Resenha de 2017

Entre a crise, negócios e instabilidade

08 Jan. 2018 Valdimiro Dias Mundo

RETROSPECTIVA. Economicamente, o continente ficou marcado, em 2017, pelo crescimento dos negócios, pela crise monetária e pelo lançamento de megaprojetos de infra-estruturas. Mas as guerras políticas e as crises humanas continuam afectar África, num ano que ficou marcado pela queda do histórico Robert Mugabe.

Imigrantes africanos na libia 2

Gâmbia

Yahya Jammeh parte para o exilio

O ex-presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, que provocou uma crise eleitoral ao não reconhecer a vitória do adversário, Adama Barrow, foi obrigado por uma força militar da Comunidade de Económica da África Ocidental a deixar o país e a aceitar o exílio na Guiné-Equatorial. Corre o risco de ser judicialmente perseguido pelas arbitrariedades cometidas ao longo da liderança de 22 anos que governou com mão-de-ferro naquela nação da Africa Ocidental.

África

Maior crise humana em 70 anos

África enfrenta a maior crise humana desde 1945, com mais de 20 milhões de pessoas a morrerem de fome em três países, Sudão do Sul, Somália e Nigéria, segundo o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas que estimou em cerca de 5,6 mil milhões de dólares o custo de intervenção das Nações Unidas. África Países na lista negra da UE Países como a Tunísia e a Namíbia foram considerados ‘paraísos fiscais’ e colocados numa lista negra pela União Europeia (UE), anunciada, em Dezembro Segundo a UE, os países da referida lista (17) perderiam os financiamentos da União, além de se tornarem objecto de várias outras medidas.

Aliko Dangote

Mais rico de olho na Europa

A liko Dangote, o homem mais rico de África, anunciou um plano de investir entre 20 e 50 mil milhões de dólares nos EUA e na Europa até 2025, em sectores como energias renováveis e produtos petroquímicos. O magnata nigeriano, de 60 anos, fixou 2020 como data para avançar, pela primeira vez, para as duas geografias. Em 2017, Dangote esteve ainda envolvido num conflito pela disputa de uma mina na Nigéria, com um concorrente da indústria cimenteira nigeriana.

África

Eleições em quatro países

Quatro dos países do continente realizaram eleições: Angola Ruanda, Quénia e Libéria. No Ruanda, Paul Kagame foi reeleito com 98% dos votos e vai ficar mais sete anos à frente do país que lidera desde que o grupo rebelde tutsis, a Frente Patriótica Ruandesa, tomou a capital, Kigali, em 1994, derrubando o governo extremista hútu, responsável pelo genocídio que vitimou cerca de 800 mil pessoas. No Quénia, Uhuru Kenyatta venceu com 98,26% dos votos, numa consulta boicotada pelo principal opositor, Raila Odinga. Na Libéria, George Weah foi o vencedor, mas teve de esperar pela segunda volta em que conseguiu 61,5% dos votos. O antigo futebolista, de 51 anos, sucede a Ellen Johnson-Sirleaf que foi a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe de Estado num país africano e, em 2011, foi Nobel da Paz.

Cimeira África Europa 2017

Europa promete investir 44 biliões

Sob o lema ‘Investir na juventude para um futuro sustentável’, a cimeira África-Europa juntou cinco mil participantes de 55 países africanos e de 28 europeus. Abordou questões como “o futuro das relações UA-UE”, bem como “as parcerias nos domínios da paz e segurança”, “governação, democracia e direitos humanos”. Os chefes de Estado e de governo assumiram a responsabilidade de se mudar o paradigma habitual dos discursos e “incitar” a Europa a canalizar para África, até 2020, um investimento de 44 mil milhões de euros, e num prazo mais alargado (30 anos), cerca de 200 mil milhões de euros.

Na RDC

Joseph Kabila contestado

A decisão tomada por Joseph Kabila de permanecer no poder até Abril de 2018, após o fim do seu mandato, tem desencadeado uma escalada da tensão política e social na República Democrática do Congo, com confrontos entre as forças de segurança e manifestantes descontentes. O segundo e último mandato de Kabila, de acordo com a Constituição, terminou a 20 de Dezembro de 2016. As Nações Unidas denunciaram o uso de uma “força excessiva”, contra os contestários congoleses.

Líbia

Migrantes africanos vendidos como escravos

Através da CNN, o mundo tomou conhecimento de que, em várias cidades da Líbia, foram comercializados migrantes pelos traficantes. Cada um custou 400 dólares. Saídos de países da África subsariana, foram forçados a permanecer em locais fechados, sem água ou alimentação, até serem vendidos. As vítimas são atraídas pela ânsia de chegar à Europa. Muitos são soltos em troca de pagamento de um resgate. Apesar de ter chocado o mundo nada prova que tenha sido combatido definitivamente.

África do Sul

Tribunal pede destituição de Zuma

O Tribunal Constitucional sul-africano criticou o parlamento do país por não ter pedido contas ao presidente Jacob Zuma sobre a renovação da residência pessoal usando dinheiros públicos. O juiz Chris Jafta explica que “a Assembleia apenas debateu e votou a moção de censura do presidente e não fez qualquer investigação à violação da Constituição que estava na base da moção.” Jacob Zuma deixou a presidência do ANC em Dezembro. Em vitória apertada, o vice-presidente e empresário milionário, Cyril Ramaphosa, foi eleito novo líder do partido no poder no país desde 1994.

Zimbábue

Novo presidente e queda de Mugabe

O Emmerson Mnangagwa foi empossado presidente do Zimbábue, fruto de um golpe de Estado militar que levou à demissão do antigo presidente, Robert Mugabe, depois de 37 anos no poder. O novo presidente é visto como salvador da pátria, mas está longe de ter uma tarefa fácil. A sua prioridade passa por recuperar a economia do país, que se encontra de rastos, com uma inflação crescente e cerca de 90% da população activa no desemprego.