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TEIXEIRA CâNDIDO, PORTA-VOZ DAS CENTRAIS SINDICAIS

“É preciso potenciar as famílias, mas com uma carga fiscal não tão agressiva como a que temos.”

Porta-voz das Centrais Sindicais acusa as autoridades de serem arrogantes e intimidarem funcionários públicos que aderem à greve geral e explica que há falta vontade do Governo em atender às exigências do caderno reivindicativo. Por isso, não pretendem recuar até que as exigências sejam atendidas. Teixeira Cândido alerta que os aumentos prometidos não são suficientes para travar a ‘fome’ dos trabalhadores e defende uma redução da carga fiscal. 

“É preciso potenciar as famílias, mas com uma carga fiscal não tão agressiva como a que temos.”

Governo aumentou 30 mil kwanzas no salário da função pública, um dia depois do anúncio da segunda fase da greve geral. Os sindicalistas foram consultados ou foi uma decisão unilateral? 

Os sindicatos não foram consultados. Mesmo que fossem consultados, os sindicatos não iriam anuir com qualquer aumento de 30 mil kwanzas. Não estamos a advogar sequer um aumento, estamos a advogar uma actualização face ao custo de vida, perda do poder de compra. Esta é a nossa exigência escrita no caderno reivindicativo. Não estamos a exigir uma actualização apenas no sector público ou na administração pública. Estamos a propor a actualização do salário mínimo nacional, assim como estamos a advogar uma redução da carga fiscal. Têm sido verdadeiros ‘leões’ para os pobres rendimentos dos trabalhadores. Tivemos o IVA, hoje o IRT, que é, claro, mais agressivo do que era antes.  Estamos num contexto muito difícil para os trabalhadores. Este aumento de 30 mil kwanzas não responde às preocupações dos trabalhadores. Essas preocupações têm de ser atendidas em função do custo de vida e da inflação. No entanto, os trabalhadores não são capazes de prover as respecticvas famílias com três refeições. É um luxo hoje que está ao alcance de uma minoria, se calhar, dos funcionários angolanos.


Após a primeira fase de greve, voltaram às negociações? 

Tivemos, depois da primeira fase, uma reunião com a equipa negocial do Governo, no caso a 7ª, que não resultou rigorosamente em nada, porque o Governo trouxe as mesmas propostas. Ou seja, não respondeu a nenhuma daquelas questões que consideramos estruturantes. Por isso é que vamos à 2ª fase da greve. Não há predisposição do Governo em negociar connosco. Flexibilizamos em todas as nossas exigências e o Governo diz não. Não se negoceia nestes termos. Depois de sete rondas de negociações em que o governo não foi capaz de se aproximar das expectativas dos trabalhadores, vem anunciar uma medida de aumento de 30 mil kwanzas que, na prática, pode significar 21 mil kwanzas, porque temos de incluir o IRT.


Quais são as justificações que o Governo apresentou na última reunião?

Não há nenhuma justificação. A conversa gira em torno das mesmas justificações, de que não há dinheiro, não é possível e o país vai fechar. Conversas que não têm fundamentos. O maior problema do país não é dinheiro, nem as finanças públicas estarem a minguar. O maior problema é a qualidade da despesa. Se se priorizar as questões estruturantes do Estado, se houver disciplina orçamental, vamos, na verdade, ter um salário digno e é altura de permitir que os trabalhadores sejam capazes de, pelo menos, viver com alguma dignidade. Continuamos a assistir a aquisição de frotas de veículos e o Estado a responsabilizar-se pela a manutenção por cinco anos. Não são veículos que custam menos de 20 mil dólares. Parece haver uma alergia, os membros do governo não podem andar num veículo que custa 20 mil dólares, significa algum desprestígio, tendencialmente os veículos utilizados são na casa dos 150 mil dólares. Enquanto continuar a haver esses tipos de despesas não prioritárias, para um país que está a viver dificuldades, obviamente não se terá condições de responder às expectativas dos trabalhadores. Enquanto trabalhadores, temos de lutar para sobreviver, não podemos aceitar que alguém nos mate por opções erradas.

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