ÚLTIMO CORRESPONDENTE BANCÁRIO DE DÓLAR

Deutsche Bank abandona Angola

CORRESPONDENTES. Fundo Monetário Internacional já havia antecipado, em relatório, impacto da retirada do banco alemão no país.

O Deutsche Bank cessou o vínculo que tinha como correspondente bancário da moeda norte-americana entre o dia 16 e antes do final de Novembro passado, deixando o país sem a possibilidade de realização de transferências em dólares.

A notícia foi ‘espoletada’ pelo banco sul-africano Standard Bank num documento submetido ao Tribunal Supremo de Pretória, em que apontava Angola como “um exemplo dos perigos que representa para um país quando este é visto como existindo o risco de violar as leis contra a lavagem de dinheiro”, de acordo com a agência financeira Bloomberg.

As operações do Standard Bank em Angola estão a ser afectadas pela escassez de dólar, antevendo-se uma deterioração agora que “o único banco Europeu que tem vindo a prestar o serviçoo se retirou do país”, disse o Standard Bank, citado pela Bloomberg.

A Bloomberg identifica depois o banco alemão como o correspondente dos bancos BFA e BAI. O VALOR sabe que a agência da Deutsche Bank no estado norte-americano de New Jersey era correspondente de dólar do BFA. Fontes cruzadas do jornal confirmam a retirada do DB.

“Sim, o Deutsche Bank retirou-se circuito de bancos correspondentes”, disse uma fonte junto das representações das instituições de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial) em Luanda.

“Sim, saiu no mês passado”, confirmou outra fonte ligada a um banco internacional no país, acrescentando que “ninguém” está agora a prestar o trabalho de correspondência de dólar.

O governador do Banco Nacional de Angola, Valter Filipe, recusou-se a falar à imprensa quando abordado na Assembleia Nacional no dia 12 do corrente mês. Várias tentativas de contacto com o seu gabinete de comunicação institucional foram ignoradas.

O FMI, já em Junho, alertara que o custo “Doing Business” (realizar negócios) em Angola aumentou e a perda de correspondentes bancários poderia enfraquecer ainda mais o sistema financeiro, que já luta com a queda dos preços de petróleo.

FALTA DE CONFIANÇA

Primeiro os bancos que forneciam os dólares físicos: Citi Bank, HBSC, Bank of America/FirstRand e Standard Chartered começaram a abandonar o país, porque os custos de fazer negócios, acrescidos à opacidade do mercado e percepção de corrupção, mais a “omnipresença” de Pessoas Politicamente Expostas no sistema financeiro, se foram tornando cada vez mais onerosos paras as instituições internacionais. Estas respondem à Reserva Federal Americana (FED) que aplica multas pesadas a instituições que não cumpram as regras de ‘compliance’ ou que se relacionem com quem não as cumpre.

O BNA, assegurou, entretanto, que apenas o dólar físico não estaria disponível, sendo que as transferências ainda poderiam ser feitas. Agora mesmo essa possibilidade deixa de existir. O impacto que a retirada do banco alemão poderia representar consta no alerta do FMI.

Impedida de movimentar divisas directamente com os EUA, Angola passou a fazê-lo através de correspondentes europeus, muitos, na realidade,filiais de bancos angolanos, como o BIC Portugal, BAI Europa, Atlântico Europa e, BPI, no qual o BFA detém acções. No entanto, sempre que esses agentes pretendem transacionar em dólar, têm de fazê-lo “inevitavelmente” por meio de um banco norte-americano.

Há já vários meses que os bancos europeus que prestavam o serviço de correspondentes em dólar (os norte-americanos já se retiraram há mais tempo) foram notificando os seus congéneres portugueses, sul-africanos, angolanos que o serviço seria descontinuado, conforme reportou o VE em Abril.

Uma fonte da Associação dos Bancos Angolanos, que não confirmou a retirada do DB, relacionou o facto com o recente périplo de Valter Filipe a Londres, Washington e Roma.