AMYN HABIB, CEO DO CENTRO ÓPTICO

“Chegámos a fazer rastreios em algumas empresas que têm motoristas que só têm 20% da capacidade de visão”

14 Feb. 2024 Grande Entrevista

A investir no mercado angolano há mais de 15 anos, Amyn Habib defende que apesar das dificuldades das famílias angolanas com a constante baixa do poder de compra, Angola tem muitas oportunidades e tem construído muita coisa que muitos ainda não conseguem. Recorre ao exemplo da RDC para comparar e ilustrar que Angola tem marcado passos significativos. Com a  abertura da primeira fábrica de lentes monofocais de Angola, Amyn Habib aponta a falta de quadros com formação especializada e as dificuldades de importação de matéria-prima como principais barreiras do sector.

“Chegámos a   fazer rastreios em algumas empresas que têm motoristas que só têm 20% da capacidade  de visão”

Entrou no mercado angolano com investimentos no sector imobiliário. Como é que faz a transição para a óptica?

Acabei por ter  duas situações de vida que me levaram a entrar para este sector. A primeira foi uma pós-graduação em marketing, em 2006. Um dos professores, que é um dos principais distribuidores de ópticas em Portugal, quando soube que vinha para Angola, disse-me que um dos sectores muito carentes em Angola era o da óptica e que o mercado trabalhava muito mal. Naquela altura, a economia estava muito boa. Respondi que todos os negócios deveriam ser bons em Angola, porque tudo fazia falta. Fiz um estudo de mercado, por muita insistência dele, e chegámos à conclusão de que o mercado era mesmo muito carente. As pessoas trabalhavam muito mal, havia muita falta de qualidade nos serviços, o que vinha para Angola era tudo que não se vendia lá fora, principalmente em Portugal, e com preços muito altos. Como a oferta era muito má, baixámos muito os preços. Quando entrámos, os óculos mais baratos custavam entre os 250 e os 300 dólares e nós lançámos a 4900 kwanzas, com o câmbio 1. Ou seja, custavam 49 dólares. 


E dominaram o mercado...

Dominámos o mercado por vários factores. Primeiro, por causa das pessoas. Temos a melhor equipa do mercado e isso faz a diferença. Depois a estratégia. Democratizámos o aceso aos cuidados de visão. Trouxemos uma estratégia que dá acesso a um bom produto a preços realmente justos, em muitos aspectos e muito baixo. A concorrência também baixou os preços, mas não conseguiu acompanhar-nos, porque começámos a trabalhar para o volume e não para ganhar por operação. Definimos não ganhar muito dinheiro, não é esse o nosso caminho, trabalhamos de forma justa e honesta defendendo o que realmente estamos a propor. Nas ópticas, muitas vezes, há muita informação e produto que é entregue ao cliente e o cliente não consegue ver uma letra transparente. O cliente não sabe ver se esta lente é 1.5 ou 1.6, se é grossa ou mais fina, se tem tratamento A ou B. E há quem esteja a vender óculos falsificados. Temos a noção que estamos no mercado de forma séria, estabelecemos acordos com as principais marcas mundiais desde os preços mais baixos aos mais altos. Temos acordos com eles directamente e até com produtos de luxo. Somos representantes exclusivos para Angola, por exemplo, da Zeiss que é a melhor marca alemã de lentes. O cliente compra quase a metade do preço do que custa em Portugal e pode trazer a mesma referência do cartão. Entre 2009 a 2010, todo o mundo vendia pelo dobro ou triplo do que se vendia lá fora. Sempre tivemos a estratégia de vender ao mesmo preço do que se vende lá fora e esse é um dos factores do nosso sucesso. 

Como é que têm contornado a inflação?

Devido à inflação e a desvalorização da moeda, não aumentámos ainda os preços. O nosso trabalho não é só ganhar, temos de perceber que muita gente perdeu poder de compra e as pessoas não conseguem resolver os seus problemas de saúde. Estamos a aguentar com os preços baixos. A nossa fábrica de lentes vai ajudar a suster esta necessidade que tínhamos de aumentar os preços. O preço de Janeiro de 2023 é o mesmo do Janeiro de 2024, não mudou nenhum kwanza, estamos a vender em câmbio de 550 e hoje está quase mil, ou seja, estamos aguentar por conta da fábrica.

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