“Em nenhuma instituição internacional, há dúvidas de que a Unita ganhou as eleições”
Na primeira grande entrevista de balanço eleitoral, concedida no final do ano passado à Rádio Essencial e que Valor Económico retoma em duas partes (nesta e na próxima edição), Adalberto Costa Júnior reafirma a certeza de que a Unita ganhou as eleições. E nota que, apesar de não estar no governo, a Unita alterou paradigmas, destruindo “o terço bloqueante”. Mas não é apenas isso. O líder da oposição diz que João Lourenço sofre as consequências de estar no poder sem legitimidade e dá como exemplo o tratamento indistinto que o Presidente angolano teve na Casa Branca, na mais recente visita oficial aos Estados Unidos.
Se olharmos para as suas declarações no período anterior ao dia da votação, foram no sentido de que, desta vez, nas eleições de 2022, a Unita não aceitaria mais ‘engolir sapos’. A verdade é que, atendendo a contestação dos resultados na forma como a Unita o fez, temos de concluir que o seu partido voltou a ‘engolir mesmo um sapo’. Ou ainda está entalado na garganta?
Esta pergunta pressupõe algumas respostas que eu próprio não lhe posso dar, por opção. Tenho dito e penso que é sempre bom voltar a repetir: nós temos tido, em Angola, eleições que envolvem períodos excepcionalmente longos em que se pára tudo e nós tivemos todo um processo pré-eleitoral de quase um ano e meio com um processo eleitoral de um mês e depois ainda mais dois meses de alguns diferendos muito grandes, o que faz quase dois anos em que tudo parou. Não foram só as instituições políticas. Também a economia ficou sujeita a estas limitações e talvez muitos não saibam, mas, no período do processo eleitoral, e naquele mês a banca também estava restringida em transferências, em movimentos, penalização de operações por parte dos empresários. Também muitos indicadores económicos foram sujeitos ao processo eleitoral e depois foram alterados logo de seguida, com enormes consequências sobre o mercado. Então, fundamentalmente, deixar essa questão de que precisamos olhar para as eleições, abordá-las com prazos bem mais curtos e regularizar a abordagem das eleições como uma questão normal e não punirmos o país e os cidadãos por consequência deste espaço absolutamente motivado por razões partidárias onde as instituições do Estado ficam todas alinhadas aos interesses do partido que governa. Isso tem sido um dano muito grande.
Concretamente, sobre a sua pergunta, engolir sapos... As intervenções foram feitas com muito rigor, com muita verdade e provavelmente terei tido a necessidade de não ter chegado a todos os elementos que obtive. Não tenho dúvidas nenhumas de que ganhámos as eleições, ninguém tem dúvidas, nem em Angola, nem fora de Angola. Em nenhuma instituição internacional, há dúvidas de que a Unita ganhou as eleições!
Temos o ‘status quo’ comum, mas o espaço diplomático sabe, de facto, o que é que aconteceu em Angola. E hoje mesmo, em alinhamento ao que aconteceu na viagem aos EUA por parte do Presidente da República, é um indicador claríssimo do que é que os americanos sabem sobre o que aconteceu em Angola. Não é normal que um país tão importante como Angola, vir de lá sem qualquer recepção na sala oval, sem qualquer participação nos encontros mais íntimos, mais privados e apenas no colectivo. Isso tem consequências e é bom que este país se desabitue de fazer golpes institucionais. Mas provavelmente também pusemos um belo ‘sapo’, porque foram alterados profundamente hábitos tradicionais.
A verdade é que continuamos a ter um partido que controla as instituições que legitimam os processos. O que a Unita faria caso as circunstâncias de 2022 se repetissem em 2027? O que a Unita fará, caso a história se volte a repetir? Que garantias teria de que as coisas mudariam em 2027?
Mudou mesmo muita coisa. Temos provas da vitória.
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