escassez de patrocínios

Festas em Angola deixaram de ser negócio rentável

Eventos. Aumento dos custos com bebida e aluguer de espaços e dalta de patrocínios apontados como as maiores dificuldades no sector. Para sobreviver alguns organizadores de eventos têm optado por prestar serviços aos colegas do ramo.

Festas em Angola deixaram de ser negócio rentável

Afectados pelo agravamento da situação económica do país, os organizadores de eventos festivos em Angola lamentam os momentos desafiadores por que passam, relacionados ao aumento de custos operacionais e a consequente queda na margem de facturação. Além do elevado custo de produção das actividades festivas, segundo os actores deste sector, o mercado tornou-se ainda mais difícil, com a redução de empresas e entidades que se disponibilizam em patrocinar os eventos. 
Jaime Ferraz, mais conhecido como Chicubilson, mentor do projecto “We Love Zona Sul”, no Benfica, em Luanda, recorda que, há pelo menos 4 anos, para a realização do evento, tinha uma despesa que rondava os 3,5 milhões de kwanzas, valor que hoje viu crescer para mais de 5 milhões. “A situação actual de qualquer produtor de eventos é de muita resiliência. Tudo está caro, desde o aluguer do espaço, à bebida e aos materiais de apoio. Por exemplo, este ano eu comecei a gastar cerca 500 mil kwanzas nos espaços onde habitualmente realizava os meus eventos, mas antes o preço não passava dos 400 mil kwanzas,” compara o organizador. Chicubilsom coloca igualmemte nas contas o facto de ver reduzidos os patrocínios que, no passado, eram garantidos por empresas que apoiavam os eventos com valores monetários ou produtos, em troca de publicidade, situação que hoje ficou mais rara. O preço da cerveja, o produto mais consumido nesses eventos, é a principal “dor de cabeça” de Lony Mendigo, outro organizador com mais de 10 anos nesse mercado. De 2020 à data actual, o preço da grade de cerveja nacional teve um aumento em volta dos 61.11% ao sair do preço médio de 3.500 para 5.800 Kz. “O aumento de preço das bebidas também veio piorar a nossa situação. A grade de cerveja em garrafa já ronda quase os 6 mil kwanzas. Isso cria uma situação complicada para nós e para os clientes, porque nos eventos, nós vendíamos cartões de consumo com direito a 4 bebidas a dois mil kwanzas, mas agora o cartão com esse valor, dá direito a apenas três bebidas,” explica Lony. Segundo o organizador, para um evento destinado a mil pessoas são necessárias, em média, 400 grades de cerveja, o que resulta em um investimento de 2.3 milhões de kwanzas, contra os 1.4 milhões que desembolsava em 2020. Quanto ao aluguer de espaço para as suas festas, o organizador debate-se com as constantes alterações de preços. “Normalmente, pelo espaço de costume, gastava cerca de 300 mil kwanzas até ao principio de 2023, mas hoje já me cobram entre 800 mil a um milhão de kwanzas,” lamenta, acrescentando que para lidar com a situação, vê-se obrigado a procurar por locais com preços mais acessíveis. 
De acordo com os dois organizadores, actualmente, até para a realização de um evento mais simples, com a capacidade de 200 pessoas, o desembolso ronda os 2 milhões de kwanzas. “Nesse valor já estarão inclusos o caché dos artistas, mas não garante os mais populares. Porque esses artistas mais queridos pelo público, cobram a partir de 2 milhões de kwanzas,” revela Chicubilson, que  esclarece, entretanto, que consegue superar esses obstáculos quem tem, pelo menos, 60% dos materiais necessários para realizar um evento. 
“Eu já tenho o meu palco, os meus holofotes, alguns assentos e tapetes. Quando vou produzir uma actividade, gasto apenas com o espaço, protocolos e bebidas. Embora, ainda assim, tudo esteja muito caro,” acrescenta Lony. 
A situação de “sufoco económico”, tem afectado, sobretudo, organizadores que realizam eventos de grande dimensão. É o caso de Hélio Santos, nas lides festivas conhecido como 3XU, que organiza festas a nível de algumas províncias do Sul do país e Luanda, denominadas por “Siga La Luna.” 
Para produzir um evento como este, o organizador gasta entre 30 e 50 milhões de kwanzas. 3XU revela, entretanto, que dos 16 eventos realizados este ano, seis não foram lucrativos e pelo menos três deram prejuízos.  
“Quando você está a fazer um evento para 10 mil pessoas, e consegue colocar apenas 5 mil, a fotografia vai parecer bonita por se tratar de uma sensação de que o evento está cheio, mas no fundo, financeiramente, pode haver um prejuízo de 20 milhões de kwanzas,” calcula o organizador. 
Para realizar eventos em outras províncias, os gastos do organizador que se desloca com um grupo de 65 pessoas entre trabalhadores fixos e eventuais, resumem-se em 5 milhões de kwanzas para alimentação e hospedagem, 5 milhões para assegurar a aparelhagem de som, 10 milhões para bebidas, 3 milhões para os colaboradores e cerca de 6 milhões para músicos ou artistas, o que resulta em quase 30 milhões de despesas. No que toca ao lucro 3XU lamenta que a margem ronde, actualmente, os 5 ou 10%, quando há 10 anos, ultrapassava  os 25%. 
“Hoje para conseguirmos um lucro de 15, 20 milhões, temos de realizar um evento com um investimento de 60 ou 70 milhões. Porque quanto mais pessoas tivermos na festa, mais chances temos de ganhar. Mas hoje em dia, não é fácil encontrar patrocinadores que nos ajudem a conseguir esses valores,” lamenta 3XU. 
O baixo nível de consumo das bebidas nos eventos, também tem gerado preocupação, uma vez que, anteriormente, para 3 mil pessoas, vendiam-se 9 mil cartões de consumo. Actualmente, em média, para o mesmo número de pessoas, comercializam-se apenas 2 mil cartões. “Em Luanda nós temos 5 mil pessoas e vendemos até 7 mil cartões de bebidas. No Sumbe com 3 mil pessoas, vendemos mil cartões de bebidas. Tens pelos menos, 2 mil pessoas na festa que não estão a consumir as bebidas”, conta o produtor de eventos. 
O cenário difícil a que estão submetidos esses organizadores de eventos, tem impulsionado muitos a abraçarem outros negócios de modo a que se promova maior sustentabilidade financeira. Além de organizarem festas, muitos têm optado por prestar serviços a outros colegas do sector para, em alguns casos, cobrir os prejuízos .