Dois dias revelaram-se insuficientes
REPORTAGEM. Em três dias de levantamento da cerca sanitária, as duas transportadoras levaram para diversos pontos do país mais de 12 mil passageiros, numa operação que as empresas classificaram como sendo de solidariedade, face aos prejuízos em que incorreram.
Milhares de pessoas retidas em Luanda, por força da cerca sanitária provincial imposta pelo estado de emergência, acorreram, nas primeiras horas de sábado, 11.04, aos terminais das empresas de transporte colectivo, na tentativa de adquirirem bilhetes de passagem para o regresso às respectivas províncias. Nos terminais da pública Tcul e da privada Macon, as enchentes suplantaram a capacidade das transportadoras, ques se viram obrigadas a solicitar o auxílio da Polícia para acalmar os ânimos.
A Macon, por exemplo, abriu somente o terminal do Gamek, onde, no primeiro dia do levantamento da cerca sanitária, perto de seis mil passageiros, ávidos de regressar a casa, tentavam a sua sorte em troca de empurrões e, em muitos casos, agressões que se arrastavam até à via pública, para adquirirem os bilhetes.
Armando Macedo, coordenador comercial da Macon, justificou a abertura de um único posto de atendimento em obediência às recomendações do Ministério da Saúde, que só podem ser observadas no terminal da Gamek, erguido com padrões internacionais. Macedo reconhe, no entanto, ter sido “impossível garantir o regresso de todos em dois dias”, prorrogados tardiamente para três pelo Presidente da Rrepública.
No primeiro dia, a transportadora abriu as rotas das 17 províncias a partir de Luanda com cerca de 200 autocarros. Mas, tendo em conta o curto prazo e a procura, no domingo e na segunda-feira teve de cancelar as viagens para as percursos mais longos, como Lubango (Huila) e Ondjiva (Cunene), deixando as centenas de passageiros que pernoitaram no terminal descontentes. A Macon justificou a opção pelas províncias mais próximas de Luanda, como Benguela e Kwanza-Sul, com os receiso de que os motoristas pudesse ficar retidos nas localidades mais distanciadas da capital.
Em três dias de operação, a empresa transportou 7.531 passageiros para vários pontos do país, números que não se traduzem em ganhos, já que representam apenas um terço da capacidade dos autocarros. Armando Macedo considera, por isso, as viagens do último sábado, domingo e segunda-feira “uma acção social” da empresa que antecipa dias difíceis para os mais de três mil funcionários. “O nosso atendimento não foi voltado pelo facturamento, foi pelo apoio ao público que precisava regressar às suas localidades, foi um serviço mais social. Estamos a falar de redução de 25 lugares para um autocarro com capacidade de 50, não existe ganho nenhum. Vamos ter prejuízos, infelizmente não temos muita coisa a fazer,” lamenta, recordando que não houve alterações nas tarifas.
Já a transportadora pública TCUL pôs à disposição dos passageiros 36 autocarros em três rotas, nomeadamente Uíge, Malanje e Huambo, tendo vendido bilhetes em dois terminais que atenderam, nos três dias de abertura da cerca sanitária, 4.632 passageiros. Entretanto, algumas pessoas acabaram por não seguir viagem, devido à prorrogação tardia do encerramento das fronteiras provinciais, razão pela qual, na segunda-feira, 13.04, viajaram apenas 36 passageiros ao Huambo e 10 a Malanje.
Para dar resposta à procura, segundo Amélia Escórcio, responsável do gabinete de comunicação institucional da TCUL, a empresa teve de recorrer à frota reservada ao aluguer, visto que, nesta altura, está com défice de meios. Amélia Escórcio também considera a acção como de carácter social, pelos momentos que o país e o mundo vivem com a covid-19, admitindo “enormes prejuízos” para empresa que já se debate há algum tempo com problemas financeiros.
Ainda assim, a responsável afirma estarem garantidos os salários do mês de Abril aos 1.700 funcionários, ao mesmo tempo que prevê o agravamento das dificuldades. “Se o Governo não ajudar, não sei o que será de nós”, alerta.
Angolanos retidos na Namíbia regressaram
Dentro da excepção do levantamento da cerca sanitária para a vizinha Namíbia, a Macon trouxe ao país, no sábado, 11.04, os passageiros que se encontravam retidos naquele país. Dois autocarros com capacidade de 50 lugares participaram desta operação, tida também como social.
De acordo com Armando Macedo, os perto de 50 passageiros foram deixados em Santa Clara aos cuidados das autoridades sanitárias da província para cumprirem a quarentena institucional.
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