Desemprego leva jovens a abrirem pequenas casas de beleza
PEQUENOS NEGÓCIOS. Níveis de facturação no ramo deixaram de ser tão atractivos quanto os anteriores à pandemia, mas negócio informal da beleza continua a ser uma alternativa às limitações de ofertas de trabalho.
Diz o ditado que ‘a necessidade aguça o engenho’. E, com os níveis de desemprego a situarem-se em quase um terço da população economicamente activa, segundo estatísticas oficiais, muitos jovens decidiram interpretar o provérbio à letra. O resultado é que segmentos de pequenos negócios que vinham sendo dominados por cidadãos estrangeiros, no ramo da beleza, passaram a ter o concurso de jovens angolanos. É o caso das casas de manicure e pedicure que se multiplicam de forma exponencial pelas zonas urbanas e periféricas de Luanda.
O ingresso na actividade, até recentemente dominada por chineses, é feito principalmente por jovens dos 20 aos 32 anos, provenientes do Sul do país e da vizinha República Democrática do Congo. A estes juntam-se umas centenas que exerciam o ofício de forma ambulante. No entanto, apesar de muitos estarem a optar por instalar-se em pequenos recintos, continuam a actuar na informalidade, além de que raramente são bancarizados. Mas têm uma justificação: a falta de informações sobre os requisitos para se verem incluídos no sistema bancário. Enquanto isso, em Viana, Palanca e Samba, todas localidades de Luanda, é notável a concorrência existente entre os pequenos empreendedores que também se instalam em salões de beleza, recintos de venda de bebida, comida e outros.
Marivaldo Manuel, 25 anos, há três meses decidiu abrir o seu pequeno estabelecimento de manicure e pédicure num pequeno espaço na residência em que habita, depois de “aturadas tentativas” de conseguir um emprego. O jovem teve de vender o seu smartphone a 20 mil kwanzas para dar os primeiros passos. Técnico médio de Ciências Biológicas, Marivaldo Manuel declara que chega a facturar diariamente entre 10 mil e 15 mil kwanzas, estes máximos sobretudo aos fins-de-semana. “Desde os 18 anos procurei por emprego, nunca fui admitido em nenhuma empresa que tenha batido à porta. Nos últimos tempos, a tendência de muitas empresas tem sido despedir ou decretar falência devido à crise, então decidi inverter os meus sonhos. Agora não penso em trabalhar para ninguém, quero ter a minha empresa”, confessa Marivaldo, que planeia já a abertura de um novo espaço, numa área diferente.
À semelhança de Manuel, Benvindo André, com um ano de operação, explica que encontrou, no pequeno negócio, uma fonte de sustento e de escapatória às estatísticas elevadas de desempregados. E embora tenha registado quebras acima dos 50% na facturação que, por conta da pandemia, recuou dos entre 20 mil e 25 mil para os 10 mil kwanzas, considera ser um “ofício rentável”.
INOVAÇÃO IMPÕE-SE
Para quem está há algum tempo na actividade, o momento é de procurar inovar no sentido de manter o negócio. Esperança Manuel, 24 anos, finalizou, em 2015, o ensino médio e também se empregou no ramo da beleza há dois anos, após três de luta pelo primeiro emprego. Para a jovem, actualmente, a concorrência é maior. “Nesta fase, estamos a remediar para que o negócio não feche, porque tenho agora muitos colegas e a pandemia reduziu o número de clientes. Tenho apostado em anúncios nas redes sociais e promoção para aumentar o meu leque de clientes residentes”, explica.
Com uma média diária de quatro clientes, que valem 7 mil kwanzas contra os 28 mil diários anteriores à pandemia, Esperança Manuel viu-se forçada a reduzir o salário de 18 mil das duas colaboradoras e agora paga de acordo com a produção. Ainda assim, pretende, no próximo ano, estender o negócio para outra localidade da capital.
Se vários se lançam na actividade sem qualquer formação na área, Djamila dos Santos exerce com conhecimento técnico. A jovem jurista cursou há 11 anos, mas, diante das dificuldades, decidiu colocar outros ensinamentos em prática. “Com o desemprego, as pessoas têm de fazer cursos, depois abrir negócio e procurar maximizar. O emprego é difícil, quando encontramos, não demora, somos despedidos, então, por isso, sempre gostei de trabalhar por conta própria”, explica. A jovem também declara uma facturação diária muito abaixo dos 30 mil kwanzas do passado, fixando-a actualmente nos 10 mil kwanzas por dia.
Segundo apurado, a maior parte dos operadores, geralmente, compra os produtos nos mercados do Kikolo e pela internet.
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