Fragilidades nas contas podem atrapalhar PROPRIV

07 Apr. 2021 Economia / Política

privatização. Risco de investidores estrangeiros afastarem-se e redução do preço das empresas a privatizar são alguns dos alertas lançados por especialistas da EY, por causa da fragilidade das contas auditadas. Consultores sugerem a criação de um consultório para as privatizações.

Fragilidades nas contas podem atrapalhar PROPRIV
D.R

É fundamental que o Estado angolano transmita confiança aos investidores para que o Programa de Privatizações Integral e Parcial de Empresas Públicas (Propriv) se cumpra plenamente, recomendam especialistas da consultora Ernst &Young Global (EY). António Oliveira e Jorge Moreira referem que o sucesso é desafiador.

“A falta de transparência, sobretudo nas contas de empresas abrangidas pelo programa de privatização, poderá, em certa medida, afastar investidores estrangeiros”, alerta o especialista em estratégia de parceria e transacções e diversificação industrial António Oliveira.

E acrescentou que “uma parte importante das empresas tidas como de ‘referência nacional’ apresenta, efectivamente, contas auditadas. Porém, estas mesmas contas tendem a evidenciar algumas fragilidades e incoerências no relato financeiro que em nada contribuem para a confiança dos investidores privados”, observa. António Oliveira aponta como outro factor a necessidade de preparação adicional de algumas empresas antes de serem colocadas à venda, um processo atrasado por conta da covid-19.

Por sua vez, Jorge Moreira defende que essa fragilidade “poderá influenciar na redução do valor das empresas e, consequentemente, não se tornar rentável para o Estado”. Também especialista em estratégia e transacções, Jorge Moreira prevê que a falta de confiança dos investidores no relato financeiro das empresas não jogue a favor do êxito das transacções”, explicando que há formas de mitigar esta fragilidade. Por isso, defende ser “imperioso criar um ambiente de negócios amigável”.

“Recuando um ano, atrevo-me a dizer que o programa apresentava condições para ter sucesso. Os investidores, sobretudo os internacionais, mostravam-se particularmente sensíveis ao esforço do Executivo de promoção e de credibilização do país além-fronteiras. Mas a pandemia acabou por colocar grande parte das ‘démarches’ ‘on hold’. É fundamental, portanto, que o país não dê sinais contraditórios para o mercado, que a veia reformista não esmoreça e que o programa de privatizações avance, com atrasos, mas avance, de forma a não contribuir para o descrédito junto dos principais ‘players’”, defende Jorge Moreira da Silva, também ele especialista da EY.

Os dois especialistas sugerem a criação de um observatório para as privatizações, que sistematize todas as operações, ‘timings’ valores e investidores envolvidos. António Oliveira refere que, “numa dimensão mais estratégica, talvez fosse proveitosa uma maior proximidade entre o Igape e as grandes consultoras globais”.

“Além da experiência que podem emprestar em operações análogas em múltiplas geografias, possuem um capital relacional valiosíssimo passível de ser mobilizado em virtude da carteira de clientes ou investidores que detêm em muitas das principais praças mundiais”, sugere.

Fora os rendimentos que poderão ou não ocorrer, os dois peritos da EY salientam que as privatizações representam uma oportunidade única de injectar ‘know-how’, tecnologia, gestão e vocação internacional a muitos negócios e garantir a competitividade, viabilidade económico-financeira, sustentabilidade social e ambiental, a geração de emprego qualificado e a geração de riqueza.