PROTESTO E TEMPORAIS AMEAÇAM CAMPEONATO DO MUNDO

França entre duas tempestades

08 Jun. 2016 Emídio Fernando Mundo

CATÁSTROFE. Milhares de pessoas nas ruas, em protesto contra o código de trabalho, ameaçam paralisar o país logo no início do Euro. O tempo não ajuda: as fortes chuvas provocaram inundações em quase todo o lado e a subida do caudal do Sena coloca em risco a circulação em Paris.

O governo francês prepara-se, esta semana, para declarar o Estado de Catástrofe Natural para as zonas mais afectadas pelos temporais que, nos últimos dias, têm deixado França em ‘estado de sítio’. Em Paris, as águas do Rio Sena transbordaram, provocando cheias como não se viam há mais de um século e um nível de precipitação que ultrapassou o de 1960, quando o país enfrentou as maiores tempestades da sua história.

Desta vez, o mítico museu do Louvre foi obrigado a transferir mais de 250 mil peças para os pisos superiores, com o receio de que as águas pudessem inundar o edifício e foi encerrado no final de semana. O museu é ‘apenas’ o mais visitado do mundo, com nove milhões de pessoas por ano.

As previsões para as próximas semanas não são nada favoráveis, em que os especialistas apontam para a subida do caudal do rio para seis metros. Em Paris e em várias zonas, nos arredores da capital, mas também no interior, centenas de pessoas foram obrigadas a abandonar as casas e fábricas e empresas tiveram de fechar.

Em vésperas de receber o campeonato europeu de futebol, França ainda está ameaçada com a possibilidade de haver uma greve geral que pode paralisar o país. Nas últimas semanas, tem enfrentado greves parciais na distribuição eléctrica e de águas, nos transportes e na função pública.

Os manifestantes protestam contra a nova lei laboral que prevê maiores facilidades nos despedimentos. O governo francês teme que as greves possam pôr em causa a deslocação de adeptos aos estádios, por isso foi cedendo aos sindicatos nalguns pontos, mas não quer mexer no que tem levado mais de 100 mil pessoas às ruas das principais cidades francesas.

As preocupações maiores estão com a greve prevista pelos pilotos da Air-France na próxima semana. O campeonato começa a 10 de Junho e o país aguarda por cerca de três milhões de adeptos que devem chegar via aérea. Também os sindicatos dos caminhos-de-ferro já convocaram uma greve para o início da próxima semana.

O governo vai alertando para os “prejuízos incalculáveis” para a economia, caso as greves não sejam desconvocadas. Os economistas prevêem que as greves coloquem um ponto final na evolução económica positiva que se tinha registado nos últimos dois meses.

Os sindicatos limitam-se a dizer que “não querem bloquear” o Euro, enquanto as confederações patronais acusam os trabalhadores de estarem a ter “comportamentos de delinquentes, terroristas”.