Crise económica cria novas profissões

'Chamadores de sócia' serve de alternativa para quem não tem emprego

18 May. 2022 (In) Formalizando

Emprego. Falta de oportunidades de trabalho força muitos jovens a reinventarem-se e a encontrarem soluções de susistência. Muitos tornaram-se ‘chamadores de sócia’ para facturarem até ou mais de 10 mil kwanzas por dia.

 

Os elevados níveis de desemprego registados no país obrigaram muitos angolanos a procurar alternativas, entre as quais o fenómeno ‘sócia’, usado há muito tempo, mas que tem aumentado nos últimos anos.

A prática permite que duas ou mais pessoas juntem dinheiro para comprar um produto, particularmente os da primeira necessidade, como arroz, peixe, carne, óleo, que depois são repartidos equitativamente.

Com este fenómeno, surgiram também, à porta dos armazéns, os intermediários (‘chamadores’) que procuram as pessoas que querem fazer compras pela via ‘sócia’. Ajudam a facturar os produtos e são também responsáveis pela divisão dos produtos. No final, cada participante da sócia paga 100 kwanzas a cada ‘chamador’. “É melhor trabalhar assim do que roubar o que é do outro”, comentam.

A procura é mais elevada nos finais de meses, pelo que há dias em que os chamadores não conseguem nada, como afirma João Baptista, chamador de ‘sócia’ nos armazéns da Bolama, em Luanda. A actividade é predominantemente praticada por homens desempregados, com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos, e, na sua maioria, provenientes da zona Sul. Há também senhoras que dizem não ter emprego nem dinheiro para constituir um negócio e encontram na ‘sócia’ a escapatória para o sustento das suas famílias.  

Apelo para a inserção na segurança social 

Apesar de não terem sido interpelados, ou sensibilizados, para se inscreverem na segurança social, como prevê o Decreto Presidencial número 295/20 de 18 de Novembro relativo à protecção social obrigatória para as actividades de baixo rendimento, os chamadores dizem-se dispostos a se inscrever também no INSS, como tem acontecido com profissionais enquadrados no Programa de Reconversão da Economia (PREI).

Um deles é Pedro Monteiro, que gostaria de estar inscrito na caixa social. “Seria muito bom que nos inscrevessem também e podermos juntar o nosso dinheiro para pagar a segurança social e garantir o nosso futuro”, apela. Também Ernesto Jamba pede para que não sejam marginalizados, pois entende que, no meio deles, há pessoas que estudaram e têm capacidade para trabalhar em qualquer área. “Já batemos em muitas portas e não conseguimos, por isso, estamos a remediar-nos aqui, se aparecer outra oportunidade vamos nos enquadrar”, defende.