Ende sem capacidade financeira para liquidar as dívidas
BALANÇO. Empresa estatal deve mais de 300 mil milhões de kwanzas ao principal fornecedor. Pandemia piorou as contas da instituição. Taxa de absentismo foi de quase 50%.
A Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (Ende) encontra-se numa situação de insolvência, estando sem capacidade financeira para liquidar dívidas.
A empresa registou, no ano passado, um crescimento da dívida de clientes e com fornecedores e credores na ordem dos 21% e 4,31% respectivamente.
A dívida acumulada para com o principal fornecedor, que é a Rede Nacional de Transporte de Electricidade (RNT), é de 306,8 mil milhões de kwanzas, o que evidencia “as dificuldades de gestão de tesouraria da empresa”, como revela a administração no seu último relatório e contas do exercício de 2021.
A dívida do Estado para com a Ende é de 95,6 mil milhões de kwanzas. Deste valor, 93,8 são dos subsídios a preços. Já a dos clientes é de 202,8 mil milhões de kwanzas.
Os gestores da Ende referem, por exemplo, que a pandemia da covid-19 influenciou naquilo que foi o “desempenho da empresa nos diversos domínios da actividade”.
“Podemos afirmar que foi difícil manter a funcionalidade da empresa", admite o presidente do conselho de administração da Ende, Hélder Adão, na sua mensagem de abertura do relatório.
Para a gestão, o desempenho da empresa no ano passado "não foi satisfatório, uma vez que os resultados obtidos não foram alcançados em relação às metas previstas”. Isso é salientado, por exemplo, na área dos recursos humanos em que o número de trabalhadores está acima da meta prevista, que era dos 4%. A taxa de absentismo está acima da meta dos 48%, com sete faltas por trabalhador, justificadas pela situação da pandemia. Na segurança e saúde também não foi um marco satisfatório, por se verificar a ocorrência de 47 acidentes de trabalho.
No domínio comercial, o desempenho dos principais indicadores da empresa também não foi satisfatório em relação às metas. As perdas comerciais estavam acima da meta de 141%. O índice de cobrança esteve abaixo da meta, assim como o desempenho económico, face ao resultado negativo do EBIT (lucro antes dos juros e tributos) na ordem dos 68,3 mil milhões de kwanzas.
Foram distribuídos 12,2 mil milhões kWh e a energia facturada rondou os 9,5 mil milhões kWh durante o ano passado.
ENDE quer recuperar dívidas
Numa entrevista recente, o PCA da Ende explicou que a empresa está a trabalhar com o Ministério das Finanças e o Instituto de Gestão e Administração Pública do Estado (Igape), para resgatar e recuperar as dívidas das instituições do Estado. Referiu que as instituições estatais alegam não cumprir com as suas obrigações por conta da dotação orçamental. A empresa já remeteu, em duas ocasiões, à ministra das Finanças, o extracto das dívidas das instituições públicas a fim de verificar se era possível fazer uma retenção na fonte.
Já com os clientes domésticos, Hélder Adão dá conta de que tem vindo a interagir com os devedores para os permitir amortizar as dívidas em prestações.
A Ende tem actualmente 4.778 trabalhadores. Só em Luanda funcionam 1.943 trabalhadores.
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