BDA acusado de bloquear financiamento a projecto agrícola
AGRICULTURA. Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) deixou de financiar há dois anos e meio o projecto agrícola ‘Terra do Futuro’, no Bié. BDA defende-se que o ‘bloqueio’ se deve a atrasos no reembolso do crédito.
O presidente do conselho de administração da fazenda ‘Terra do Futuro’, Manuel João Fonseca, acusa o BDA de tentar “matar” o projecto e de não “assumir os compromissos”, com um grupo de jovens fazendeiros previamente selecionados e com o governo do Bié, com quem a instituição financeira teria rubricado um acordo financeiro para a viabilização do projecto. “Neste momento já devíamos estar com 30 fazendas. Os jovens abrangidos esperam até hoje pelo financiamento, sem nenhuma resposta. Os processos deram entrada e não sabemos se vão responder.”
Manuel João Fonseca declarou que, até ao momento, a única informação que recebeu do BDA é a de que “o banco está a entrar em remodelação”. No entanto, garante que mesmo com o ‘entrave’ do BDA, o projecto não está “paralisado”, sendo que continuam a ser montado o sistema de rega nas fazendas, prevendo-se que, em Setembro, arranque a produção, em fase experimental.
O empresário acredita que o banco pode estar a criar um “um processo de falência”, por não estar a fazer “alinhamento com a realidade da economia” que se está a trabalhar. “Hoje, por exemplo, a taxa de juros do BDA é de 6,7%, e o empresário para pagar a taxa, com a indexação do crédito ao dólar, tem de fazer um esforço financeiro de cerca de 80%”, reclamou. O projecto ‘Terra do futuro’, no Bié, prevê erguer e desenvolver, numa primeira fase, 40 fazendas e, posteriormente, outras 40.
Manuel João Fonseca acredita que o projecto tem tudo para seguir adiante, apesar dos actuais constrangimentos com o financiamento. “Continuo a acreditar que vai dar certo, se não já tínhamos desistido. Continuamos a trabalhar. O projecto não vai morrer porque o BDA parou. É natural que atrase, hoje podíamos estar com as fazendas todas a produzir em velocidade cruzeiro e não estamos”, considerou.
No quadro do mesmo projecto, mas na província do Kwanza-Sul, o BDA já investiu, até ao momento, aproximadamente cerca de 80 milhões de dólares, na indústria e execução de 60 fazendas, sendo que 35% do montante cedido foi destinado à infraestrutura de suporte, indicam os dados oficiais.
BDA REAGE
Em reacção às acusações da administração do projecto ‘Terra do Futuro’, o director de crédito do BDA, António Egaz, declarou que a instituição que representa não deixou de financiar o projecto. O responsável explica que se trata de um contrato com desembolsos periódicos. “Há pré-condições que não foram cumpridas, de maneira que o projecto não pode ir adiante. A entidade que tem de preparar as fazendas não terminou. Só depois é que passa a fase de financiamento dos jovens. As fazendas têm de estar prontas. Não se pode financiar os jovens porque não há fazendas”, detalhou.
António Egaz afirmou que o projecto sofreu “alguns atrasos”, no passado, e não se “pode cometer os mesmos erros”, acrescentado que a primeira fase não está concluída e que, por isso, não se pode passar para a fase seguinte, que é com os fazendeiros. “Temos uma empresa a fazer a avaliação do programa. Assim que se fizer a entrega do relatório, já saberemos o que teremos para depois avançarmos com o financiamento dos jovens”.
Terra do Futuro por dentro
O projecto ‘Terra do Futuro’ (PTF) foi criado em Setembro de 2009, na Quibala, Kwanza-Sul, com o objectivo de formar empresários agrícolas. Os jovens ligados ao projecto foram identificados nos institutos médios e superiores agrários. O PTF prevê que cada jovem assuma a titularidade de uma fazenda com 250 hectares. No Kwanza-Sul, foi desenhado para ter 60 fazendas até ao final deste ano, 39 já estão a produzir ou em fase de produção de cereais e leguminosas. As fazendas produzem soja, feijão, girassol, sorgo e milho e abastecem mercados como o do Kwanza-Sul, Luanda, Huambo, entre outros.
O PTF prevê ainda instalar sete fábricas, quatro das quais já estão em fase de produção. No quadro da acção social, o PTF criou um posto de saúde, ainda no Kwanza-Sul estando a construir uma escola primária e um posto de polícia, cuja operação já foi autorizada pelo Comando Provincial da Polícia. “A aposta é que os filhos e netos destes jovens sejam grandes agricultores, porque a nossa história agrícola é insipiente, não tem história do pós-guerra”, salienta Manuel João Fonseca.
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