MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES PRESSIONA BNA

Autocarros sem dólares nem kwanzas, nem peças

ESCASSEZ DE DIVISAS. Empresas de transportes urbanos de Luanda enviaram listas das suas necessidades de importações ao Ministério dos Transportes para este intervir junto do Banco Nacional de Angola para disponibilização de divisas.

O Ministério dos Transportes pretende intervir junto do Banco Nacional de Angola (BNA) no sentido de este disponibilizar divisas para as empresas de transportes públicos rodoviários. Para a concretização da intenção, o Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários solicitou às operadoras que enviassem uma lista, com a descrição das necessidades.

Como consequências da crise financeiras e escassez de dólares, as empresas de autocarros públicos debatem-se, desde 2014, com dificuldades de importação de peças sobresselentes e outros pagamentos a fornecedores externos. A medida do Ministério dos Transportes para acautelar a situação foi anunciada há um mês e várias operadoras já fizeram chegar as suas principais preocupações financeiras.

Por falta de assessórios, vários autocarros estão paralisados há mais de um ano. A TURA (Transportes Urbanos Rodoviários de Angola) tem 40 autocarros parados há vários meses. Estes autocarros são importados da China e a marca não tem concessionária em Angola, o que obriga a empresa a fazer a importação dos assessórios num processo que leva entre quatro e seis meses. “As perdas geradas por cada dia de paralisação de um autocarro ascendem a 500 dólares por dia”, segundo o director da TURA, José Augusto.

A maior operadora de transportes terrestes de Angola, a Macon, está também a ressentir-se da escassez de divisas. A empresa precisa de mais de quatro milhões de dólares para concluir o pagamento de uma dívida, na ordem dos seis milhões de dólares, contraída há dois anos, para a compra de 135 autocarros, na China. A renovação da frota desta operadora, que actua em todo o território nacional, é feita anualmente, o que este ano não aconteceu por falta de divisas para a importação de meios rolantes.

A importação não é a única dificuldade de ordem financeira. Há cinco meses que o Governo não faz pagamentos da subvenção de bilhetes de passagem, um assunto deixado pelo recém-exonerado ministro das Finanças, Armando Manuel, e herdado agora pelo novo ministro, Archer Mangueira. Fontes ligadas a operadoras, avançaram ao VALOR que os atrasos dos subsídios constituem o ‘calcanhares de Aquiles’ das contas das empresas de transportes actualmente.

Greves e demais conflitos laborais, causados por atrasos salariais, são mais consequências dos atrasos do Estado nos pagamentos das subvenções dos bilhetes de passagem dos autocarros. O bilhete está estipulado a 90 kwanzas por viagem, sendo o passageiro responsável pelo pagamento de 30 kwanzas e o Estado pelo restante que deve ser ressarcido às empresas. Até ao dia 5 de cada mês, as operadoras devem remeter os relatórios às autoridades, especificando o número de pessoas transportadas durante 30 dias. E os valores dos subsídios devem ser pagos mensalmente pelo Tesouro Nacional. A capital tem cinco operadoras, Angoaustral, Ango Real, Macon, SGO, TURA e TCUL, sendo esta última a única empresa pública.