BNA APONTA CRESCIMENTO DE 2,10% EM JULHO

Crédito à economia avança, mas “não chega” aos empresários

CRÉDITO. Comité de política Monetária do BNA concluiu que, no mês de Julho, houve crescimento de 2,10% no crédito total cedido a vários sectores da economia. Grupos empresariais negam e dizem que dados do banco central “incluem apenas as grandes empresas” sedeadas em Luanda.

Os últimos dados sobre a evolução monetária e financeira revelam que, em Julho, houve um avanço no crédito à economia de 2,10% e de 4,28% para o crédito bruto destinado ao Governo Central. As estatísticas são do Banco Nacional de Angola (BNA) e contrastam com a realidade relatada por vários grupos empresariais angolanos, ouvidos pelo VALOR.

De acordo com os gestores de duas médias empresas, a classificação do crédito à economia pelo banco central “exclui, muitas vezes, os pequenos e médios investidores”, pelo que questionam a “fiabilidade e profundidade” dos dados oficiais sobre o crescimento do crédito.

O BNA não quantifica, em termos reais, no último relatório de Julho, quanto de crédito os bancos cederam às empresas e a particulares, nem apresenta a variação homóloga do crédito disponibilizado, situação que, ao dono da Monteiro Real – engenharia e construções – levanta várias interrogações sobre o destino do crédito cedido.

“O que é que o Banco Nacional de Angola considera de ‘crescimento de 2,10% do crédito à economia nacional?’. Se for para manter o modelo de financiamento, privilegiando grandes projectos, vamos ter os mesmos problemas: crescem as estatísticas, mas, em termos reais, não temos absolutamente nada”, apontou José Venâncio, sócio gerente do grupo Monteiro Real. Se no relatório do Comité de Política Monetária do BNA não são avançados números sobre o total de crédito cedido à iniciativa privada, os dados das estatísticas monetárias revelam que, de Janeiro a Junho, foram disponibilizados 24.344 milhões de kwanzas de empréstimos ao sector privado.

O crédito cedido a privados, no primeiro semestre deste ano, corresponde a mais da metade do total de crédito acumulado dos últimos três anos, desde 2013, com um desbloqueio a atingir os 12.090 milhões de kwanzas.

Ainda assim, José Venâncio insiste que os empréstimos não chegam às pequenas e médias empresas, defendendo que as políticas de concessão de crédito “devem olhar para essas empresas, principalmente para aquelas que estão no interior do país e não para as que que estão sediadas no litoral”, como os casos de Luanda, Benguela, Lobito e Namibe.

As estatísticas monetárias do BNA não explicam a evolução significativa do crédito no primeiro semestre deste ano, comparativamente ao total dos últimos três anos, mas o ‘chairman’ da Tradinter, empresa do sector de óleo e gás, Braulio de Brito, justifica com o facto de “ter havido mais saídas para crédito devido à necessidade de recursos das empresas nacionais”.

“Esta é uma situação que se explica com a actual situação económica, resultante de uma situação macroeconómica débil. Temos de fazer os ajustes de modo a que não dependamos desses mecanismos para podermos sobreviver”, sugere o empresário Braulio de Brito.

LINHA DE CRÉDITO É A SAÍDA

O presidente da Tradinter defende ainda que “não é comum as empresas do sub-sector da prestação de serviço a indústria petrolífera fazerem recursos regulares à banca”, para financiamento de projectos de investimento, mas, face ao actual contexto, aconselha “a abertura de linhas de crédito, redefinição de negócios e a diversificação de fontes de receitas”.

“Temos é de perceber que a situação económica actual vai sempre criar algumas restrições por parte do banco em termos de facilidade desse tipo de empréstimos. Entendemos que é uma fase temporária”, encoraja Braulio de Brito, também líder da Associação das Empresas Prestadoras de Serviços à Industria Petrolífera (AECIPA).

TURISMO DEFENDE MAIS CRÉDITO

Outro gestor que vê no crédito a saída para o fomento do investimento privado é o líder do Instituto de Fomento Turístico (INFOTUR), Eugénio Clemente. Segundo Clemente, uma economia forte, em que se estimule a empregabilidade, deve ter empresas com fortes apoios financeiros das entidades bancárias.