ANGOLA GROWING
CELESTINO CHITONHO, BASTONÁRIO DA ORDEM DOS ARQUITECTOS DE ANGOLA

“Arquitectura pode ser usada como uma ferramenta estratégica do Estado”

Se não existirem zonas já infra-estruturadas à espera de quem queria construir, o fenómeno dos subúrbios vai alastrar-se cada vez mais, apresentando-se como obstáculo à implementação de programas públicos de serviços sociais direccionais aos cidadãos que vivem em zonas suburbanas. O aviso é do bastonário dos arquitectos de Angola, Celestino Chitonho, que defende a adequação, à realidade angolana, dos manuais de ensino da arquitetura das universidades.

“Arquitectura pode ser usada como uma ferramenta estratégica do Estado”

 Angola tem uma arquitectura que funcione como identidade?

A arquitectura é essencialmente cultura e a cultura é identidade. Uma das ferramentas mais interessantes para preservar a cultura é exactamente o edificado, aquilo que está construído. Podemos fazer a preservação da nossa cultura com a arquitectura. Mas é necessário que as nossas universidades tenham essa formação, para os arquitectos, para os jovens. A nível da moda, já se está mais evoluído nisso. Basta olhar para um modelo e vê-se que o modelo é africano. Porque vai ter no modelo determinado elementos estéticos ligados a África. Também podemos fazer isso com a arquitectura. Mas o arquitecto tem de perceber essa dimensão. Vamos imaginar que o Ministério da Cultura decida preservar a nossa cultura.Que ferramentas vamos usar? Pode ser a arquitectura. Por isso é que, quando temos os rituais de alambamento, casamento tradicional, oferecemos uns panos que fazem parte do dote. E nós metemos na cabeça que aqueles panos são africanos mas, na realidade, são fabricados na Holanda. Só que há uma empresa holandesa que estuda a cultura dos povos e coloca naqueles panos a dimensão estética dos povos. Então, o que temos que fazer com a arquitectura é colocar nos nossos edifícios a nossa dimensão estética. Do mesmo modo que, quando olhamos para um edifício no Dubai ou na China, damos conta logo, porque há lá uma dimensão estética da cultura chinesa. Isso deve ser política pública em Angola se quisermos preservar a nossa identidade enquanto povo.

 Quem deve dar os primeiros passos?

Deve ser uma acção conjunta, por isso é que nós, enquanto Ordem, estamos a fazer a nossa parte. Estamos a trazer à luz a existência das políticas públicas da arquitectura. Portanto, primeiro devem ser os arquitectos, que entendem mais da especialidade e muitos deles são professores universitários; depois é importante que o Estado tenha uma agenda de preservação da nossa cultura. Nas palestras, temos estado a dar o exemplo da nossa gastronomia. Angola tem uma culinária muito própria e essa culinária é desenvolvida na cozinha. Se a cozinha não estiver preparada para essa culinária, há pratos que vão desaparecer. As cozinhas convencionais que temos, feitas por quem nos colonizou, excluíram a nossa alimentação. Por exemplo, não temos, na nossa cozinha, um lugar para fazer o funge. Temos estado a explicar aos arquitectos que, se não fizermos um lugar para fazer o funge, o funge vai ser parente pobre da cozinha e a gente que quer fazer o funge tem de ir buscar um banco qualquer que não faz parte da cozinha, para fazer o funge. Mas podíamos, à partida, fazer uma cozinha que receba a nossa gastronomia.

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