“É preciso mais investimentos em energias renováveis”
ENTREVISTA. Director executivo da Fundação Kissama para a Área Ambiental e Administração, Vladimiro Russo elenca alguns problemas ambientais, como a desflorestação e a má gestão dos resíduos sólidos e defende que o Governo crie políticas públicas que incentivem o surgimento de empresas verdes.
Qual é o estado da ‘economia verde’ em Angola?
A diversificação da economia é um dos principais desafios à ‘economia verde’ . Há legislação e alguma vontade, em alguns sectores, em abraçar as principais características da ‘economia verde’, nomeadamente o aumento do uso de fontes energéticas limpas, a aposta no uso eficiente dos recursos naturais e a gestão de resíduos com aposta na reciclagem.
Existem ‘empresas verdes’ em Angola?
Existem algumas que, além de buscarem o lucro, também se preocupam com o bem-estar e com a protecção do ambiente. No entanto, não é suficiente ainda para considerarmos estas empresas como 100% verdes. Existe alguma legislação sobre avaliação de impacto ambiental que define um conjunto de pressupostos relevantes para que projectos e empresas possam cumprir com os princípios da ‘economia verde’.
O que o Governo deve fazer para incentivar o seu surgimento?
É importante que as políticas públicas criem mecanismos de incentivo à economia verde para que a transição das empresas seja feita de forma concreta. Essas políticas têm de promover incentivos (como a redução de impostos) para os negócios com pendor verde, particularmente aqueles que assumam características da ‘economia verde’: oferta de empregos, consumo consciente, uso de fontes de energia limpas e valorização da biodiversidade.
A legislação facilita?
Não se trata de legislação apenas, mas também de vontade e visão dos gestores de empresas públicas e privadas, particularmente a longo prazo. Se os gestores entenderem que determinadas tecnologias, apesar dos investimentos iniciais, são úteis poderemos ter várias empresas a marcarem a diferença, na redução do consumo e de recursos e na gestão dos resíduos.
Angola produz anualmente mais de três milhões de toneladas de lixo urbano. Como transformar resíduos sólidos em matérias-primas?
Tem de haver uma forte aposta na transformação, tanto para o mercado da reciclagem como do reaproveitamento. As opções são inúmeras, mas o surgimento deste negócio depende da existência de energia e água da rede pública, incentivos fiscais, investimentos em tecnologias e gestores com visão a longo prazo.
Qual é o estado actual do ambiente em Angola?
Angola apresenta vários problemas ambientais associados ao estágio de desenvolvimento, particularmente devido à necessidade de exploração de recursos para satisfação das necessidades das populações e os acentuados níveis de pobreza, mas também devido ao não cumprimento da legislação ambiental. Nos últimos anos, o diagnóstico é que há um conjunto de problemas ambientais que afectam a qualidade de vida, agridem o ambiente e têm um impacto negativo na economia.
Quais são esses problemas?
Os resíduos sólidos, uma vez que não existem mecanismos adequados para a sua gestão, a poluição causada por empreendimentos industriais, a caça furtiva que sustenta um enorme mercado de carne e a acentuada desflorestação sem qualquer cumprimento da legislação nacional tanto para exportação como para campos agrícolas.
Quais são as soluções?
Não há receitas concretas. A resolução dos problemas depende de um conjunto de factores que incluem a existência de meios humanos (formação de quadros) e técnicos. No entanto, a aplicação de lei é uma prioridade. Depois existe a necessidade de se criar empregos ‘verdes’ com um sério investimento na indústria de reciclagem e gestão de resíduos. Por outro lado, é importante que os projectos de desenvolvimento elaborem os estudos de impacto ambiental e implementem as respectivas medidas de mitigação. Há também a necessidade de se inverter a matriz energética, que actualmente tem uma grande dependência dos combustíveis fósseis. Deve haver mais investimentos em energias renováveis. Angola é um dos oito países africanos, com maior taxa de mortalidade associada à poluição atmosférica.
O que se pode fazer para inverter este quadro?
As soluções passam por atacar as causas de poluição atmosférica, nomeadamente na queima de combustível para a produção de energia (em centrais térmicas e geradores de empresas e de casas), queimadas nas zonas rurais para a caça, abertura de campos agrícolas e motivos desconhecidos. Deve-se também melhorar a arborização nas cidades e a mobilidade com os investimentos no transporte público diminuindo assim a quantidade de veículos motorizados nas zonas urbanas.
Como se deve fazer do problema ambiental uma preocupação de todos?
Investindo na educação. As questões ambientais devem ser consideradas como transversais de forma a permitir uma boa qualidade de vida e o cumprimento do estipulado na Constituição.
Qual é o nível de conscientização e preservação do ambiente em Angola?
Deveríamos ter uma população mais consciente e pronta para preservar o ambiente. Há também um elevado nível de consumismo e de despreocupação com o ambiente enquanto bem comum.
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