ANGOLA GROWING
VICTOR ALVES, EMPRESÁRIO

“É difícil ser empresário com dívidas, com problemas, mas não estou desanimado”

Diz-se avesso à política por haver “muitas rasteiras” e considera a existência de muitos políticos empresários como um dos maiores desafios do combate à corrupção. Victor Alves critica também a existência de “muitos bancos” e confessa estar a viver a pior fase, enquanto empresário, mas acredita na recuperação.

“É difícil ser empresário com dívidas, com problemas, mas não estou desanimado”
Mário Mujetes

É um empresário com forte presença em Benguela. Como é que os empresários desta província têm estado a conviver com a situação imposta pela pandemia da covid-19?

Todos estamos a viver um momento bastante difícil, não importa se Benguela, Luanda ou Huambo. Estamos a viver um momento, sobretudo, de expectativa. Em Benguela, estamos a seguir as medidas de segurança para evitar que esta pandemia se alastre para a nossa província. Em Luanda, todos sabemos que existem casos, nas outras províncias, não sei se existem, mas o que se sabe é que não.

Até que ponto a cerca sanitária em Luanda impacta nos produtores de Benguela?

Com certeza que se notam dificuldades. É natural devido às limitações no acesso e movimentação. Temos de ter fé em Deus. Já bastam os problemas que atormentam Angola, quanto mais este problema da covid-19 que está a afectar todo o mundo.

Tem ideia do impacto, em termos de números, nas empresas aí da região?

O impacto é muito grande, é uma paralisação total no mundo inteiro. Nós, em Angola, já estávamos a passar por momentos difíceis, esta situação veio piorar imenso, não há dúvidas nenhumas, mas temos de resistir. Em todas as empresas, o volume de vendas reduziu substancialmente. Todas estão a enfrentar o mesmo problema.

Que opinião tem das medidas do Governo para fazer face ao impacto da pandemia. São as necessárias?

Não são as necessárias. Teria de haver mais medidas, mas o Governo toma as medidas dentro das suas possibilidades.

Como se encontra especificamente o sector pesqueiro, um dos mais importantes na província?

Há dois mercados muito complicados. O sal não tem problemas, o escoamento é feito normalmente quando há possibilidade. O peixe não. De uma maneira geral, muito do peixe é pescado por via artesanal que não tem câmara frigorífica, não tem congelação. Esses indivíduos passam por um problema bem maior. Vamos esperar que esta situação não se alastre por muito tempo, porque Angola não vai aguentar. Se os outros países não estão a aguentar, muito menos nós que somos país novo, a programar novas atitudes no campo agro-industrial.

Como avalia a possibilidade de entrada da Zona de Comércio Livre depois da pandemia?

Penso que deveriam parar um bocado este processo. Sabemos que não há um controlo tão grande como há na Europa, na América sobre a pandemia. Por isso, deixar circular as pessoas é deixar alastrar a pandemia.

Pondo de parte a pandemia, acha que os empresários, as empresas e os produtos angolanos estariam preparados para a concorrência?

Não estamos preparados, mas temos um país com grandes potencialidades. Um dos países mais belos do mundo e com capacidade para fornecer a muitos países do mundo. Temos é que desenvolver e aproveitar porque não estamos a aproveitar.

O que tem faltado?

Tem faltado tudo. A guerra destruiu tudo o que Angola tinha. Foi o factor número um da destruição, porque, no tempo colonial, existiam imensas fábricas. Hoje, se passar por estas fábricas, vê esqueletos. Andámos pouco mais de 30 anos em guerra. Agora estamos em paz.

Mas já estamos em paz há 18 anos…

Mas não se recupera a economia de um país a fim de abastecer o mundo todo, porque toda a estrutura que havia foi destruída. Agora tem de se construir uma estrutura nova. Naquela altura, tínhamos seis ou 10 milhões de habitantes, hoje somos mais de 30 milhões e toda a estrutura está destruída. A maior parte das pessoas foge do interior para as cidades. Vivem sem condições e não há país nenhum que possa dar cobertura a esta situação de um momento para o outro. Estamos a tentar reconstruir, mas há outros problemas que surgem em cima deste, que não deixam depois avançar normalmente. Estes problemas já são políticos, que envolvem muitas situações tristes que não cabem a mim estar a comentar. Mas cabe dizer que isso dificulta o desenvolvimento de Angola. E foi o que aconteceu. Parecia que estávamos a navegar num barco com alta velocidade quando estávamos a navegar num barco que nos afundou mais. Temos agora é que recuperar tudo, partindo de onde existem as potencialidades, que é nas terras. Nas terras todas de Angola, 80% da nossa terra é arável com excepção do deserto do Namibe. Mesmo no deserto também é boa.

Concorda com escolha de determinados produtos no âmbito da diversificação?

Angola produz tudo para tudo e para todos. No tempo antigo, éramos um país exportador, hoje somos um país verdadeiramente importador. A única coisa que exportamos é aquilo que nunca se exportou antigamente, o petróleo. Exportávamos feijão, milho, arroz, jinguba, mel. Hoje nada disso é feito. Temos, na zona do Kwanza-Norte, em Benguela e no Sumbe, condições brutais para exportar frutas. O ananás, por exemplo. O sumo de ananás é vendido em toda a parte do mundo. Não há uma única fábrica a fazer isso. Há coisas que temos de fazer. Nunca comi fuba importada durante 60 anos e hoje só como fuba importada.

Há correntes que consideram um erro a fusão dos ministérios da Agricultura e das Pescas devido aos desafios colocados aos dois. Concorda?

O meu entendimento é que pesca é pesca, agricultura é agricultura. A pesca é uma área que já tem muito serviço para o ministério. Agricultura também tem muito trabalho. Temos é de mudar, não podemos apoiar apenas os grandes latifundiários. Temos de apoiar também os pequeninos, porque muitos pequeninos fazem mais do que muitos grandes. Por exemplo, na minha área, que é da produção de cana. Em todas as partes do mundo, Brasil, Índia e África do Sul, os maiores produtores e plantadores são os pequenos produtores com dois, cinco, 10 hectares. Há também os grandes plantadores, mas os pequenos produzem muito mais. Posso dar também o exemplo do milho. Se, ao invés de se fazerem 10 fazendas de milho com 10 mil hectares, se fizerem dois milhões de pessoas a plantar milho, haverá muitíssimo mais milho e muitíssimo mais barato. Vejo a darem tractores às pessoas, é um erro, não são tractores, são juntas de bois, charruas. Isso é que se deve dar porque, enquanto o milho não cresce, eles estão a beber o leite. Tem de se ver bem como se fazer, as coisas não podem ser feitas de ânimo leve. Todos nós podemos ser ricos em Angola, todos nós podemos viver bem. Quando digo rico, não é rico de biliões, mas de centenas, chega.

Está a dizer que um dos erros cometidos ao longo dos anos foi apostar em projectos megalómanos?

Os projectos macro são necessários, mas não podemos esquecer os pequenos. Nunca nenhum projecto macro vinga sem estes projectos pequenos se implantarem.

 

E qual é a situação da sua produção de cana?

Anda um bocado parada, tive muita cana e fiz um projecto que terminei. Estou agora a aguardar o apoio. Se mo concederem, arranco porque está concluído, falta apenas ir à plantação porque a que eu tinha antigamente deixei de ter porque a cana tem validade de cinco, seis anos. Depois tem de se arrancar toda e pôr novamente. Ou fazia a fábrica, ou plantava a cana porque o apoio que me deram foi pequeníssimo.

Optou pela fábrica?

Sim, porque a fábrica é toda importada. Tenho a fábrica pronta. Falta pôr a cana e mais nada. Estou a passar uma fase que nunca vivi em toda a minha vida, mas estou convencido de que vou vencer.

Qual é a capacidade da fábrica?

Fazemos álcool para indústrias hospitalares e para bebidas. Temos capacidade de produzir entre 50 e 70 mil litros por dia. Estamos à espera da produção da cana há dois anos. Somos empresários e estamos a precisar da ajuda para concretizar este projecto, que é uma coisa de mérito. Só há duas, a Biocom, que é muito grande, e a nossa, que se chama o RollsRoyce das fábricas do Brasil. Não é muito grande, mas é muitíssimo boa para o país.

Não há o risco de deterioração, enquanto aguarda pela produção da cana?

Não.

Quanto é necessário para o arranque?

Preciso daquilo que é preciso para arrancar que são 25 milhões. Não é muito dinheiro. Já tenho gastos mais de 100 milhões de dólares. 

Sente sensibilidade do Governo e da banca para apoiar?

O Governo tem-se sensibilizado, ainda agora tivemos uma reunião com o governador de Benguela. O doutor Sérgio Santos, ministro da Economia, também nos prometeu apoio, conhece bem os nossos projectos. Colaborámos em tempos com a Biocom, que é uma firma muito importante e muito boa para Angola, tivemos também algum apoio da Biocom. Queremos fazer uma colaboração para podermos defender a nossa produção nacional, porque importamos 20 ou 40 milhões de litros de álcool, quando podemos produzir cá. Temos um clima igual ou melhor que o do Brasil, África do Sul ou que o da Índia. Porque é que não podemos produzir? Não precisamos de importar álcool nem açúcar. Temos condições para o nosso consumo e para a exportação. Temos é de ter apoio. Não sou empresário milionário, sou empresário pelo meu trabalho, pela minha dedicação, minha vontade. Tenho de ser apoiado.

Concorda que o empresário também tem culpa pela actual situação do país visto que, a determinada altura, apostou essencialmente na importação?

Não é culpa dos empresários. O grande problema é que toda a estrutura de produção e de apoio à produção deixou de existir. Antigamente, não havia nenhuma zona no interior onde não houvesse pequenas moagens. Todo o pequeno agricultor tinha o comerciante ao lado que vendia a charrua, a catana, a enxada para pagar a crédito com a produção. Hoje não. Tem de se fazer uma estrutura completa desde a raiz até ao grande empresário. Só o grande empresário não vence, podem fazer grandes fábricas. Vai fechar tudo. É uma ‘bênção’ este problema do petróleo para mostrar que não podemos apostar apenas no petróleo. Essa covid-19 até tem alguma ‘mão de Deus’, porque veio mostrar ao mundo que nós, seres humanos, temos de ter mais cuidado com a natureza. Não podemos fazer as coisas à toa.

E estamos a aprender com estas lições?

Vamos ter de aprender. Já aprendemos uma coisa com a covid-19. Um vírus tão pequenininho está a aterrorizar o mundo. Está a mostrar que fazemos parte do mundo como a chuva, como o vento e como o ar. Não somos nada, estamos de passagem. Temos é de colaborar uns com os outros e é isso que não está a haver. Essa colaboração, esta dedicação, esse amor, sobretudo com a nossa Angola, é que não há. Angola precisa de muito mais carinho e ser bem aproveitada porque temos estruturas brutais. Não há hipóteses de fazermos um trabalho que não renda, vai render. Angola, por exemplo, já foi um grande exportador de banana, hoje há um ou dois importadores apenas. Os silos do Lobito foram produzidos para a exportação. Hoje estão a ser construídos no Lobito silos para a importação. Não pode, corta, não dá. Tenho 82 anos, mas sinto-me com 28 e tenho pena que o nosso país não esteja a ser aproveitado. Não vamos dizer que é o Governo. O Governo não tem nada que ver com isso. Temos de impulsionar as coisas.

As políticas do Governo são determinantes para estimular ou desincentivar as iniciativas privadas, não?

Também é verdade. Por exemplo, temos bancos a mais. Quem é o maior concorrente para o desenvolvimento do país? É o próprio Governo, porque vende título de tesouro aos bancos. Não deveria ser permitido os bancos comprarem título de tesouro.

Mas o Governo precisa de dinheiro?

Então precisamos todos de dinheiro, estamos a concorrer uns com os outros. O Governo precisa de dinheiro justamente porque tem de apoiar as importações. Se houver menos importações, o Governo vai precisar de menos dinheiro. É preso por ter e por não ter cão, mas temos de escolher o que é que queremos. Ou queremos viver daquilo que é nosso, ou daquilo que é dos outros, importação, e vamos promover o desenvolvimento dos outros.

Falou da guerra como causa número um da situação económica actual, e a corrupção?

É um cancro que abateu o país, é lamentável, é triste. O país parecia muito rico, toda a gente pensava que era só tirar, tirar e tirar. E tirar não é pôr. Mas podemos, a curto prazo, sair desta situação. Temos é de ser menos políticos e mais trabalhadores. A política é para os políticos. Nós, empresários, não temos de nos envolver na política. Não sou político nem quero ser. Quero ser empresário só.    

Diz que temos bancos a mais…

Mas com a morte de muitas empresas, os bancos também vão morrer, vai ter reflexo na banca. Temos bancos a mais. Os empresários dos bancos, ao invés de fazerem banca, faziam indústria, mas apoiam à importação. São empresários do dinheiro, não são empresários para o desenvolvimento do país. Angola precisava de seis bancos bons, ao invés de 30 bancos que vivem uns atrás dos outros.

Mas os projectos dos empresários, segundo os bancos, também não facilitam…

Também é verdade, mas porque os próprios bancos não deveriam ficar só pela parte económica. Deveriam fazer pela parte técnica. Ter os engenheiros técnicos agrários para apoiar. Não estou a criticar os bancos porque até preciso deles, mas não tenho dúvidas de que há bancos a mais.

E depois há bancos, como BPC, que vão à falência porque os empresários não pagam os empréstimos…

Penso que não é bem assim, porque os empresários não pagaram. Se calhar, tratou-se de dinheiros mal direccionados, mas não quero falar disso porque não tenho domínio da situação. Ouço o que ouço, leio o que leio, mas aquilo faliu, parece-me, porque, dos dinheiros que foram emprestados, 99% não foram direccionados para práticas justas. Se é ou não, não me interessa. O que sei é que o BPC era um dos melhores bancos que estava no país e hoje parece um banco falido. Onde é que estão os dinheiros? É preciso saber.

Voltando à Zona de Livre Comércio. Se a situação em Angola permanecer e o projecto acontecer nos prazos previstos, teremos o país inundado por produtos dos países vizinhos ou acredita no cenário inverso?

A África do Sul vai abastecer muita coisa aqui, vamos ser abafados. Uma laranja produzida em Angola é muito mais cara do que a produzida na África do Sul. Fui produtor de batata no tempo antigo e fiquei horrorizado a ver camiões e caminhões de batata a virem da África do Sul quando a produção de batata em Angola é espontânea, nasce naturalmente. A zona do Longonge, Vila Flor, Vila Verde, aquela zona toda do Huambo… O Huambo é um celeiro de batata. Angola afoga-se de batata do Huambo e não há apoio nenhum. Li, não sei se verdade ou mentira, que a segunda guerra mundial foi alimentada por Portugal, apoiando a Alemanha com exportações que saiam de Angola. Temos todas as condições para tornar este país num país a sério, mas, para isso, os empresários não podem ser políticos.

Mas o facto é que quase todos os políticos e governantes, do topo à base, são empresários. Como se resolve?

Não pode. Se é político tem interesse porque, através da política, vai buscar os seus biscates. Aí é que está o problema, porque o político está mais próximo dos cofres do Estado. O empresário não pode ser político, pode ter o seu partido, eu tenho o MPLA, mas não sou político. Não tenho tempo para perder com a política. Temos muitos políticos empresários que, pela força das circunstâncias, se tornaram empresários, tiraram partido disso e já estão calcinados nesta via dupla, mas insisto: ou empresário ou é político.

E acha possível combater a corrupção neste ambiente com muitos políticos empresários?

É um problema muito complicado. É muito difícil acertar com o passo neste sentido. É que aqueles políticos empresários que já estão habituados a ‘chupar nas tetas’ já não querem outra coisa, porque sabem como fazer. Sinceramente, não sei como se pode combater isso. Nem quero meter-me numa área que não é minha. Dou-me bem com todo o mundo, não tenho inveja de ninguém, quero que toda a gente se dê bem, sobretudo que sejam todos abençoados por Deus. Agora penso que as pessoas que têm demasiado deveriam pensar mais por aqueles que não têm nada.

E qual é avaliação que faz do processo de combate à corrupção?

Não sei. Quando é política, eu fujo. Agora, sei que tem de se fazer alguma coisa porque, se não se fizer, é mal para todos nós. Não sei até que ponto andam as coisas, porque o que a gente ouve falar pode não ser verdade, não podemos embarcar se não temos conhecimento, não há números. O que se ouve falar, muitas vezes, pode ser por inveja. Por isso, neste capítulo, não me pronuncio.

Acha que se está a comunicar mal sobre os resultados do combate à corrupção?

Não sei, não ligo muito a isso, ligo mais a minha vida de trabalho. Como disse, a política eu fujo dela, porque a vida política é muito complicada, de muitas rasteiras. Não há sinceridade. 

E se o convidassem para exercer um cargo político, de governador de Benguela, por exemplo?

Não aceitaria. Não sou político, gosto de fazer o bem. Ajudo muito as comunidades pobres aqui de Benguela, Lobito. Isso é que eu gosto, é o que todos temos de fazer. Política é para os políticos. Quando, às vezes, a política também me pede, eu ajudo. Já colaborei com o Governo. Em 1992, nas primeiras eleições, contribuí para a vitória do MPLA, posso dizer isso com vaidade. As pessoas sabem quantas vezes andámos no Antonov a levar comida para aqui e acolá, mas era para dar comida e não para tirar qualquer outra coisa.

Comprar votos? Não. Posso ajudar a comprar votos, fazendo o bem. Posso chegar numa zona fazer bem, estou a comprá-los porque estarão a dizer: “este partido é que nos está a ajudar”. Isso é legal em toda a parte do mundo, mas não vou dar dinheiro e dizer: “vai gastar o dinheiro nos copos para votar em mim”. Há muita gente que pode fazer, mas é condenável.   

Temos muitos bons empresários?

Não tenho dúvidas de que temos. Agora, têm de ser estimulados. É como uma árvore: se não tem água, adubos, morre.

E como é que se apoiam os empresários? Pergunto porque alguns casos que são hoje acusados de corrupção resultaram da política de ajuda ao empresariado?

Não vejo dos casos que conheço que sejam ajuda ao empresariado. O empresário recebe apoio e, por vezes, pode não cumprir, que é o meu caso. Não cumpro agora porque não tenho possibilidades. Os projectos não acabaram por falta de apoio. Talvez não devesse ser eu a fazer, mas sim uma pessoa mais rica. Não tenho a capacidade financeira própria pessoal. Não tenho onde tirar dinheiro senão dos bancos e os bancos não me deram todo. Logo, tenho problemas. Tenho salários em atraso, tenho dívidas com os bancos. Mas de uma coisa tenho a certeza: vou cumprir com os bancos, não vou ficar a dever nada a ninguém. Já passei muitas tempestades, muitas mesmo. Mas posso dizer também que muitas, depois de as passar, pude cantar os louvores de Deus com alegria porque venci e vou vencer essa também. Estou a passar mal, está muito difícil mesmo, é difícil ser empresário com dividas, com problemas, mas não estou desanimado.   

A propósito, quanto pediu, que percentagem recebeu e porque é que acha que o banco não deu na totalidade?

Não encontro explicação, aí é que está o problema. Os próprios bancos, se calhar estão a passar também por problemas sérios. Mas amanhã, quando eu estiver bem, é possível que sejam os bancos a vir bater à minha porta, porque ajudei também muitos a crescer. Temos de ter calma para vencer esta tempestade. Não podemos estar aqui a gesticular a torto e a direito ou a falar mal deste ou daquele. O objectivo é todos lutarmos para vencer esta tempestade, os que têm razão e os que não têm razão.

Quanto solicitou e qual a percentagem?

Não vou agora divulgar publicamente, é um segredo da empresa.

Não precisamos de importar álcool nem açúcar. Temos condições para o nosso consumo e para a exportação. Temos é de ter apoio.

O país parecia muito rico, toda a gente pensava que era só tirar, tirar e tirar. E tirar não é pôr. Mas podemos, a curto prazo, sair desta situação.

Perfil

De 82 anos de idade, Victor Alves nasceu em Guilengues na Huila e muito cedo, com 5 anos foi para Benguela onde cresceu. Depois ficou dez anos no Cubal, também Benguela a desempenhou funções de bancarias. Depois seguiu para Portugal, onde passou cinco anos e tem uma “uma firma, pequenina porque trouxe tudo para cá para abrir o que tenho”, a Indústrias Alimentares Reunidas de Benguela. Vencedor da categoria, Empreendedor do Ano, do Prémios Sirius 2017, Victor Alves é um dos sobreviventes de um acidente de aviação que aconteceu há 42 anos.