Banco Económico promete executar hipotecas a devedores
CRÉDITO. Instituição avisa que vai accionar execução de garantias a clientes com crédito malaparado saído do antigo BESA. Banco não explica quem são devedores, mas antecipa que especialistas da ‘casa’ já iniciaram avaliação dos processos, caso a caso. Estratégia visa recuperar mais de cinco mil milhões USD na posse de clientes.
O Banco Económico vai executar as garantias apresentadas por clientes que tenham dívidas por pagar relativas ao crédito do antigo Banco Espírito Santo (BESA) e que se encontram malparados, revelou ao VALOR o presidente da comissão executiva da nova instituição, Sanjay Bhasin.
De acordo com a nova administração, a medida tem por objectivo recuperar os mais de cinco mil milhões de dólares (514 mil milhões de kwanzas, ao câmbio de 31 Dezembro de 2014) cedidos pela administração de Álvaro Sobrinho no extinto BESA, saídos sob forma de empréstimos.
A instituição não fecha porta a possibilidade de ‘conversa’ com devedores. Da estratégia de recuperação do dinheiro, consta ainda o “estabelecimento de acordos de pagamentos”.
“O Banco Económico tem uma equipa especializada em gestão de créditos que analisa cada caso, podendo a recuperação [do crédito malparado] passar pelo estabelecimento de acordos de pagamento com os devedores e execução de garantias”, garante Bhasin.
Segundo informações tornadas públicas, por altura da resolução do BESA, parte do crédito saído da tesouraria da instituição estava desprovido de garantias, o que levanta questionamentos sobre o método escolhido por Bhasin, na recuperação do crédito malparado.
Até à data, não há qualquer informação disponível sobre o paradeiro dos clientes que pediram dinheiro emprestado ao antigo BESA, nem a administração de Sanjay Bhasin responde ao VALOR sobre a identidade dos clientes, empresas e particulares, com garantias sujeitas à execução.
O mecanismo de execução de garantias é anunciado dois anos depois da ‘morte’ do BESA e duas semanas depois de apresentadas as primeiras contas de balanço da gestão de Bhasin no Banco Económico, respeitantes a 2014 e 2015.
O Banco Económico é a instiuição financeira que surge do processo de resolução imposto, em Outubro de 2014, pelo Banco Nacional de Angola, ao antigo BESA, por excessos de crédito malparado e que levariam a uma recapitalização do banco via Estado. Estratégia que mais tarde foi revogada pelo BNA.
Dois anos antes da liquidação do BESA e criação do Económico, as contas de balanço do banco evidenciavam activos totais de mais de um bilião de kwanzas, o segundo no ranking dos cinco maiores em activos, e de 5.442 milhões de kwanzas de lucros líquidos, na sétima posição, atrás do antigo Banco Privado Atlântico (ver gráficos ao lado).
PRIMEIRAS CONTAS APRESENTADAS
De acordo com o balanço do banco recentemente apresentado, os resultados dos dois primeiros anos do Banco Económico mostram prejuízos de 59,7 mil milhões de kwanzas e ganhos de apenas 9,9 mil milhões. Segundo o banco, a perda em 2014 reflecte o resultado das medidas de saneamento e da estrutura de activos e passivos do Banco Espírito Santo Angola (BESA), “não reflectindo ainda o resultado da actividade desenvolvida pelo Banco Económico que apenas se materializou em 2015”.
Os resultados foram tornados públicos dois anos fora do tempo regulamentar e três semanas depois de o VALOR ter noticiado, na sua edição 39, de 12 de Dezembro, “Banco Económico ‘esconde’ resultados há dois anos”, tendo o banco reagido com a promessa de que “brevemente” publicaria as contas.
CLIENTES DE REGRESSO
Na cerimónia de apresentação do balanço, Sanjay Bhasin cosiderou que os 9,9 mil milhões de kwanzas conseguidos nos lucros de 2015 e o aumento da carteira de cliente face a 2014 “significa que os clientes estão a voltar para o banco”. Num mail do VALOR à administração do Banco Económico, o jornal questiona quantos clientes abandonaram as contas bancárias após liquidação BESA e quantos já “regressaram” à casa, e se há casos de clientes que viram seus os bens congelarem com a ‘morte’ do BESA. Bhasin garante que, no ex-BESA, não houve congelamento ou perdas de activos financeiros de clientes depositados na instituição, ao contrário do que sucedeu com o congênere português, que ainda responde por depósitos de antigos clientes no banco. Segundo os números da nova administração, o Banco Económico captou cerca de 15.000 novos clientes, tendo a base superado os 100 mil clientes. Também houve aumento nos depósitos de clientes, com crescimento de 36% no período, com os depósitos das empresas a registar um crescimento de 42% e os depósitos do segmento de particulares um crescimento de 22%.
BESA SEMPRE ENTRE OS GRANDES
De 2009 a 2011, o ex-BESA disputava sempre liderança no ranking dos cincos maiores da banca nacional por lucros e activos. Em 2009, o banco já era o terceiro da lista dos ‘grandes’ em lucros, com 16.842 milhões de kwanzas. Desde então, foi sempre a subir, tendo ficado, nos dois anos seguintes, como lider no ranking: 30.489 milhões de kwanzas, em 2010, e 31.820 milhões, em 2011 (ver gráficos ao lado).
No ano imeadiatamente a seguir, o desempenho do ‘banco do planeta Terra’, segundo uma distinção da UNESCO, em 2009, desceu sete ‘casas’. Ou seja, o banco saltou do primeiro lugar nos lucros para o sétimo, dando espaço ao Banco de Fomento Angola (BFA), actual líder na classificação por lucros.
Não se conhecem os resultados do ex-BESA referente ao exercício de 2013, nem o banco que lhe sucede mostra a tendência de evolução no seu portal de internet, ou por balancetes do período. Aliás, nem mesmo os relatórios da consultora Deloitte, também chamados ‘Banca em Análise’, mencionam resultados do banco relativos a 2013.
Desde então, as estatísiticas finaceiras e patrimoniais da entidade nunca mais foram incluídas nos principais relatórios de auditoria do sector bancário. A consultora KPMG, por exemplo, queixou-se, por altura da apresentação dos dados do sector relativos a 2015, de ter dificuldade com cáculos comparativos pela inexistência de dados sobre o BESA ou banco que lhe sucede, o Económico.
Os últimos dados disponíveis da instiuição que ‘morreu’ nas mãos de Álvaro Sobrinho são referentes ao primeiro semestre de 2014, quando o accionista português da antiga sucursal do Banco Espirito Santo (BES) em Luanda publicou o balanço. No período, o accionista português tinha informado que a filial havia contabilizado um valor negatico equivalente a 47,3 mil milhões de kwanzas, no primeiro semestre de 2014.
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