BPC sem liquidez em semanas consecutivas
Até à última sexta-feira, o BPC contabiliza três semanas, com o registo de sérios problemas de liquidez, verificados particularmente em várias agências que determinaram limites nos levantamentos entre os 25 e 100 mil kwanzas.
Várias agências do Banco de Poupança e Crédito (BPC) encontram-se, desde o início de Junho, com graves dificuldades de tesouraria, o que obrigou os balcões a estabelecerem limites de levantamentos, soube o VALOR de vários funcionários e denúncias de clientes.
Ao que este jornal apurou junto de várias fontes do BPC, desde o início de Junho, as agências com escassez de dinheiro puseram em marcha um plano de “distribuição racional” dos depósitos. Ou seja, para cada cliente, as solicitações de levantamento não devem ultrapassar os limites entre 25 mil e 100 mil kwanzas, definidos pelas agências com base nas disponibilidades diárias.
“Este é um mecanismo encontrado para as pessoas não saírem do banco sem dinheiro. Há casos em que os valores são mais baixos, dependendo, quase sempre, do quanto entra, em depósito, na hora em que os clientes solicitam o levantamento”, conta uma fonte da gerência de uma das agências do BPC, em Luanda.
Em causa estarão a redução dos depósitos e os “atrasos nos ‘desbloqueios’ do Banco Nacional de Angola para o BPC”, além das transferências que as agências “são obrigadas a efectuar para outras contas de organismos estatais”, contam dois funcionários das agências da Sagrada Família e Lara, na Avenida Hoji-Ya-Henda, respectivamente.
Este é um dos muitos casos, desde 2013, com a entrada da nova família de kwanzas – notas de 50, 100, 200 e 500 kwanzas – em que se assiste à escassez de dinheiro em várias agências do banco público. De Novembro a Dezembro do ano passado, o cenário foi o mesmo e várias foram as queixas de clientes sobre as dificuldades no acesso a depósitos.
Desde então, e em resposta a uma matéria do ‘Jornal de Angola’, em Março de 2013, a direcção de Comunicação e Marketing do BPC justificou a escassez de dinheiro com a “morosidade no reforço do cofre de determinados balcões”.
Para as enchentes e longas filas, o banco ‘atira’ a culpa ao facto de o Estado ter “depositado, em simultâneo, no [banco], todos os salários dos funcionários [públicos], o que fez com que milhares de pessoas quisessem levantar dinheiro ao mesmo tempo”.
Os mais recentes casos remontam a finais de Maio e princípios de Junho, com escassez de dinheiro em quase todos os balcões da periferia e alguns da cidade de Luanda, aos quais a administração do primeiro banco de capitais públicos ainda não deu quaisquer explicações.
Para o economista Lopes Paulo, a falta de liquidez pode estar associada a vários factores, entre os quais o atraso por parte do BPC na solicitação de reposição de liquidez pelo BNA. “Os bancos devem guardar 30% dos seus depósitos no BNA. Vamos imaginar que o BNA não responda a tempo oportuno. Isso pode também ter impacto na reposição dos depósitos”, comentou o economista.
Uma ronda do VALOR em cinco das agências do BPC em Luanda, designadamente o balcão de Cacuaco, São Paulo, Combatentes, Ndunduma, Sagrada Família e alguns postos de atendimentos, constatou que, ao invés das habituais filas para levantamentos ou depósitos, os clientes optam por solicitar os cartões multicaixas, por não haver dinheiro.
FAMÍLIAS PREOCUPADAS
Várias são as vozes que se queixam de terem dificuldades no acesso aos depósitos, como é o caso de Alfredo Funete, militar das Forças Armadas, que, à reportagem do VALOR, conta que, há duas semanas, não consegue tirar dinheiro do BPC para pagar consultas médicas e contas com logística familiar.
“Este é o quarto balcão em que me dizem que ‘não há dinheiro’. Como é que um banco vai dar essa resposta aos clientes?”, desabafou o militar, à saída da agência dos Combatentes, no ex-edifício do Ministério da Comunicação Social, no que é corroborado por outra cliente, que, segundo conta, corre o risco de pagar propinas com multas pelas dificuldades que tem no acesso aos seus depósitos.
“Pedi 30 mil kwanzas, mas a senhora do balcão disse que só tinha disponíveis 23.500 kwanzas. Como o cliente que vinha atrás de mim pretendia também levantar o dinheiro para comprar medicação, peguei apenas 20 mil kwanzas. É um sofrimento”, lamenta outra cliente.
Vários contactos foram efectuados para o gabinete de Comunicação e Marketing do BPC, do qual obtivemos a resposta “vamos fazer o nosso melhor para responder às perguntas”, mas, até ao fecho desta edição, não houve qualquer reacção, assim como do Banco Nacional de Angola.
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