Aposta no algodão?
RELANÇAMENTO DA PRODUÇÃO. Ministro da Agricultura, Marcos Nhunga, defende, em Malanje, que “investimento público realizado na indústria têxtil vai estimular relançamento da produção de algodão”, por ser a matéria-prima principal para o fabrico de tecidos. Angola, que já exportava algodão, passou para país importador em 100%.
O relançamento da cultura de algodão na região da Baixa de Cassanje dominou as discussões entre políticos, agricultores e outros membros da sociedade, numa Mesa Redonda, promovida pelo Governo de Malanje, Ministério da Agricultura e patrocinado pela Casa Civil do Presidente da República.
Mais de 100 empresários angolanos e estrangeiros, especialistas em técnicas de cultivo de algodão, deram as suas contribuições para posterior estudo de viabilidade para a implementação do projecto de relançamento do cultivo do algodão.
Entre os convidados, destacou-se a enviada especial do ministro britânico do Comércio, Lindsay Northover.
No evento, o ministro da Agricultura defendeu maior aposta, lembrando que o Governo investiu na reabilitação de três grandes fábricas têxteis, que vão consumir 20 mil toneladas de algodão. Entretanto, lamentou o facto de o país que já foi exportador precisar de exportar 100% de algodão.
O governador de Benguela, Isaac Dos Anjos, em declarações recentes à Rádio Nacional de Angola, disse haver descoordenação entre os ministérios, referindo-se à construção de industriais têxteis na ausência de matéria-prima.
Para ultrapassar este quadro, o ministro da Agricultura disse ser fundamental que se trabalhe na organização institucional, mobilização dos agricultores e empresários, no estabelecimento de um preço mínimo de referência para a futura venda do algodão e na criação de incentivos financeiros e fiscais para fomentar o cultivo.
O vice-governador de Malanje para o sector Económico, Domingos Eduardo garantiu “existirem condições para atrair potenciais investidores”. Para o efeito, informou, o Governo criou uma reserva de 250 mil hectares na Baixa de Cassanje, além do Pólo Agro-industrial de Capanda, que também possui reservas fundiárias para atender à procura de terras.
Enquanto Malanje não produz, é no Kwanza-Sul onde vai ser feito o maior investimento de cultivo de algodão, a partir de Janeiro de 2017, com uma primeira colheita de 5.648 toneladas de algodão de caroço.
O projecto foi financiado pelos governos de Angola, através do Ministério da Agricultura, e da Coreia do Sul, estando orçado em mais de 66,9 milhões de dólares. Os dois governos contribuíram em partes iguais para o financiamento do projecto que conta com uma área de cultivo de cinco mil hectares.
De exportador a importador
A frequentemente evocada época de ouro da produção nacional de algodão foi durante o colonialismo em que Angola chegou a produzir 86 mil toneladas de algodão-coroço, até 1983. O factor de produção mais competitivo era, para além de um mercado internacional várias vezes mais pequeno trabakhar com uma mão de obra barata e que dispensava observações a normas de trabalho.
Dos cerca de 26 milhões de toneladas métricas produzidas a nível mundial, perto de sete são produzidas na China, que, para além das condições atmosféricas favoráveis, dispõe de mão de obra muito barata, factor que também beneficia a Índia, o segundo maior produtor de algodão do mundo com 5,5 toneladas métricas. O terceiro maior produtor do mundo é os EUA, com cerca de 3,5 toneladas métricas, que beneficia essencialmente do acesso à tecnologia avançada, capaz de baixar custos de produção e aumentar a rentabilidade, para além de algum proteccionismo à importação da matéria-prima, através da aplicação de taxas e quotas.
Especialistas encorajam mas pedem seriedade
A ADRA – Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente –, organização que trabalha com agricultores, participou da mesa redonda sobre o relançamento da produção do algodão. O seu director, Belarmino Jelembi, considera arriscado o estabelecimento de metas “porque há muitos factores a ter em conta: o financiamento dos projectos, a acessibilidade aos campos, aos fertilizantes que dependem das importações entre outros factores”.
Por outro lado, entende que já se gastou muito dinheiro do Estado em projectos macro que não tiveram resultados. Na sua opinião deveria começar-se por projetos-piloto para “se avaliar se estamos a fazer o certo ou o errado”. Apesar do cepticismo, o director da ADRA entende que o debate sobre o relançamento do cultivo do algodão foi importante.
Opinião diferente é a do Presidente da cooperativa dos agricultores do Huambo, José Dumbo, que “considera oportuna e necessária a retoma da produção do algodão, porque faz parte de uma cadeia de produção”. Segundo este dirigente associativo, o algodão não só serve para a indústria têxtil, assim como os caroços servem para a alimentação bovina.
José Dumbo defende, entretanto, que “mais do que falar é necessário o financiamento de projectos”. Lembra que, além de Malanje, em Catete e Sumbe já se produzia algodão em grande escala, no tempo colonial. “Hoje o contexto é outro mas com financiamento é possível relançar a produção e evitar que importemos tudo”, salienta.
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