Empresários contra políticas de (des)emprego do Governo
TRABALHO. Numa avaliação, em apenas três dos oito projectos de investimento travados pelo Governo, perderam-se mais de 13 mil oportunidades de emprego. Empresários criticam políticas do Governo e duvidam da criação de mais de 83 mil postos de trabalho, inscritos no Plano de Acção para Promoção da Empregabilidade (Pape).
A recente inviabilização do concurso para quarto operador de telefonia móvel, vencida pela Telstar, levantou também a discussão à volta do desemprego e ou impedimento da criação de novos empregos como resultado de medidas do Governo. Segundo perspectiva apresentada, durante o anúncio do vencedor do concurso, a Telstar entraria em funcionamento dentro de um ano e garantiria cerca de cinco mil postos de trabalho directos e 160 mil indirectos, segundo o ‘caderno de encargos’ da empresa.
Contas feitas, se forem incluídos outros projectos dos mais ‘badalados’, como o do consórcio Air Connection Express (125), ou ainda da construção da barragem de Caculo Cabaça (8.200), no médio Kwanza, ‘voaram’ 13.325 empregos directos e pouco mais de 66.625 beneficiários, se se considerar que cada um dos potenciais empregados tenha sob sua incumbência, em média, cinco pessoas.
O desemprego registou um aumento de 8,8 pontos percentuais nos últimos dois anos, tendo passado de 20 para 28,8%, de acordo com dados recentes do ‘Inquérito sobre despesas, receitas e emprego em Angola (Idrea)’.
O vice-presidente do Fórum de Auscultação e Concertação Empresarial (Face), Luiz Gonzaga Teka, duvida, com estes indicadores, que o Governo consiga cumprir os pressupostos do Pape capitalizado com 21 mil milhões de kwanzas, em três anos.
Gonzaga Teka acredita que “o Pape não vai dar certo”, porque “o Governo não deve envolver-se na criação do emprego, mas sim o sector privado, em economias abertas”. Esta opinião é partilhada pelo vice-presidente da Associação Industrial Angolana (AIA), Elizeu Gaspar, que acentua: “Isso não vai dar em nada, é mais uma forma de desbaratar dinheiro público”. Para Eliseu Gaspar, o Governo deve criar políticas para dinamizar o sector primário. “Penso que antes devíamos apostar no campo, empurrar para lá a massa de jovens ‘imbumbáveis’ que deambulam pelas ruas das cidades com a criação de projectos concretos de desenvolvimento”, afirma o também economista e vice-presidente do núcleo de empresários da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (Palop).
Inconformado com as estratégias de redução do desemprego, que vêm sendo assumidas ao longo dos anos, Eliseu Gaspar lembra ainda que cabe ao Executivo potenciar o sector privado, ‘libertando’ investimentos susceptíveis de criar emprego e combater a pobreza. “Insiste-se muito nas telecomunicações, mas alguns desses projectos são duvidosos e depois exigem pessoas qualificadas e nós não as temos”, precisa ainda o ‘vice’ da AIA, acrescentando: “Precisamos de começar esse país da base, que é a agricultura, e depois, o resto virá por acréscimo”.
A AIA, segundo o responsável, tem em mãos um dossiê que vai ser entregue ao Governo, com propostas para ‘atacar’ o fenómeno do desemprego e “acabar com essa ‘anarquia’ de mais 100 centros de formação profissional e distribuição de ‘kits’ no país que na prática não está a dar bom resultado”.
Eliseu Gaspar avança igualmente que a maioria dos jovens formados em diversos cursos básicos nesses centros, controlados pelo Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (Maptss), encontra-se no mercado paralelo, porque não consegue trabalhar, por incapacidade do mercado de consumo. Estão na mesma condição técnicos médios e superiores formados todos os anos no país. Por ser “lamentável”, sugere uma terapia de choque: “Esse dinheiro que o Governo pretende aplicar, no âmbito do Pape devia servir de alternativas como, por exemplo, a instalação de pavilhões multifunções”, que constam da sugestão a ser levada à apreciação do Governo.
Dialogar mais
Para o empresário Bartolomeu Dias, “estarmos a falar de empresas ‘chumbadas’ pelo Governo, ou de empregos perdidos, na sequência dessas medidas, é perder tempo”, porque “o mais importante é dialogar para desanuviar o ambiente de negócios que não dá margem de manobra”. “Não falemos da Air Connetion Express, da Telstar, ou de qualquer outra empresa inviabilizada, porque isso roça a pessoalização das coisas e não nos leva a lado nenhum”, explica Bartolomeu Dias, para quem é preciso “repensar este país atolado pela corrupção que não tem horizonte de acabar”. Entende que a equipa económica deve procurar dialogar mais com os empresários e personalidades de diferentes sensibilidades embrenhadas nas makas do país. “Não importa ser negro ou branco, todos temos direito à opinião, porque o que está em causa é pensar o país que está acima de todos nós”, precisa ainda Bartolomeu Dias, que justifica que “o grande problema da nossa economia é, além da corrupção, a má gestão de fundos públicos e a não colocação de pessoas certas nos lugares certos”.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...