ZUNGUEIRA

Diamantes: o aviso que Angola não pode ignorar

O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino de Azevedo, num concorrido matabicho com jornalistas e fazedores de opinião, voltou a alertar para a crescente dificuldade que Angola e outros produtores enfrentam na venda de diamantes naturais, face ao avanço implacável dos diamantes sintéticos. Estas palavras não devem ser lidas como aviso técnico ou curiosidade de mercado.

Diamantes: o aviso que Angola não pode ignorar

São um sinal político claro de que o modelo assente na exportação de diamante bruto está a chegar ao limite.

O avanço tecnológico dos sintéticos está a reconfigurar um sector que, durante décadas, sustentou mais expectativas do que receitas compatíveis com o potencial de Angola. Hoje, o país exporta cerca de 1,5 mil milhões de dólares em diamantes brutos, mas a trajectória global mostra que este número dificilmente crescerá — e pode mesmo diminuir. Ignorar esta tendência é repetir, ponto por ponto, o erro estratégico cometido com o petróleo.

Durante anos, Angola exportou crude e importou refinados, adiando decisões estruturais enquanto o mundo avançava para alternativas energéticas. Quando finalmente se decidiu apostar nas refinarias, já pairavam dúvidas sobre a viabilidade do negócio — não apenas pela ascensão dos carros eléctricos, mas também pela incerteza sobre a capacidade do país em garantir abastecimento consistente de petróleo bruto às próprias refinarias.

Com os diamantes, ainda é possível agir enquanto o jogo não está perdido.
A solução não passa por proteger o velho modelo de exportação de bruto, mas sim por reposicionar Angola na cadeia de valor: lapidar, certificar, criar design, montar joalharia, desenvolver marcas próprias e transformar o país numa referência mundial de diamantes naturais certificados, justamente quando o sintético banaliza o mercado.

Os números oficiais indicam o surgimento de oito fábricas de lapidação entre 2019 e 2024. É positivo, mas insuficiente. O apelo deve ir muito além dos projectos movidos por apadrinhamento político.

Trata-se de colocar Angola no mapa internacional do luxo — não apenas produzir, mas competir ao lado das grandes capitais da joalharia.

O país reúne condições raras: matéria-prima valorizada, posição geográfica estratégica e um nome que, no mercado global, ainda simboliza autenticidade. O segmento do luxo, sobretudo na Europa e no Médio Oriente, começa a tratar o diamante natural como peça de prestígio, quase coleccionável. Há espaço para Angola, mas não eterno.

Os obstáculos são conhecidos: ambiente de negócios imprevisível; falta de incentivos reais à indústria transformadora; fraca articulação entre sector público e privado; ausência de estratégia nacional de marca; e o receio crónico de “perder controlo” sobre o sector. Enquanto isso, países que não produzem um único quilate exportam joalharia com diamantes angolanos multiplicando por dez o valor inicial.

Se Angola não subir agora na cadeia de valor, arrisca-se a reviver nos diamantes o que já vive no petróleo: receitas em queda, oportunidades desperdiçadas e decisões sempre fora de tempo.
O aviso está dado. O perigo é dominado por quem detém o poder pelo que o atraso, amanhã, já não terá desculpa.