Cerca de 70% dos avicultores falidos
PRODUÇÃO NACIONAL. Líder dos avicultores alerta para a possibilidade de haver uma diminuição considerável de ovos dentro de três meses, devido à dificuldade no acesso a divisas.
Cerca de 70% dos 120 avicultores angolanos, que representam uma capacidade instalada de três milhões de aves e uma produção diária de 2,5 milhões de ovos, encontram-se em situação de falência técnica. Os dados são de Rui Santos, presidente da Associação Nacional dos Avicultores de Angola (Anavi) que, desta feita, confirma o cenário estimado, também ao VALOR, em Maio deste ano, pela vice-presidente da mesma associação, Maria José.
“Se não houver uma intervenção governamental dentro de três meses, o mercado corre o risco de ficar sem uma parte considerável de ovos de produção nacional”, sublinha Rui Santos, que aponta “as dificuldades no acesso a divisas para efectuar as importações de matéria-prima” como a principal causa da crise que o sector atravessa.
“A burocracia na banca, tanto a nível central como local, susceptível de ser rapidamente suprimida, deve ser imediatamente banida, caso contrário, a nossa actividade deixará de existir”, alerta Rui Santos. De acordo com o representante da Anavi, o mercado carece de bagaço de soja e de premix (conjunto de vitaminas e minerais), produtos que, na sua maioria, são importados da África do Sul, Portugal, Bélgica, Argentina e Uruguai e que sem os quais se torna “impossível a produção de ovos”. A situação, segundo explicou, está a provocar uma elevada taxa de desemprego, essencialmente em Luanda, Benguela, Huambo e Lubango, cidades onde a procura do ovo é maior. “Todos os dias recebemos notícias de avicultores que ficaram sem trabalho”, garante Rui Santos.
CONVITE AO MINISTRO
A direcção da Anavi pretende convidar o ministro da Economia e Planeamento para discutir a “maior crise de sempre” e “poder inverter a situação”, anuncia Rui Santos. Caso Sérgio Santos aceite o encontro, o representante dos avicultores também propõe discutir sobre o desafio do ministro aos produtores para a produção de carne de frango, de forma a reduzir as importações que, em 2018, custaram 227 milhões de dólares (140 mil milhões de kwanzas). Na perspectiva de Rui Santos, a proposta do ministro da Economia e Planeamento deve ser “bem pensada e planeada” antes de passar para a execução, tendo em conta os investimentos financeiros. “Não se deve avançar sem um bom plano”, argumenta. “Temos de fazer um estudo profundo e aturado para ver se somos capazes de produzir carne em grande escala”, insiste.
Admitindo como “justas” muitas das críticas feitas à ineficiência da produção de ovos – designadamente, o facto de o país ainda ter de importar determinados produtos – o líder dos avicultores receia que o plano do ministro seja inaplicável a médio prazo. “Se temos dificuldades em produzir ovos, teremos muito mais em produzir carne de frango, porque, quando interrompida, se perde tudo. Não é como fazer uma obra de construção civil, em que se pode interromper por largos meses”, avisa.
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