Ensino Superior no ‘cafrique’
Não se trata de confirmar ou desmentir o eventual desvario que toma conta do Ministério do Ensino Superior Ciência Tecnologia e Inovação. Muito menos entraremos na avaliação do mérito das decisões do Ministério que o colocaram no centro de toda a contestação e polémica. Disto tratarão os distintos quadros que se dedicam à educação, ao ensino e à investigação. A exemplo do catedrático Raul Araújo, que dá uma notável entrevista ao Valor Económico desta semana.
O que se questiona aqui, em jeito de preocupação, são as queixas da deterioração do autoritarismo num ministério tão nevrálgico quanto o do Ensino Superior. O entrevistado desta semana deixou-o suficientemente claro, ao mencionar, como detalhe, o facto de os centros de investigação não terem sido achados na decisão da sua extinção. Mas as reclamações dos que falam publicamente e dos que criticam às escondidas vão muito além disso. É voz corrente, por exemplo, que as Instituições de Ensino Superior Públicas estão transformadas em secções do Ministério do Ensino Superior. Em linguagem simplificada, Maria do Rosário Bragança Sambo decidiu ter tudo sob o seu controlo. Ou, como preferem sublinhar as vozes críticas, as Instituições de Ensino Superior estão no ‘cafrique’ da ministra. E a verdade é que Maria do Rosário não faz muito para provar o contrário.
Veja-se o que ocorreu com as recentes e polémicas declarações de Raul Araújo, que rebaixou a Universidade Agostinho Neto para a categoria de colégio. Da reitoria da universidade, cujo trabalho acabou expressamente colocado em causa e da qual se esperava a competente reacção, não se ouviu um pio. Quem decidiu sentir-se directamente atacada foi a ministra que, numa reacção a quente, foi ao ridículo de afirmar que se fazem grandes investimentos na investigação. São, claro, atitudes como esta que também sustentam os comentários em surdina de que a ministra saiu da reitoria da UAN, mas a reitoria da UAN não saiu dela. Ou seja, faz-se de uma espécie de ministra-reitora ou reitora-ministra.
Manda o rigor recordar, entretanto, que o autoritarismo denunciado no Ministério do Ensino Superior é o mesmo que faz norma na prática geral da governação. Ou, como bem o diz Raul Araújo, “a administração [em Angola] sempre teve como principal defeito ter problemas auditivos”. Já o ouvimos também da empresária Filomena de Oliveira que, ao tratar por surdos os que mandam na AGT, ouviu uma tremenda reprimenda de João Lourenço, com o histórico “não gostei”.
No fundo, no fundo, os académicos que contestam a ministra é que devem estar de regresso de Marte. Porque aqui, na Terra, as coisas nunca foram propriamente diferentes. E Maria do Rosário Bragança Sambo só estará a aperfeiçoar o guião do autoritarismo a seu jeito.
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