Banco VTB-África declara ter “zero” de crédito malparado
RESULTADOS. Enquanto ‘crédito mau’ ameaça arrastar para lama alguns dos bancos comerciais, VTB reclama ter folha “limpa”. Segredo? “Profissionalismo normal”, como declara o seu presidente.
Dos 639 mil milhões de kwanzas de crédito malparado da banca, reportados na passada semana pelo governador do Banco Nacional de Angola (BNA), não há um único kwanza do banco VTB-África, segundo o seu presidente, em declarações ao VALOR. “Não temos, é zero”, assegurou Igor Skvortsov, presidente da comissão executiva (PCE) do banco, insistindo que o VTB está “absolutamente limpo”.
Segundo o gestor, o ‘segredo’ do VTB está no facto de o banco ter decidido não mais entrar nos projectos de crédito e de investimentos, com grande risco, justificando que, em situação de crise, é preciso ter-se “muito cuidado.” Mas a precaução em relação ao crédito começou antes mesmo da declaração da crise.
Há mais de três anos, o banco começou a reduzir a carteira de crédito, depois de observados sinais de que “haveria problemas na economia”, que seriam derivados da baixa do preço do petróleo, como declarou Amílcar Barros, administrador executivo do VTB-Africa. Paralelamente, o banco encerrou, entre finais de 2015 a meados de 2016, três das quatro agências que possuía no país, incluindo uma no Lubango, a única fora de Luanda.
Essa última foi aberta em 2011, especialmente para apoiar o sector mineiro que se anunciava nascente na província da Huila, onde despontavam as minas de ferro de Kassinga. “Devido a toda conjuntura económica, e também a um programa de contenção de custos, tivemos de encerrar algumas agências e reorganizar as estruturas do banco de modo a sermos mais eficientes”, justificou Amílcar Barros, acrescentando que o objectivo passa também por “dar forma a uma nova estratégia que o banco adoptou que consistiu em especializar-se na área transaccional”.
Em relação ao conjunto da actividade, Igor Skvortsov explica que 2015 e 2016 foram anos “complexos” para o país, com destaque para o declínio de receitas e a consequente indisponibilidade de divisas para as importações. E, à semelhança dos demais bancos, o VTB-África queixa-se dos “défices e dificuldades” no mercado cambial, referindo-se à política “muito selectiva e restritiva das vendas de divisas” praticada pelo BNA.
“Não é fácil trabalhar nessa situação”, observou Skvortsov. Com início de actividade no país há 11 anos, o VTB-Africa teria a sua sede, sita na Rua da Missão, em Luanda, inaugurada, em 2007, pelo presidente russo, Vladimir Putin, que foi substituído ‘in extremis’ pelo então e actual ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov.
A importância atribuída era que o banco seria o ponto de partida para outras apostas no continente, nomeadamente na Namíbia e em Moçambique, segundo uma fonte conhecedora do assunto, mas, até hoje, os planos nesse sentido não avançaram.
Crescimento na crise
Os activos do VTB-Africa cresceram 73% no ano transacto, para cerca de 40 mil milhões de kwanzas, ao passo que o rácio de solvabilidade está calculado em 42%, muito acima da média de 20% da banca nacional.
O que também cresceu é a rubrica dos fundos próprios que subiu 81%, para 8.5 mil milhões de kwanzas. O banco apresenta assim um resultado líquido individual do exercício em 3,8 mil milhões de kwanzas, o equivalente a 23 milhões USD.
Questionado se foi a ‘visão russa’ que previu a crise do malparado e permitiu a ‘retirada estratégica’ com antecedência, o administrador executivo respondeu ter sido “um pouco de tudo”.
“É um pouco de previsão e um pouco de sorte. Foi bastante oportuna a antecipação da nossa política de crédito”, afirmou Amílcar Barros.
O malparado equivale a 18% do total de 3,6 biliões de kwanzas disponibilizados pela banca em 2016. Os dois bancos públicos (BPC e BCI) estão atolados, recorrendo rotineiramente ao ‘empurrão’ do Estado, através da emissão de Títulos do Tesouro, para permanecerem no negócio. O BIC e o Yetu não avançam números, mas afirmam que os números do malparado nas respectivas carteiras são “insignificantes”.
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