FOLORUNSHO ALAKIJA

Da moda ao petróleo e ao 84.º lugar mais influente do mundo

15 Dec. 2020 Valor Económico Gestão

FORTUNAS. Empresária nigeriana conta mais de mil milhões de dólares. Começou como secretária, investiu numa empresa de moda que a tornou numa celebridade e lhe deu contactos preciosos. Daí investiu no petróleo.

Da moda ao petróleo  e ao 84.º lugar  mais influente do mundo
D.R

Folorunsho Alakija, hoje com 69 anos, é a 20.ª pessoa mais rica de África e segunda mulher mais rica atrás de Isabel dos Santos (que, entretanto, já perdeu terreno), Começou a carreira nos anos 1970 como secretária no Banco Internacional Merchant, onde trabalhou durante 12 anos. Aí subiu até ser responsável da Corporate Affairs e gestora do departamento do Tesouro Financeiro da instituição. No entanto, Folorunsho Alakija sentia que o famoso ‘tecto de vidro’ (que barra promoções a mulheres a lugares de topo um pouco por todo o mundo) a impedia de subir muito mais e abandonou a instituição para criar a própria marca, depois de estudar moda no Reino Unido.

Lançou a SupremeStitches em 1985 e tornou a marca numa referência internacional com clientes Premium, que incluíam a primeira-dama nigeriana e amigas na indústria petrolífera internacional. Depois, investiu na impressão e expandiu o negócio de 30 para mais de 100 funcionários rapidamente.

Com um olho para o negócio e uma resiliência que se tornou a chave para a fortuna, insistiu com o Ministério dos Petróleos do maior produtor de petróleo de África durante mais de três anos para prestar serviços, desde 'catering' à consultoria e tudo foi recusado até que o próprio ministro sugeriu que tentasse obter uma licença de exploração de petróleo porque o governo estava a tentar colocar a exploração nas mãos de nacionais. Alakija, que tinha visto recusada também uma licença para transporte de petróleo, julgou que o ministro, que a recebera a custo e por pressão da amiga e cliente primeira-dama, estaria a fazer pouco do seu tempo, no entanto, decidiu submeter um pedido de concessão depois de estudar o negócio e as possibilidades de parcerias.

Saiu o ministro, o governo, entrou outro e depois outro enquanto a sua aplicação para licença andava em análise. Quando finalmente, muitos contactos mais tarde, saiu a aprovação foi para “o bloco que ninguém queria”, contou a empresária numa entrevista à CNN, offshore a mais de cinco mil pés de profundidade, para o qual ninguém tinha tecnologia na altura para explorar e cujo investimento era o mais elevado.

A primeira batalha estava ganha, mas a guerra estaria só a começar. Para manter a licença da petrolífera FamfaOil, Folorunsho Alakija foi investindo as poupanças e munindo-se de parceiros conseguidos através das amizades firmadas também no mundo da moda ao longo de anos de trabalho. Mais tarde, abriram-se portas, como a da americana Texaco que, depois, mudou o nome para Chevron e que tomou 40% do bloco, depois a brasileira Petrobras, especialista em offshore em profundidade. Passaram-se 15 anos até que o bloco se tornasse rentável, trazendo uma batalha judicial com o governo que depois de se dar conta da dimensão da descoberta (mais de 250 mil barris/dia) no que pensava ser um bloco improvável, decidiu tomar 40% do share do bloco, e depois mais 10% com o argumento de que se mantivesse o bloco a empresária ganharia 10 milhões de USD dia sem benefício para o país.  Alakija, contra todos os conselhos fez frente à pretensão e levou o governo nigeriano a tribunal porque “assumiu o risco e investiu as poupanças e não ia perder os benefícios do investimento porque o governo havia mudado de ideias depois".  Doze anos mais tarde, ganhou a acção e, em 2014, entrou para a lista das 100 mulheres mais poderosas do mundo no 96.º lugar.

DEDICADA A VIÚVAS E ÓRFÃOS

Nascida em 1951, em Lagos, o pai é muçulmano com oito mulheres e 52 filhos com a mãe negociante em têxteis, Folorunsho Alakija aprendeu cedo a ser tenaz e a ter gosto pelos negócios. “Ajudávamos a minha mãe na loja e foi aí que aprendi sobre os têxteis”, antes de ir estudar para a Inglaterra. Religiosa, Alakija atribui o sucesso a um pacto com Deus que a levou a trocar o nome da marca e a fundar a fundação Rose Sharon dedicada a viúvas e órfãos.