Crise financeira trava cinco programas agrícolas no Namibe
AGRICULTURA. O orçamento ao sector agrícola do Namibe é de 88.435.912,40 kwanzas, tendo sido já executado na ordem dos 17%. No entanto, o valor não chega para implementar cinco dos principais programas do sector aprovados pelo governo provincial.
António Miguel P elo menos, cinco programas do governo do Namibe, ligados à agricultura na província, aprovados para este ano, não vão ser implementados por força da crise financeira. Trata-se dos programas de ‘Combate à Desertificação’, ‘Fomento de Culturas de Vinha e Olival’, ‘Fomento de Cereais e Tubérculos’, ‘Construção de Sistemas de Abeberamento de Gado’ e ‘Vacinação do Gado’.
Apesar de se mostrar preocupado com a situação, o director provincial da agricultura, Gabriel Félix, preferiu não pormenorizar a questão e não precisou, por exemplo, o custo global dos projectos nem a previsão de efectivação para o próximo ano. Este ano a agricultura do Namibe beneficia de um orçamento público na ordem dos 88.435.912, 40 kwanzas, valor equivalente a menos de 600 mil dólares. Até Junho, foram executados 15,8 milhões de kwanzas, o que corresponde a 17, 87% do montante disponível.
Mas nem tudo a crise travou. O ‘Lavras Familiares’, por exemplo, é um dos projectos agrícolas que resiste à tempestade da crise. Este programa, que o governo da província desenvolve desde 2013, tem como objectivo incentivar a agricultura familiar nas áreas rurais. Dado o sucesso, explicou Gabriel Félix, o ‘Lavra Familiar’ evoluiu para Programa de Apoio Directo à Produção Camponesa, tendo sido construídos 15 polos de desenvolvimento agrícola nos cinco municípios (Namibe, Bibala, Tómbwa, Virei e Camucuio). Actualmente, 3.381 famílias estão inseridas neste programa, que, além de sementes e instrumentos de cultivos, dá formação a camponeses.
Na província do deserto, a água é rara, tendo em conta a quase inexistência de rios. Para a irrigação dos campos tem de recorrer-se frequentemente a furos de água a partir dos subsolos. Orçado em mil milhões de kwanzas, o programa do governo do Namibe deverá ser concluído no próximo ano. “O projecto vai a bom ritmo, até porque estamos a conseguir desenvolver com normalidade o programa do governo de combate à fome e a pobreza”, regozija-se o director da agricultura do Namibe.
A agricultura familiar representa na província mais de 60% da produção agrícola e alimenta, de acordo com o director Gabriel Félix, essencialmente a população urbana. “A agricultura empresarial está meio paralisada”, afirmou, apontando que a campanha agrícola 2014/2015 registou uma produção de mais de 58 toneladas de produtos diversos com realce para as hortícolas com mais de 75%. A produção de tomate destacou-se com mais de 50% da produção geral.
As chuvas, de acordo com o interlocutor, em Janeiro, Fevereiro e Março foram intensivas, tendo provocado, por esta altura, prejuízos para os camponeses. O governo do Namibe disponibilizou 20 carrinhas, da marca Mitsubishi Canter, para apoiar os camponeses, no que toca ao escoamento de produtos para fora da província.
Há pelo menos três anos que não se faz sentir o crédito agrícola por aquelas paragens. O último financiamento bancário aconteceu entre 2010 e 2011, tendo sido beneficiadas 19 cooperativas, nos municípios do Namibe, Bibala e Tómbwa, que se encontram ainda em fase de reembolso. Os bancos públicos BPC e BCI são os dois únicos que estão envolvidos neste projecto. Gabriel Félix não avançou o valor total do crédito recebido pelos agricultores nem comentou as razões da paralisação do financiamento.
FÁBRICA SEM TOMATE
Apesar de o Namibe produzir anualmente mais de 40 mil toneladas de tomate, a fábrica de transformação de tomate, situada naquela província, “não arranca por falta deste produto do campo, que é a principal matéria-prima da empresa”. Já vários testes foram realizados e o último deverá acontecer em Setembro, mas a data do arranque efectivo ainda é desconhecida.
O que se passa de facto, segundo o director provincial da agricultura, é que os responsáveis da unidade fabril consideram exorbitantes os preços do tomate. Em Abril, quando uma caixa de tomate estava a ser comercializada entre 17 e 19 mil kwanzas, o responsável da fábrica, Vicente Monder Jar, além de considerar os ‘preços altos’, reclamou da pouca quantidade disponível no mercado, tendo ainda afirmado que deveriam esperar até que os preços baixassem para poderem adquirir a matéria-prima.
A unidade industrial custou ao Estado 600 milhões de kwanzas e prevê, inicialmente, produzir concentrado de massa tomate enlatado, em pacote e em bidões de 50 litros. A empresa, que vai empregar 18 trabalhadores, pretende ainda produzir sumos e doces de tomate.
JLo do lado errado da história