Fernandes Wanda, director do Centro de Investigaçã da UAN

“É importante que a contratação pública não seja limitada àqueles que estão na mesma cor partidária”

04 Dec. 2024 Grande Entrevista

Com a entrada de Angola na lista cinzenta do GAFI, o acesso ao financiamento será difícil e os mais dispostos a emprestar dinheiro vão propor taxas de juros extremamente altas e prejudiciais para o país. Fernandes Wanda, economista e investigador da Mo Ibrahim critica o modo de pensar a produção alimentar sem o aproveitamento dos perímetros irrigados e os não infra-estruturados pólos industriais. E recomenda a João Lourenço ser urgente a redução da inflação e o desemprego.

“É importante    que a contratação    pública não seja limitada àqueles que estão na mesma cor partidária”

Angola voltou à lista cinzenta do GAFI. Ainda assim, o diretor da UIF, por exemplo, teve uma percepção completamente diferente e contrária. O que terá pretendido dar a entender? 


Ele disse a mesma coisa por outras palavras, porque o nome em inglês ‘grey list’ ou, traduzido em português, lista cinzenta, está no website do GAFI. Qualquer um pode fazer isso, pode ir ao website do GAFI, eles dizem mesmo assim ‘grey list’. A ‘grey list’ é a lista de acompanhamento rigoroso. Ele, ao dizer que Angola não está na lista cinzenta, mas está a ter um acompanhamento, evidentemente está a reconhecer que está na lista cinzenta. Porque todos os países que estão a ter este acompanhamento, vulgarmente são conhecidos como países que estão na lista cinzenta.  
 
Foi um discurso com pretensão política?  


Sim, infelizmente não podemos negar isto. Não podemos esquecer que a economia angolana está em transição, ou seja, a criar uma economia de mercado. Neste tipo de economia, há muita interferência.  
 
Os pontos que colocaram o país na lista são semelhantes aos anteriores. Como é que se justificam os mesmos erros até quando o país tem, por exemplo, um programa de combate à corrupção e fala-se em mais transparência nos processos? 


O que o GAFI diz no relatório, por exemplo, quanto à questão do branqueamento de capitais, não é a falta de legislação. Diz que, em Angola, as leis até foram aprovadas. Mas depois como é que se aprovam leis que facilitam o combater ao branqueamento de capitais, ao financiamento do terrorismo, mas depois não existe nenhuma investigação, não existem pessoas que foram condenadas. É esta crítica que o GAFI faz. Não basta ter as leis, as leis têm de ser implementadas. Isso da lista faz-me lembrar as palavras de José Eduardo Santos que dizia sempre que tínhamos bons planos, mas o problema estava na implementação, na execução. Então, o GAFI vem chamar a atenção mais uma vez a esse aspecto, que Angola tem planos, tem leis que ajudam a combater o branqueamento de capitais e tudo o resto, mas, depois, peca na implementação, não consegue mostrar casos de pessoas que foram investigadas ou mostrar casos de que tem investigação em curso. Eles [GAFI] estiveram aqui, fizeram visita de acompanhamento e não constataram isto aqui, solicitaram às autoridades, estas não mostraram nenhum caso de investigações que estejam em curso, de casos que foram levados a tribunal e de pessoas que tenham sido responsabilizadas. Portanto, não tinha como fazer uma boa avaliação.  

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