Corrupção sim, impunidade não(?)

07 Mar. 2025 Suely de Melo Opinião

Enquanto uma imponência de cimento e vidro surgia, uma nova infra-estrutura para acomodar o ‘kwanza burro’, mais de duas mil escolas eram encerradas, muitas das quais sem como nem porquê. Afinal o que é mais importante? O sustento da mente das futuras gerações ou os aplausos de um governo que prioriza o glamour e gaba-se de ter a mais moderna infra-estrutura do género em África, para armazenar o dinheiro que não chega ao povo? A resposta está dada. Então não se preocupem, crianças, temos diversos edifícios grandiosos para abrigar a economia de um país que se esqueceu (ou talvez nunca tenha sabido) do que é educar. 

Corrupção sim, impunidade não(?)

Mas a inauguração da Casa do Kwanza, além de servir para mais uma vez deixar claro quais as prioridades da governação, serviu igualmente para carimbar a vitória da corrupção. Depois de oito longos anos da mesma ladainha, João Lourenço esclareceu que nunca prometeu a ninguém que acabaria com a corrupção. Problema de quem tentou colocar esse peso nas costas do Presidente. O seu discurso não fugiu à regra. Só não foi mais confuso do que contraditório. Segundo o próprio, a corrupção, apesar de nunca acabar, só é combatida com a devida determinação. Então, em oito anos, onde esteve esse simples ingrediente que, em vez de reduzir a corrupção, a viu multiplicar-se com a mesma naturalidade com que brotam as flores na primavera? Mas o PR não se ficou por aí, brindou-nos com a sabedoria do óbvio: quem segue o caminho do ilícito não pode ficar impune. Brilhante! Ter-se-á é esquecido que os corruptos não só se reproduziram, como a maior parte deles encontraram refúgio acolhedor sob as suas ‘saias’. Desnecessário seria enumerá-los. Todo o mundo os conhece. Não, senhor Presidente, ninguém mais se contenta com o ‘peixe pequeno’ que serve de carne para canhão, enquanto os veteranos do crime continuam a ostentar e a ‘nos rir na cara’, quais iludidos que tiveram a ingenuidade de acreditar nas promessas de mudança. 

E o que também não muda nunca é o ‘modus operandi’ do maioritário. O partido que se arroga de ser democrático e a voz da razão e da liberdade (não que alguém acredite), decidiu castigar o seu militante que com ousadia rompeu com o discurso ensaiado e decidiu soltar algumas verdades. E, como se isso não bastasse, ainda teve a petulância de anunciar a intenção de candidatar-se à presidência do partido. Ah, a audácia! Valdir Cónego foi chamado pelo partido e agora, como se de uma esquadra se tratasse, vai ter de se explicar! O militante que escorregou para fora do script preparado passou de "nobre defensor da democracia" a "herege que deve ser punido". Enquanto isso, o peixe graúdo, talvez impulsionado pela declaração de sua excelência de que iria cumprir com o que dita a Constituição, continuou a dar cartadas sobre o que pretende para Angola, enquanto candidato a PR. Num faz que vai, mas não vai, sobe e desce do muro, Higino Carneiro sempre evitou falar de viva voz se vai ou não se candidatar, não vá ele também ser suspenso de qualquer coisa. Mas está um passo à frente e já até tem manifesto eleitoral, o que não deixa dúvidas. Parece que o importante é não falar. Escrever pode! E a tal oposição em quem muitos depositam esperança também parece não estar lá essas coisas. Se, por um lado, há quem pense que Adalberto Costa Júnior é o nome e o rosto da alternância, ao que tudo indica dentro do partido não haverá o mesmo entendimento. Mas, nos países normais, isso é que é democracia. Que haja vários concorrentes, que façam a luta política e dentro do ‘fairplay’, que vença o melhor. A maka é que, tal como no MPLA, também na Unita tem de se esperar o apito do árbitro para a simples manifestação de vontade. Pelo menos, foi como justificou Rafael Savimbi para as esquivas que deu ao ser questionado sobre a sua pretensão, ou não, de candidatar-se à liderança dos maninhos. Na FPU, o barco também parece estar a virar e há um aparente azedume nas relações entre a Unita e o Pra-já. Enquanto Abel Chivukuvuku e seus seguidores esperavam uma espécie de congelamento dos mandatos na Assembleia Nacional, o grupo parlamentar da Unita apressou-se e requereu a perda total dos seus mandatos. Um reboliço e o disse-me-disse levaram o líder do Grupo Parlamentar da Unita ter de se explicar em conferência de imprensa. Ainda assim, as opiniões em volta do assunto continuam díspares. Afinal quem é o chico-esperto da história? Vai a FPU chegar a 2027 ou o barco já embateu contra um iceberg?


*Crónica do programa ‘Dias Andados’, referente ao dia 28 de Fevereiro de 2025