“É necessário reavaliar o nosso regime cambial”
Economista e decano da Faculdade de Ciências Económicas da Universidade Lusíada de Angola (ULA) diz que, para um país que tem uma estrutura comercial muito concentrada num único produto de exportação, tal como o nosso, o regime cambial flutuante acaba por influenciar a taxa de câmbio, tal como se assiste nas últimas semanas.
Defende que o regime cambial anterior fixo é o mais adequado para o mercado angolano, na medida em que também funciona como uma âncora para o controlo da inflação.
Angola vive um período bastante conturbado da sua economia e o FMI estimou um crescimento económico, para este ano, na ordem dos 3,5%. Diante deste cenário de crise acredita nesta estimativa?
Quando se fala de estimativas associadas ao crescimento económico, temos de olhar, sobretudo, para a estrutura produtiva do país. Em geral, nos países em desenvolvimento, principalmente aqueles que dependem da exportação de commodities, ou seja, produtos primários, o crescimento económico é muito alavancado justamente pela subida dos preços dessas variáveis no mercado internacional. Portanto, não creio muito que esta estimativa se baseie na expansão da indústria do país ou do sector de serviços. Julgo ser uma estimativa do crescimento futuro do nosso principal produto de exportação, que é o petróleo.
Por sua vez, o Banco Mundial reviu em baixa o crescimento da economia angolana para 2,6%. Acha que a previsão da instituição é mais realista?
As discrepâncias nos resultados associados às previsões ou estimativas dependem muito das variáveis que os modelos econométricos levam em consideração. Depende muito também do espaço amostral que essas variáveis conseguem cobrir. Portanto, não sei ao certo que factores especificamente as duas instituições (FMI e o Banco Mundial) levaram em conta. O certo é que Angola deverá, sim, registar um grau de crescimento, mas dificilmente vai voltar a ter aquele crescimento que verificámos logo após o fim da guerra e julgo que até pelo menos 2014, quando os preços do petróleo no mercado internacional tiveram aquela alta extraordinária e em consequência disso o país conseguiu financiar um vasto conjunto de obras públicas. Ou seja, elevou-se o gasto público e consequentemente acabou por aquecer a demanda e deu aquele boom económico que vivemos. Este período vai levar tempo a voltar a acontecer, mas acredito que, à medida em que a inflação se for estabilizando - que é um dos factores que acaba por afectar o nosso crescimento de curto prazo - é sim possível Angola registar um nível de crescimento, mas não nos níveis de 7 ou 8% como vivemos há sensivelmente 10 anos.
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