados sobre as importações. “Estamos a aferir quais as empresas que receberam produtos do Brasil”, declarou, indicando que a investigação pretende apurar se, entre os produtos importados, há também alguns que tenham vindo das seis empresas exportadoras entre as 21 visadas pela PF. “Supostamente, na fraude do processamento de carnes, estão identificadas 21 empresas, seis das quais exportam para diferentes países, incluindo o nosso”, referiu o responsável, precisando que Angola importa carne bovina, suína e aves do Brasil.
Segundo apurou o VE, as várias instituições envolvidas no processo de importação de carne, incluindo o Ministério da Agricultura e a Administração Geral Tributária (AGT), estarão a trabalhar no sentido de esclarece os factos. A fonte, próxima do processo, indicou a possibilidade da publicação de um comunicado oficial, do Ministério da Agricultura, ao longo desta semana.
Um especialista do sector comentou ao VALOR que, tecnicamente, ainda não foram confirmadas as denúncias que precipitaram a investigação da PF brasileira. “Ainda não há dados técnicos que permitem aferir a veracidade de tudo quanto está a ser divulgado na imprensa, nem no Brasil nem em Angola”, observou, suspeitando de “possíveis questões políticas em torno do caso”.
O CERNE DA ‘CARNE FRACA’
A investigação da PF brasileira durou dois anos e concluiu que vários frigoríficos daquele país vendiam carne estragada nos mercados interno e externo. De entre os envolvidos no alegado esquema fraudulento, estão donos das principais empresas exportadoras de carne, que contavam com ajuda de funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária que recebiam dinheiro para deixar passar produtos sem verificação.
A operação, denominada ‘Carne Fraca’, permitiu a descoberta de empresas que alegadamente introduziam, nos produtos, ácido ascórbico, substância também conhecida como vitamina C, com potencialidades cancerígenas quando consumidas em excesso, além da inserirem papelões em lotes de frango. Angola foi, no ano passado, o vigésimo terceiro maior importador de carne bovina, numa escala de mais de 100 países importadores, comandada por Hong Kong e a China.
Depois de o escândalo ganhar contornos internacionais, as autoridades brasileiras foram tentando minimizar os resultados da Polícia Federal. O presidente brasileiro, Michel Temer, reuniu com mais de 30 embaixadores para declarar que os casos investigados “são pontuais e não comprometem o sistema brasileiro de fiscalização”. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, também reagindo ao caso, declarou que foram cometidos erros técnicos na operação, considerando mesmo as conclusões de “idiotices”.
BLOQUEIOS
Depois do escândalo da suposta venda de carne estragada pelas maiores empresas de exportação do Brasil, vários países anunciaram a suspensão ou interdições de importações. A União Europeia decidiu impedir a entrada de produtos das empresas investigadas. Bahamas, Barbados, China, Chile, Egipto, Hong Kong suspenderam temporariamente a importação de carnes provenientes do Brasil.
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