ANGOLA GROWING
EM CAUSA, DIFICULDADES NA COMPRA DO

Fábricas de blocos resistem e encerram em Luanda

CRISE DO CIMENTO. Aumento dos preços do cimento abala mercado de blocos. Chineses, detentores de fábricas, estão a abandonar o negócio.

venda de blocos 52

Pelo menos, quatro fábricas de blocos fecharam portas, há três meses, no município de Belas, em Luanda, devido à subida do preço do cimento, que se regista desde Agosto.

Localizadas na via expressa Benfica/Cacuaco e na Rua do Patriota, as instalações das fábricas encerradas encontram-se actualmente a albergar outro tipo de actividade comercial. No local, o VALOR apurou que os proprietários, maioritariamente chineses, abandonaram a produção de blocos, por causa das dificuldades que foram enfrentando na aquisição do cimento.

No entanto, e embora não se saiba por quanto tempo, há ainda quem resista no negócio. Vários operadores do negócio disseram ao VALOR que as produtoras de blocos compravam o saco de 50 quilogramas de cimento (sua matéria-prima fundamental) a 1.100 kwanzas, sendo que a mesma quantidade passou a custar 2.500 kwanzas, o que aumenta também o custo de produção dos blocos.

A empresa LPJ, que adquire o cimento directamente na Cimangola, por exemplo, baixou significativamente a sua produção. Segundo o subgerente, Agostinho Mecende, a fabricação de blocos poderá ser interrompida a qualquer momento por falta de matéria-prima.

Com mais de 10 anos no mercado, a LPJ, detida por chineses, cobrava por bloco 65 kwanzas. Agora, por força da escassez do cimento, passou a comercializá-lo a 105 kwanzas. “Temos muitas dificuldades em adquirir o cimento por causa da subida dos preços”, observou Mecende.

O subgerente da LPJ explica que a procura de blocos por parte dos clientes não parou, pelo que lamenta a incapacidade de satisfazer a demanda. “Antes pagávamos a mercadoria na segunda-feira e recebiamos, no dia seguinte, 720 sacos de cimento por camião, um total de dois a três camiões por dia, três vezes por semana”, recorda. Agora, continua Mecende, paga-se na segunda e espera-se por mais de 10 dias para ter a encomenda. “E já não na mesma quantidade. Por semana, só temos direito a um carregamento de 600 ou 800 sacos de cimento”, compara. “Os clientes que antes chegavam pagavam e levavam os blocos, agora têm de o fazer por meio de encomenda”, acrescenta.

Apesar das dificuldades que a fábrica enfrenta, não houve diminuição de trabalhadores, mas “se isto continuar”, garante o subgerente, “há previsão de reduzirmos o pessoal porque a produção diminuiu”. “Somos 20 trabalhadores angolanos aqui, além dos chineses que são os patrões, mas não podemos ainda tirar os trabalhadores porque as coisas podem melhorar”, acredita.

Um funcionário de uma outra fábrica, que preferiu não identificar-se, afirmou que, “ultimamente, a venda de cimento na Cimangola é feita a base de conveniência”. “Ou seja, é preciso fazer cunha para conseguir comprar o produto.”

Há quem, no entanto, não esteja a ser afectado pela crise do cimento. A fábrica de blocos Trans Asa Branca, situada no Lar do Patriota, é disso exemplo. Aliás, o vice-administrador da empresa, Sebastião Pedro, contraria informações segundo as quais os preços do cimento, praticados pela Cimangola, tenham aumentados.

“O preço do cimento não subiu”, afirma, garantindo que, até ao momento, continuam a comprar o saco a 1.350 kwanzas. Pedro reconhece, no entanto, que antes se pagava o cimento numa segunda-feira e, no dia seguinte, recebiam o produto. “Hoje temos de esperar oito dias”, refere. “Estamos a viver um monopólio, ou seja, é só a Cimangola que está a produzir”, sublinha Sebastião Pedro.

Na Trans Asa Branca, cada bloco é comercializado a 102 kwanzas, com direito a transporte, mas só se o cliente comprar a partir de 500 blocos. Tal como na maioria das fábricas de blocos, a Trans Asa Branca serve, sobretudo, o mercado informal de construção, principalmente obras nas periferias da capital.