ANGOLA GROWING
CANCELADO NEGÓCIO COM A BOEING

FMI abre portas à Airbus e à ART

AVIAÇÃO. Construtora europeia pode beneficiar do cancelamento da compra dos aviões da Boeing para, mais uma vez, tentar ter a TAAG no leque dos clientes. Boeing acredita que não se trata de simples coincidência.

FMI abre portas à Airbus e à ART

O conselhando o Governo a cancelar a compra dos aviões para a TAAG, o Fundo Monetário Internacional (FMI) pode ter criado condições para que, no futuro, sejam as europeias Airbus e ATR a reestruturarem a frota da companhia nacional, defendem especialistas do negócio aeronáutico, incluindo executivos seniores da Boeing. “A razão principal (do cancelamento) é que Angola deixou de ser uma nação soberana, está sobre as ordens do FMI, que está interessado em beneficiar as companhias da Europa e os dois construtores europeus: Airbus e ATR”, respondeu, sob a condição de não ser identificado, um dos executivos da construtora norte-americana, contactado por e-mail.

A leitura encontra sustentação tanto na visita que o Presidente João Lourenço fez às instalações dos dois fabricantes europeus durante a visita a França, em Maio de 2018, quanto no histórico que coloca a TAAG nos holofotes da construtora europeia há já alguns anos.

Em 2013, Hadi Akoum, vice-presidente da Airbus para a África, manifestou essa intenção, salientando que continuariam a tentar. “Encaminhámos várias cartas que não tiveram resposta da TAAG. Recusaram-se até a receber-nos, mas somos pacientes. Era muito importante que recebessem as nossas propostas de negócio, em vez de comprarem aviões da Boeing a 200 milhões de dólares. É um preço acima do praticado no mercado”, salientava no ano em que se iniciaram as negociações para a compra dos aviões da Boeing da frota actual.

Na altura, o actual CEO da TAAG exercia igual cargo e respondeu que não fazia “sentido a TAAG diversificar a sua frota, depois dos estudos adequados que a levaram a optar pela linha 777 para o longo curso e 737-700 para o médio curso” e que deram lugar ao acordo assinado em 2005 para a aquisição de três aeronaves. Nos registos, constam ainda as informações nunca confirmadas que davam conta que a entrada da TAAG, em 2007, na “lista negra” da União Europeia foi a retaliação pela escolha da Boeing em detrimento da Airbus.

Boeing aguarda comunicação oficial

O Governo ainda não informou oficialmente a Boeing da decisão de cancelar a compra dos aviões e a companhia continua a trabalhar no processo, o que pode resultar em mais custos no final do processo. Executivos seniores da construtora evitam abordar a situação, argumentando que deve ser a TAAG ou os ministérios dos Transportes e das Finanças a comentar sobre.

O VALOR apurou que as instituições se mantêm indecisas. “Vamos esperar, também não sabemos onde isto vai dar, por isso, não queremos especular”, respondeu um quadro sénior do Ministério dos Transportes, que também evitou comentar a possibilidade de Angola virar-se para a Airbus e/ou a ATR. “O cancelamento visa estudar melhor o programa de financiamento da compra. Não me parece ter havido dúvidas quanto à marca da aeronave. Contudo, não me posso pronunciar sobre esse assunto”, sublinha.

Em despacho de 9 de Abril, o Presidente da República cancelou a compra dos aviões à Boeing e à Bombardear, justificando-se com a necessidade de se elaborar um estudo “mais aprofundado” com vista a implementação do Plano de Reestruturação e Modernização da Frota da TAAG. A decisão, entretanto, pode ter custos, visto que tanto a Boeing como a Bombardear manifestam a intenção de não ‘abrir mão’ ao valor correspondente ao Pre-Delivery Payments e das cláusulas de interrupção do negócio. Em relação à Boeing, estão em causa 62,9 milhões de dólares.