Banco BIC critica gestão cambial do BNA
BANCA: Presidente do BIC, entre outras críticas, revela que banco central dá divisas a clientes sem kwanzas, em detrimento de outros com disponibilidade de moeda nacional para realizar compras nos ‘leilões’ do BNA.
O banqueiro Fernando Teles, presidente do conselho de administração (PCA) do Banco BIC, criticou, na última semana, a política cambial do Banco Nacional de Angola (BNA) que determina “quanto e quem” deve beneficiar da moeda externa, vendida nos leilões, substituindo o papel dos bancos comerciais, que ficam com “pouco espaço de manobra”.
“A questão é que o BNA e o Governo decidiram que a moeda externa deveria ser disponibilizada de acordo com as prioridades do Governo”, observou o PCA do BIC, em declarações a jornalistas, acrescentando que não sabe “se é assim que está a ser feito”.
Teles, que falava no evento de apresentação dos resultados do banco, referentes ao exercício de 2016, indicou que, face à política adoptada pelo BNA, “muitos clientes têm sido preteridos”. Mas, mais do que isso, denunciou haver situações em que clientes que têm kwanzas para adquirir a moeda externa, no caso o euro, são preteridos, a favor dos que não têm kwanzas para a transacção. “Se me perguntarem se estou satisfeito com isso, não, não estou”, desabafou Teles, que admite não haver outra escolha, senão “aceitar, criar alternativas e avançar”.
No pouco “espaço de manobra” deixado aos bancos, o BIC, segundo o seu PCA, tem priorizado disponibilizar cambiais para os “casos complexos”, como empresas com dificuldades de importar produtos, e pessoas doentes que buscam tratamento no exterior. Ainda assim, nem sempre chega. “Há empresas com a corda no pescoço e outras a encerrar devido à escassez de dólares”, insiste.
O BNA adoptou a medida de gestão directa das divisas, no seguimento da crise que reduziu drasticamente as receitas petrolíferas, além da saída dos correspondentes bancários internacionais, que se retiraram do país essencialmente, por questões relacionadas com o ‘compliance’, Teles inclui, entretanto, entre as razões da fuga dos correspondentes bancários, “algum preconceito em relação a Angola”, embora admita que a adopção de “padrões internacionais vai ajudar à ter a situação normalizada.”
O Deutsche Bank foi o último dos correspondentes bancários a abandonar Angola, numa lista antes preenchida por instituições financeiras de peso, como o Citi Bank, HBSC, Standard Chattered, além de outros actores menos ‘pesados’. Fernando Teles recorda que a retirada dos correspondentes bancários “criou dificuldades ao sistema financeiro angolano, na medida em que muitos bancos enfrentam constrangimentos em movimentar dinheiro para fora”.
No que ao seu banco diz respeito, o BIC Angola tem recorrido aos BIC Portugal, Cabo Verde, S. Tomé para a realização de operações internacionais, e, mesmo assim, encontra “alguns constrangimentos”, como aponta Teles. Em relação à propalada intenção de fusão entre o BIC e o BFA, Fernando Teles, que várias vezes se mostrou reticente quanto à quantidade de bancos no mercado, não foi além de um breve comentário: “Espero que não nos imponham nada”. O BIC, declarou, está atento a oportunidades de negócios em países como a África do Sul, os Congos, Zimbábue e Zâmbia. Ou seja, onde houver “bons negócios”, o banco vai implantar-se.
CRESCER NA CRISE
De acordo com os dados apresentados pelo BIC, os depósitos do banco cresceram 10%, em 2016, para um total de 850 mil milhões de kwanzas, ao passo que o volume de negócios subiu para 1,85 biliões de kwanzas, relação aos 1,6 biliões de kwanzas registados no ano anterior.
Os capitais próprios do banco estão agora nos 113 mil milhões de kwanzas, um crescimento de 12%, com os activos líquidos totais do banco a subirem também em 6%, atingindo um bilião de kwanzas. O banco viu o rácio de solvabilidade regulamentar aumentar de 13,3% em 2015 para 14,3% em 2016. Com 1,3 milhões de clientes registados em 226 agências em todo o país, em 11 anos, o Banco BIC é um dos quatro maiores da praça financeira angolana.
Na mensagem do seu presidente, o crescimento registado “implicou investimentos substanciais em infra-estruturas e tecnologias de informação”, além de investimentos nas áreas de controlo interno, risco e de ‘compliance’.
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