Cobalt “nas mãos” da Sonangol
PETRÓLEO. ‘Salvação’ da empresa norte-americana pode estar nas mãos da Sonangol, caso a petrolífera pública concretize a compra da participação da Cobalt nos blocos 21/09 e 20/09
A petrolífera Cobalt espera que a Sonangol avance com o pagamento dos cerca de mil milhões de dólares para a transferência dos 40% que a empresa norte-americana detém nos blocos 21/09 e 20/29, a favor da petrolífera pública.
A Sonangol concordou, no ano passado, em pagar 1,75 mil milhões de dólares à Cobalt Internacional Energy, pelo total da participação desta empresa nos dois blocos e a nova administração da empresa angolana já terá reafirmado “intenção total” de fechar o negócio. Observadores receiam, no entanto, que o acordo possa estar comprometido agora, sobretudo, após a última indicação da petrolífera pública que anunciou a suspensão do processo de venda de activos, além das últimas declarações de José Eduardo dos Santos que apontaram para a interrupção das transferêcias de receitas da Sonangol para as contas do Tesouro, há vários meses.
Caso a compra não se concretize, a Cobalt será obrigada a devolver os 250 milhões de dólares avançados pela Sonangol, no acto de assinatura do acordo,o que pode agravar significativamente a situação financeira, já apertada, da empresa norte-americana.
Importantes reservas de crude foram encontradas pela Cobalt nos dois blocos e o montante acordado cobriria os investimentos realizados, incluindo alguns gastos nos últimos anos. Segundo os termos do contrato-promessa, a Cobalt continuaria como operadora de ambos os blocos por um período transitório, mas a Sonangol assumiria todos os custos decorrentes. O Governo angolano ficou assim de ratificar o acordo, por mero formalismo, uma vez que o negócio estava garantido.
As regras estabelecidas do sector petrolífero nacional ditam que a Sonangol tem direito de preferência sobre quaisquer transacções de participações de que uma petrolífera queira dispor. Conhecedores do dossier, baseando-se no ‘modus operandi’ da gigante angolana, aventaram que a Sonangol pretendia comprar a participação da Cobalt e revender a terceiros, gerando lucros no processo. Acontece que estalou a crise no sector, com a queda de preços, e, por conseguinte, a redução de apetite para novos investimentos na indústria. Revelações de uma alegada ‘falência técnica’ na petrolífera nacional enviaram sinais preocupantes aos intervenientes no sector, principalmente aqueles que aguardavam pelo pagamento de dívidas ou pelo cumprimento de contratos financeiros. A ansiedade dos investidores viria a agravar-se com a aprovação da reestruturação da Sonangol, em que a petrolífera pública ficaria focalizada no papel de concessionária. As mudanças tiveram impacto na desvalorização da Cobalt, com as acções a tombarem 13% em Maio passado, o nível mais baixo atingido desde o Fevereiro.
COBALT EM MAUS LENÇÓIS
Se, até ao próximo mês, a Sonangol não pagar os valores em falta, a Cobalt terá de devolver os 250 milhões de dólares adiantados, apesar de ser uma situação que não agrada à empresa norte-americana, tendo em conta a aflição financeira em que encontra.
De acordo com projecções financeiras, se tiver de devolver o dinheiro à Sonangol, a empresa ficará apenas com 750 milhões de dólares nos seus cofres, sendo que as despesas para este ano estão fixadas em 450 milhões de dólares. Em 2017, terá mais de 75 milhões de juros para o serviço da sua própria dívida e outros 220 milhões em forma de compromissos de plataforma. “Sem essa transacção ou qualquer outra alteração das circunstâncias, eles provavelmente iriam ficar sem dinheiro no próximo ano”, disse uma fonte internacional familiarizada com o assunto.
Para “piorar”, a Cobalt tem 2,6 mil milhões em dívida com cerca de metade a vencer em 2019.
Se a Sonangol não concretizar a compra, a empresa norte-americana também não terá condições de operar os blocos ou outros projectos que detém que “exigem investimentos adicionais.”
Em condições adversas do mercado, no passado, a Sonangol exigiu a renegociação de contratos, tal como o fez o antigo PCA, Francisco de Lemos, e espera-se que Isabel dos Santos venha a fazer o mesmo. “Na essência, a Cobalt é um vendedor forçado, com o poder de negociação limitado”, considerou a fonte.
Assim a salvação de uma empresa norte-americana poderá estar a depender de uma empresa angolana. Mateus Cristóvão, porta-voz da Sonangol ,não respondeu ao mail do VE, que solicitava esclarecimentos.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...