ANGOLA GROWING
Vity Nsalambi – Bastonário da Ordem dos Arquitectos de Angola

“Angola já foi considerada um canteiro de obras, mas até hoje continuamos a não ter cursos específicos para a manutenção de edifícios”

20 Mar. 2024 Grande Entrevista

Assumiu a liderança da organização dos arquitectos há um mês, mas exerceu vários cargos nos anteriores mandatos. Vity Nsalambi aponta as falhas das grandes infra-estruturas do Governo assim como a tendência dos decisores de relegar o arquitecto para o último momento ‘‘quando deveriam ser envolvidos em todo processo’’. Denuncia o exercício ilegal da profissão, reivindica um maior protagonismo dos arquitectos e defende uma aposta maior nas obras públicas.

 

“Angola já foi considerada um canteiro de obras, mas até hoje continuamos a não ter cursos específicos para a manutenção de edifícios”

Quais são os seus desafios para o mandato que agora começa?

Definimos como lemas a consolidação, proximidade e contemporaneidade. Os desafios têm que ver com a necessidade de aproximação entre as diferentes partes interessadas, todos aqueles que intervêm, desde os arquitectos e outros parceiros. Proximidade com as entidades decisoras, as instituições do Estado, que são responsáveis pela definição de políticas públicas, da legislação e da regulamentação no sentido de podermos trazer o nosso conhecimento para que melhor possamos dar respostas. Por outro lado, temos a questão da consolidação. A Ordem existe há quase 20 anos. Foi realizando uma série de acções e definiu uma estratégia. Temos estado a procurar seguir esta estratégia, quer a nível nacional, quer internacional. Conhecemos o histórico do nosso país e sabemos que as instituições foram ganhando cada vez mais maturidade e a Ordem dos Arquitectos tem estado também a ganhar maturidade e a ter, cada vez mais, uma aproximação para influenciar positivamente as políticas. Procuramos também consolidar o que foi feito e redireccionar algumas acções que precisam de ser adaptadas ao momento actual. A nível nacional, conseguimos dar alguns passos com a aproximação às instituições do Estado, mas acreditamos que ainda não é suficiente. Há um esforço conjunto para que isso aconteça. Esperamos que o conhecimento e o saber que podemos emprestar sejam efectivos para a melhoria da habitabilidade. A nível internacional, também demos passos largos. Hoje, a Ordem dos Arquitectos de Angola pode-se orgulhar de ter representatividade nas principais organizações no domínio da arquitectura e urbanismo com cargos de destaque.

São muitos desafios…

Vivemos desafios desde a escala local à escala global, que exigem, de todos nós, uma postura mais actuante e também uma actualização constante da nossa forma de olhar para sociedade e ver o mundo. Por exemplo, vivemos uma crise climática que exige, de todos nós, resiliência, adaptação do ambiente construído e pensar o futuro tendo em conta estes desafios climáticos. Os avanços tecnológicos também são desafios. Internamente, temos o ordenamento do território. Somos um país que tem um histórico de guerra com todas as suas consequências. Vivemos um momento de transição na governação e a perspectiva é que continuemos a melhorar para que seja possível irmos ao encontro das necessidades das pessoas. O ordenamento do território acaba por ser o ponto de partida para esta reflexão, porque precisa de ser debatido com muita atenção, na arquitectura e no urbanismo. Devemos começar a olhar a maneira como temos o nosso território pensado e estruturado, tendo em conta todas as forças produtivas e a necessidade de geração de riqueza, do crescimento correcto das cidades para que não tenhamos cidades disfuncionais.

Temos cidades disfuncionais?

Vivemos uma situação difícil de gerir que é ter em Luanda um terço da população de todo o território nacional e é uma tendência que só vai aumentar. Precisamos de olhar para o território todo e garantir condições de infra-estruturas, de serviços, equipamentos e condições para que seja possível reter as pessoas noutras províncias e se possa conseguir gerar riqueza e bem-estar nestas localidades para que se evite este movimento de tudo vir aqui para Luanda. De alguma forma, pode-se mitigar este fluxo migratório constante para Luanda.

Para ler o artigo completo no Jornal em PDF, faça já a sua assinatura, clicando em ‘Assine já’ no canto superior direito deste site.