ANGOLA GROWING
ROBERT HUDSON EM NEGOCIAÇÃO COM GOVERNO

Ford quer abrir linha de montagem em Angola

AUTOMÓVEIS. Negociações com Governo para a construção da fábrica da Ford em Angola deverão estar concluídas ainda este ano. Primeiros carros podem ser montados já em 2018.

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Angola poderá ter uma linha de montagem da marca norte-americana de carros Ford, a partir do próximo ano, revelou o administrador-delegado Robert Hudson, Carlos Cerqueira, em exclusivo ao VALOR.

As negociações para a construção da fábrica de montagem no país estão já em curso entre a Robert Hudson, representante da Ford em Angola, e o Governo angolano e deverão estar concluídas ainda este ano. “É um processo que esperamos concluir no final de 2017 e, em 2018, estarmos em condições de ter as primeiras viaturas montadas cá”, revela o responsável.

Sem avançar o valor do investimento, Carlos Cerqueira fez saber que a decisão da abertura de uma linha de montagem em solo nacional resulta do facto de Angola ser um “mercado estratégico” da Robert Hudson em África. “Somos uma empresa angolana e toda a criação de valores é para investir cá”, sublinha o gestor.

No entanto, as vendas da Robert Hudson, no seu ‘mercado estratégico’, têm estado em ‘queda-livre’, desde 2014, na sequência da crise de divisas que assola a economia angolana. A empresa prevê fechar 2017 com apenas 270 viaturas vendidas, uma queda de 65,5% face às 780 comercializados no ano passado. Nos últimos quatro anos, o melhor registo de vendas foi em 2014, ano em que a empresa vendeu 2.440 viaturas, com a derrapagem a começar, no ano seguinte, depois de uma queda de cerca de 44% para 1.350.

A crise de vendas não afecta apenas a concessionária do grupo Salvador Caetano, mas todas as suas concorrentes. Carlos Cerqueira alerta que, na Europa, a comercialização de automóveis também tem registado baixas. Para exemplificar aponta Espanha, que, entre 2011 e 2014, viu cair as vendas dos 1,6 milhões de automóveis para 600 mil unidades.

No caso da Robert Hudson, as dificuldades de acesso às divisas levaram à acumulação de uma dívida com os fornecedores de cerca de 30 milhões de dólares. Do valor da dívida, cerca de 27 milhões de dólares é com a Ford, sendo o restante com as marcas alemãs Volkswagen e Audi. “Toda a dívida está aprovisionada em banca, com fundos em kwanzas. Portanto, temos dinheiro disponível, o que falta são as divisas”, explica o delegado da Salvador Caetano.

Esta situação da dívida, de resto, é extensiva a todas as concessionárias filiadas da Associação dos Concessionários de Equipamentos de Transportes Rodoviários (Acetro). No passado mês de Agosto, o presidente da referida associação estimou a dívida acumulada em cerca de 180 milhões de dólares, tendo, no mês passado, reduzido para 165 milhões depois de conseguirem algumas transferências.

Por força das dívidas, os fornecedores da Robert Hudson recusam-se a enviar encomendas, segundo Carlos Cerqueira. A empresa é abastecida por diferentes fábricas das marcas que representa em Angola. A Ford Ranger, por exemplo, é importada das linhas de montagens da África do Sul. Já os modelos Figo e Eco Sport vêm da Índia, enquanto as carrinhas Ford Transit são fornecidas da fábrica instalada na Turquia.

No geral, cerca de 180 carros já produzidos estão nas respectivas fábricas à espera do pagamento do Robert Hudson para chegarem a Angola. Deste número, pelo menos, 70 são Ford Ranger, o ‘best seller’ da Ford em Angola. Enquanto, os carros não vêm, o ‘stock’ da empresa está quase zerado, como reconheceu o seu gestor. Ou seja, neste momento, há apenas oito carros para serem vendidos. A Ranger, Eco Sport e Escape representam cerca de 80% das vendas da Robert Hudson em Angola, que tinha uma oferta de 23 modelos da Ford, tendo reduzido para 16.

Para mitigar o problema da importação e da quebra de vendas, a empresa gerida por Carlos Cerqueira está a apostar nos serviços pós-venda e na venda de peças, já que as divisas para a importação de peças estão na lista das prioridades do Banco Nacional de Angola. Aliás, é o segmento de pós-venda e venda de peça que tem ‘suportado’ os 240 postos de trabalho existentes no grupo, depois de 40 funcionários terem sido já despedidos em 2014, por força da crise financeira.