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CONCENTRAÇÃO DE PODERES EM CAUSA

Fernando Pacheco defende que “municípios não têm vida”

O engenheiro agrónomo Fernando Pacheco afirmou, nesta terça-feira, em entrevista à Rádio Essencial, que “a vida se vai desfazendo nos municípios”. E, apontando mesmo que “não têm vida”, dá exemplo de municípios rurais como Cacuso (Malanje) e Cela (Cuanza-Sul) que têm hoje uma actividade diferente da que tinham no tempo colonial, ou mesmo de cidades como o Lobito, que era melhor que Benguela, naquela época.

 

Fernando Pacheco defende que “municípios não têm vida”

Insistindo que “Lobito era a segunda cidade com peso, depois de Luanda, porque tinha o Porto e o Caminho de Ferro”, Fernando Pacheco justifica o retrocesso com a excessiva concentração dos poderes e dos serviços quer em Luanda, quer nos governos provinciais.

Indagado se o ‘Corredor do Lobito’ não estaria a impulsionar o desenvolvimento do Lobito, o também conselheiro do Presidente da República entende que “há muitos anos ouvimos dizer isso do corredor do Lobito em termos de que ‘agora é que vai’, e andamos nisto e as coisas não avançam”.    

Sobre a realidade agrícola, o especialista não concorda que se estava melhor na era colonial. “É uma espécie de um slogan que perdura no tempo. Perante as dificuldades que vivemos, é natural que surjam pessoas a dizer que no tempo colonial as coisas estavam boas. De modo algum. Oiço, por vezes, pessoas a dizerem que éramos os maiores produtores de uma série de produtos, quando era apenas em termos do café”, explicou, acrescentando, no entanto, que, “em alguns aspectos”, a situação não estava “tão mal como agora”, referindo-se concretamente à falta de apoio aos produtores.

Pacheco lembrou ainda que “havia serviços públicos de apoio de maior robustez e uma rede de comerciantes do mato que tinham uma relação com os produtores para que houvesse meios de produção”, mas aponta que “esses comerciantes tinham práticas exploratórias quer do ponto de vista dos preços, das dívidas e da dignidade”.

 Em relação à necessidade da auto-suficiência alimentar, destacou que “estamos muito longe”, mas não exclui a possibilidade de ser alcançada “se forem tomadas medidas do ponto de vista longitudinal e latitudinal”, porque de nada serve importar fertilizantes se faltarem instrumentos agrícolas e a consciência das pessoas.