“Estamos cansados de programas novos que vão ser geridos pelas mesmas pessoas”
Céptico em relação ao Plano Nacional de Fomentos das Pescas (Planapescas), o empresário e administrador-executivo da SFT-Angola revela que muitos empresários do sector engrossam a lista da Central de Informação de Risco de Crédito, o que os dificulta a aceder a linhas de créditos no âmbito do Planapescas. António Gama Júnior denuncia multas exageradas e sem enquadramento que estão a pôr em risco o segmento da pesca industrial, ao mesmo tenpo que lamenta a concorrência desleal e ausência de subvenção dos combustíveis para as embarcações de grande porte.
O Planapescas é uma ‘tábua de salvação’, para a pesca industrial?
Sou um bocado céptico. As pessoas não gostam de me ouvir por causa disso. Há alguns anos e não há muito tempo, a gente ia a um banco e o Ministério das Pescas acendia logo os alarmes. Um quilómetro antes de a gente chegar, já acendiam o alarme, porque o sector das pescas foi buscar muto dinheiro à banca e nunca houve retorno. Então, um dos problemas desses planos todos, para serem implementados, é que o Governo deu aos bancos comerciais o dinheiro para eles gerirem os fundos e concederem os créditos. É claro que existe uma lista que é a Central de Informação de Risco de Crédito (CIRC) e a maior parte dos empresários estão lá e então os bancos ficam com medo. Depois, há que haver as garantias para que os bancos possam estar seguros do que vão fazer.
Mas o Planapescas não tem ‘pernas para andar’?
Para mim, é muito lindo fazer projectos e haver programas novos, mas têm que ser implementados de outra maneira. Porque nós estamos cansados de programas novos que vão ser geridos pelas mesmas pessoas e, passado três, quatro anos, as mesmas pessoas estão sempre a pedir. Entra governador, sai governador, depois entra ministro, sai ministro. É um ciclo vicioso que acontece. Depois começam as
queixas que não há peixe, que os barcos não estão equipados para irem pescar. Portanto, o peixe é engraçado. Quando está no mar, dizem que é pouco, mas, quando a gente pesca, todos dizem que é muito.
Então, como é que deveria ser operacionalizado?
Acho que devíamos começar a dar oportunidade a outros empresários. O país está cheio de jovens e de pessoas que têm vontade de criar e, se lhes dermos oportunidade, eles são capazes de fazer. Não têm vícios. Acho que temos de abrir os olhos e aumentar a nossa visão, para apoiar pessoas que têm força e vontade e que precisam de ter a sua vez. Mas estamos sempre a insistir nos mesmos. Há uns ‘mesmos’ e, nós vemos, que são empresários de sucesso, mas se contam pelos dedos. Essas pessoas, nós elogiamos e parabenizamos. Mas também há outros que sistematicamente insistem, mas não trazem nada de novo.
O Planapescas prevê 300 milhões de dólares, mas há quem diga que o projecto não avança por falta de dinheiro. O que lhe parece?
O processo ainda está em andamento. Ainda nem foi feito o regulamento da aplicação desse programa. Sabe-se que o Planagrão e o Planapecuária já têm os regulamentos, mas o Planapescas ainda não foi regulado. Portanto, ainda se está à espera que o Ministério das Pescas faça esse regulamento, para os bancos começarem a operá-lo, claro, havendo dinheiro. Mas felizmente, nós, SFT- Angola, não temos feito pressão para o financiamento. Temos trabalhado com capital próprio e, algumas vezes, para o pagamento das embarcações, financiamo-nos no estrangeiro.
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