SEGUNDO A BLOOMBERG INTELLIGENCE

FMI pode regressar com João Lourenço

ACORDO À VISTA. Provável regresso do Fundo Monetário Internacional é justificado com a necessidade de apoio financeiro ao Governo. Observadores admitem ‘susto’ ao kwanza.

fundo monetario internacional getty images

A presidência de João Lourenço deve abrir caminho para o Governo lançar novas medidas de austeridade fiscal, necessárias para aproximar o défice fiscal a 2% do produto interno bruto e assim obter o apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional, afirma a Bloomberg Intelligence (BI) no seu último relatório.

A unidade de pesquisa considera, no entanto, que um programa do FMI exigiria provavelmente “alguns apertos”, entre os quais a desvalorização do kwanza. Várias vezes referida como uma das moedas mais valorizadas no continente, cotada aproximadamente a 170 em relação ao dólar norte-americano no mercado oficial, o kwanza vale duas vezes menos no mercado paralelo, onde parte significativa dos agentes económicos obtém divisas.“O ajuste para baixo da moeda nacional será provavelmente necessário se o Governo decidir solicitar um pacote de apoio financeiro do FMI”, lê-se no relatório da BI que acrescenta, no enatanto, que “uma nova desvalorização do kwanza pode relegar Angola para a quarta ou quinta maior economia da África subsaariana, dependendo da escala do ajuste da taxa de câmbio”.

As projecções actuais do FMI são feitas na base de uma queda no valor do kwanza em 1,4% e 6,8% em 2017 e 2018, respectivamente, em relação ao PIB nominal.

A generalidade dos observadores considera, entretanto, que um acordo com o FMI inspiraria confiança aos investidores estrangeiros. Aliás, o Executivo do Presidente José Eduardo dos Santos chegou a negociar com a instituição liderada por Christine Lagarde, no ano passado, uma possível ajuda financeira. As negociações foram interrompidas, um gesto que os analistas atribuíram à então aproximação das eleições. Ao mesmo tempo que anteviam o reatamento das negociações tão logo o partido no poder fosse reconduzido.

Políticas Monetária e Inflação

A BI julga ser “pouco provável” que o Banco Nacional de Angola (BNA) venha aliviar a restritiva política monetária, pelo menos, a curto prazo, dada a pressão contínua sobre a moeda nacional.

Nos últimos meses, o BNA tem mantido inalterada a sua taxa de juro de referência (a Taxa BNA) nos 16%.

Enquanto isso, o Índice dos Preços ao Consumidor (IPC) avançou em 1,6% no mês de Agosto em comparação com 1,7% no mês anterior.

“A subida dos preços deve diminuir ainda mais nos próximos meses como resultado de uma balança de pagamentos mais saudável e de uma moeda mais estável,” constata a BI.

Por outro lado, embora a BI preveja um aumento de exportações de petróleo ainda este ano, o benefício imediato para o país depende do preço a que este for vendido no mercado internacional. “Se o preço não se mantiver acima de 50 USD por barril e o Governo efectuar os pagamentos em atraso aos seus parceiros comerciais estrangeiros, então as reservas internacionais líquida de Angola poderão diminuir ainda mais.” E um contínuo declínio das reservas pode causar “alarme” e colocar em questão a capacidade do BNA de defender a moeda, o que pode precipitar a sua desvalorização.

Nas últimas contas, as reservas aumentaram de 16,8 mil milhões de dólares em Junho para 17,5 milhões de dólares em Julho. Mas há indicações de que tenham entrado novamente em declínio em Agosto.

Angola mantém uma produção bruta de 1,6 milhões de barris por dia, tendo recuado de 1,7 milhões de barris este ano, em parte, como consequência dos cortes solicitados pela Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), mas também como resultado do declínio de alguns campos de produção. Angola já atingiu uma média de produção diária de 1,8 milhões de barris no ano passado, de acordo com as estimativas dos analistas do sector. Os mesmos que acreditam que a descida do nível de produção que o país tem verificado prejudica a capacidade de manutenção do endividamento do Governo.

A Bloomberg Intelligence é o braço de pesquisa financeira da Bloomberg e, segundo a própria, oferece uma perspectiva independente sobre análises detalhadas e conjuntos de dados de indústrias e empresas, bem como de governos, créditos, contenciosos, além de factores económicos que influenciam a tomada de decisões.