ANGOLA GROWING
SAPATEIROS RESISTEM AO TEMPO

Falta de material atrapalha o negócio

15 Dec. 2021 V E (In) Formalizando

A falta da matéria-prima e o pouco poder de compra estão entre as maiores dificuldades enfrentadas pelos sapateiros, que, mesmo assim, vão sobrevivendo. 

 

Falta de material atrapalha o negócio
D.R

Em 2002, provenientes de Benguela, os irmãos Ângelo e Manuel Veleira passaram a responsabilizar-se pela sapataria Cangueza depois de o tio se ter reformado. Francisco Cangueza herdou a loja do patrão português, conhecido apenas por Eusébio, em 1976. Passaram-se mais de quatro décadas e a sapataria sobrevive, apesar das dificuldades. 

Os dois irmãos sentem a falta de material. Lembram-se do antigo mercado do Roque Santeiro como o maior fornecedor de matéria-prima. Agora, a Namíbia e a Republica Democrática do Congo (RDC) têm sido as principais alternativas. A sapataria já produziu sapatos para o cantor Carlos Lamartine e para o ex-jogador Ivo Alfredo. 

No fabrico de calçados, os dois irmãos preferem usar material ‘carneira’, de linha e sola, “por ser mais leve”. Há casas que vendem solas feitas e sapatos de cabedal e de napa, a pensar no estilo masculino. Para as mulheres, fazem sabrinas e sandálias. Cada sapato demora cerca de uma hora a ser concluído.

Hoje, o material está cada vez mais caro. O atado de cabedal, que custava 15 mil kwanzas, passou para os 50 mil kwanzas.

Numa primeira fase, os dois irmãos optaram por dar continuidade ao que o tio fazia nos últimos anos antes de se reformar: apenas consertos. Passaram depois a investir na produção de sandálias. Seguiram-se pastas, cintos e braceletes para relógios. Estimam ter uma produção mensal de 100 pares de calçados, cujos preços variam entre os 10 e os 15 mil kwanzas. As vendas, no entanto, baixaram consideravelmente.

Também Manuel Fonseca, com 25 anos de carreira, lamenta a dificuldade que tem encontrado com a falta do material. Actualmente, recebe a ajuda de colegas e fornecedores congoleses que importam material da RDC. 

Lamenta a redução considerável do número de clientes nos últimos anos. Vende três a quatro pares de sapatos por semana, quando, até 2017, vendia 10 a 15 pares. Diferente dos irmãos Valeira, Manuel Fonseca não tem feito sapatos por causa da falta de material. Mas sonha ter uma loja num dos centros comerciais. A trabalhar há mais de duas décadas, recorda-se de ter atendido famosos como o Dji Tafinha e Teta Lando.