Fundo atesta incapacidade da Aipex e expõe investimentos a maiores taxas de risco
FINANCIAMENTO. Intenção do Governo de criar um fundo de investimento directo estrangeiro e financiamento de projetos específicos é sinal da “incapacidade” da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (Aipex) de atrair investidores ao país.
O Presidente da República autorizou, em despacho n.º 6/22 de 6 de Janeiro deste ano, a contratação, por ajuste directo, do grupo Rotschild & Co para apoiar a criação de um fundo de investimento directo estrangeiro e financiamento de projectos específicos. A contratação do grupo, que desponta desde o século XVIII, custou 480 mil euros, valores inscritos no Programa de Investimentos Públicos. Para os economistas António Estote e Daniel Sapateiro, a decisão é uma clara demonstração da “incapacidade” da Aipex, à semelhança da antecessora Apiex, de atrair investidores estrangeiros ao país, além de entenderem que se trata de uma intenção eleitoralista.
“Vem demonstrar que o papel da Aipex e de outras instituições do Estado vocacionadas para a captação de investidores estrangeiros tem sido insuficiente. A estatística mostra que estamos a substituir investimento directo estrangeiro na indústria petrolífera, que representa mais de 90%, por eurobonds. Este fundo vem tentar avaliar se é possível conseguirmos investidores estrangeiros com um fundo ou não, mas é um atestado de incompetência à Aipex e às instituições que a antecederam porque não conseguiram atrair investidores”, entende António Estote.
O economista alerta que o ‘sucesso’ do fundo depende do aperfeiçoamento do clima de negócio, acabando com as burocracias administrativas que têm propiciado a corrupção, a título de exemplo no tratamento das licenças e acesso ao direito de superfície. A isso junta-se a qualidade dos potenciais beneficiários, gestores e outras que, eventualmente, inibirão os investidores ou obrigação de uma taxa de rentabilidade muito alta e atractiva para cobrir o risco.
“Se a taxa de inflação for alta, o ambiente de negócio não for dos melhores, se houver muita corrupção, burocracia, os investidores vão cobrar um prémio de risco maior. Ou seja, se, para um negócio na América, eles cobram o prémio de risco1% ou 2,5%, para Angola, com estas limitações todas, o prémio será, por exemplo, 25%. No final do dia, o que vai acontecer é que o custo de financiamento deste fundo será extremamente alto porque o retorno que vão exigir será alto”, repara, explicando que, com as actuais condições, os investidores preferiram comprar títulos no Bank of America a aplicar num país do terceiro mundo.
O também economista Eduardo Manuel chama atenção para o reforço dos mecanismos de ‘due diligence’ no sentido de “evitar possíveis burlas.” E entende que o fundo será vantajoso na medida em que o Estado angolano captar mais investimentos directos externos à boleia da prestigiada consultora contratada. Todavia, à semelhança de Estote, assinala que o êxito está refém de um conjunto de condições. Por exemplo, melhorar os serviços básicos, infra-estruturas portuárias e aeroportuárias. “Melhorias no sistema financeiro nacional para que os investidores possam ter segurança nas suas transacções, das redes viárias, cooperação entre as instituições de ensino e as empresas, das condições de acesso às tecnologias de informação e comunicação, reforço do diálogo entre as associações empresariais e o Executivo, bem como a revisão da política de imigração, a fim de se rever o prazo de validade dos vistos e autorizações de residência, bem como as condições de acesso ao estatuto de residentes e a nacionalidade angolana”, resume.
No entanto, Daniel Sapateiro realça a necessidade de se investir fortemente na formação com vista a aumentar a produtividade e, consequentemente, impulsionar o ainda indesejável ambiente de negócios. “É preciso investir no ser humano, em termos de educação e saúde, desporto, habitação, para que a mentalidade esteja focada para o desenvolvimento, para a melhoria da qualidade dos produtos e serviços, da produtividade que é um gravíssimo problema nacional. Enquanto isso estiver em segundo plano, as melhorias serão reduzidas e prolongadas no tempo e o povo tem expectativas e sonhos”, explica.
O objectivo da intenção de criação do fundo é captar quotistas que comprem participações e, posteriormente, alocar em investimentos directos em Angola. E António Estote acredita, desde já, que o mesmo será sediado entre os mercados financeiros de Singapura, Nova Iorque e Londres. Contudo, mostra-se céptico quanto à captação de investimento ainda este ano caso venha a ser constituído.
Das 423 intenções de investimento registadas desde a criação, em 2018, até ao terceiro trimestre de 2021, a Aipex só viu concretizados efectivamente 114 projectos.
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