Por causa dos direitos de transmissão

CAN reacende disputa entre DStv e ZAP

CONCORRÊNCIA. DStv nega ter pressionado a CAF no sentido de impedir a TPA de transmitir os jogos na ZAP, mas admite não ter autorizado a TPA a passar os jogos do CAN na plataforma da concorrente.
CAN reacende disputa entre DStv e ZAP

A surpreendente e histórica decisão da Televisão Pública de Angola (TPA) de oferecer simultaneamente conteúdos diferentes para os telespectadores da ZAP e da DStv, durante a transmissão dos jogos do Campeonato Africano das Nações (CAN), deve-se a uma imposição da DSTV à Confederação Africana de Futebol (CAF).

Fontes que acompanham o processo adiantam ao VALOR que a TPA negociou a transmissão dos jogos directamente com a CAF, tendo pago cerca de 1,5 milhões de dólares.

No entanto, é a DStv que tem a exclusividade de transmissão do campeonato para as plataformas pagas. Ao aperceber-se que a CAF tinha negociado com a TPA, a operadora terá intimado a CAF, prometendo levar o caso a tribunal caso a TPA transmitisse os jogos na plataforma concorrente, ou seja, na ZAP.

Perante o cenário, e considerando que a ZAP tem mais de 70% da quota do mercado, o Governo negociou com a DStv e a CAF, mas sem sucesso.

A Multichoice Angola, DStv, nega que tenha intimado a CAF, estimando que a organização do evento terá decidido respeitar o estipulado pelos contratos por iniciativa própria como forma de manter a credibilidade para negócios futuros.

Ao VALOR, Eduardo Continentino, director da Multichoice Angola, esclareceu que tem a exclusividade de transmissão para as plataformas pagas e a TPA adquiriu para transmissão ‘free wear’ (TV pública).

Os esclarecimentos do gestor, de resto, sustentam o comunicado da empresa em que sublinha que “os direitos de transmissão do Campeonato Africano das Nações (CAN2019) são totalmente controlados pela CAF, não pela MultiChoice Angola”. “A TPA sabia desde o princípio que não poderia transmitir nas plataformas pagas”, refere Eduardo Continentino, acrescentando que a Multichoice não só não se manifestou contra a possibilidade de a TPA transmitir via plataformas pagas, como permitiu que fizesse por via tanto da DStv como da TV Cabo. “É o nosso concorrente directo”, respondeu quando questionado sobre a não transmissão pela ZAP.

A ZAP não reagiu oficialmente, mas um quadro sénior do grupo lamenta sobretudo pelo número de pessoas que ficam impedidas de assistir aos jogos. “A Multichoice quer obrigar as pessoas a comprar DStv”, argumentou, acrescentando que “no passado, a TPA sempre comprou e transmitiu em todas as plataformas pagas”.

No entanto, o ‘caso CAN’ traz publicamente uma guerra que tem havido nos bastidores entre as duas plataformas pelos canais desportivos que, actualmente, são o principal diferencial da DSTV. Segundo apurou o VALOR, a ZAP tem tido dificuldades em assinar contratos por a Multichoice “estar a bloquear os direitos desportivos em África”, segundo o quadro sénior da ZAP para quem “é uma certeza” que a DStv perderia grande parte dos clientes em Angola e em toda África caso viesse a ficar sem a exclusividade dos canais desportivos.

O ponto alto da concorrência entre as duas plataformas, em Angola, registou-se em 2015 quando a DStv perdeu para a ZAP o direito de transmissão do canal brasileiro Globo. Mas antes perdeu a liga portuguesa de futebol. E para fazer face ao ‘forte desportivo’ da DStv a ZAP juntou às suas ofertas o canal SportTv África, assim como a BTV, que transmite os jogos em casa do Benfica. Apostou ainda nos direitos televisivos do Girabola e, mais recentemente, passou a transmitir também o campeonato espanhol que também faz parte da grelha da DStv.