Angola na presidência da OPEP é “uma armadilha”
PETRÓLEO. País assume, pela segunda vez, a presidência do ‘cartel’ desde a sua adesão em 2006. Especialista alerta para a obrigatoriedade de Angola cumprir religiosamente os acordos de cortes na produção.
Angola foi eleita, nesta segunda-feira, 30, presidente da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) no âmbito da rotatividade da presidência da organização e o empresário Pedro Godinho considera tratar-se de “uma armadilha” e “mais um passo para a sepultura” do país, apesar de os angolanos “se regozijarem”.
“A presidência estava prevista há mais de um ano porque é rotativa, mas todos os estados-membros estão ávidos por ser presidentes. Angola, de uma forma avisada e pensando no povo, poderia renunciar e aproveitar para, nas melhores hipóteses, suspender. Esta é a armadilha que vai levar Angola para o cadafalso.”
Pedro Godinho justifica a sua preocupação com a obrigação que Angola, nesta condição de presidente, terá quanto ao cumprimento dos acordos. “Porque é um dos papéis do Estado Presidente, ser o primeiro a cumprir e perseguir os que não cumprem”, lembra Godinho, referindo-se aos acordos de cortes na produção.
O mandato do país começa em 2021, ou seja, ainda na vigência do acordo alcançado em Abril e que entrou em vigor em Maio. Angola violou as quotas previstas nos dois primeiros meses, em que deveria produzir 1.180 mil barris por dia, tendo produzido, entretanto, sempre acima desta cifra.
Em Julho, voltou a violar o acordo, ao produzir 1.275 mil barris/dias, quando, para o período Julho/Dezembro, a quota atribuída é de 1.249 mil bpd. Angola só passaria a cumprir o acordo nos últimos meses, produzindo ligeiramente abaixo da quota, justamente para compensar o incumprimento dos primeiros meses.
Conhecido defensor da “saída de Angola da OPEP ou, pelo menos, da suspensão da presença do país no cartel, Pedro Godinho reforça que “Angola perde muitos milhões como membro” e que está a “levar às costas” o Brasil, China, Canadá, Estados Unidos e tantos outros países. “Porque, como não são membros, não são obrigados a cortar e aguardam apenas pelos cortes da OPEP”, justifica.
“Se perguntarmos ao ministro a vantagem de se estar na OPEP, a única resposta que nos dão é que Angola é um produtor de petróleo e tem de estar envolvida na organização, nada mais”, ironiza, reforçando que “não há vantagem nenhuma” em ser-se membro, sobretudo “agora que há uma guerra mundial contra o petróleo”, prevendo quedas nos próximos tempos.
Referindo-se à possibilidade apresentada pelo Ministério das Finanças de Angola sair de algumas instituições financeiras, por razões de custos (cerca de 100 milhões de dólares por ano), Godinho insiste que essa deveria ter a mesma postura em relação à OPEP.
Angola já liderou a OPEP em 2009, dois anos depois de aderir à organização, tendo sido presidente, na altura, o então ministro dos Petróleos, Desidério Costa, que foi coadjuvado pelo então ministro de Minas e Energia do Equador, Galo Chiriboga.
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