Governante diz que empresas podem “morrer” porque não “prestam”
POLÉMICA. Carta aberta dirigida ao Presidente da República teve como resposta uma reunião com um membro do Governo. Encontro não correu bem. Governante sugeriu a “morte” de empresas para apenas ficarem as “boas”. Empresários não gostaram do que ouviram e prometem responder à altura.
Um membro do Governo o qual a Confederação Empresarial de Angola (CEA) não quis identificar, “por enquanto”, afirmou que as empresas angolanas “podem morrer à vontade porque não prestam” e assim ficariam “apenas as boas”.
Segundo revelou ao VALOR o presidente da CEA, Francisco Viana, o governante proferiu esta afirmação durante a reunião que aconteceu um dia após a divulgação de uma carta aberta dirigida ao Presidente da República e assinada por mais de 50 associações integrantes da confederação.
Depois da divulgação da carta a João Lourenço, o primeiro contacto com o Governo “não correu bem”, afirma Francisco Viana, que ameaça divulgar, mais tarde, o nome do governante, caso não haja um pedido de desculpas.
O líder da CEA prefere não revelar o nome do membro do Governo, dando-lhe “tempo para se retratar com os empresários e mostrar que se arrependeu”. Caso o pedido de desculpas não surja, a confederação ameaça fazer uma denúncia.
Francisco Viana revela apenas que o membro do Governo “é responsável pelos assuntos económicos”. Além do pedido de desculpa, a confederação também pretende apurar se a reunião aconteceu por iniciativa do governante ou por ordem de João Lourenço. “A ideia que fica é a de que parece que não há sentimento nem coração em determinados dirigentes. E já estamos a preparar um protesto porque não podemos ter dirigentes assim”, reforça Francisco Viana.
Apesar de o protesto estar nos planos dos empresários, caso não sejam ouvidos, a principal preocupação é que haja comunicação entre o Governo e a classe empresarial. A CEA garante “preferir sempre o diálogo” e que está “sedenta de conversa com o Governo e o com o Presidente”. A confederação já teve também contactos com a UNITA e a CASA-CE, dando conta da “difícil situação da classe empresarial e desta calamidade económica e social que Angola está a passar”.
Francisco Viana promete, caso a voz empresarial não se faça ouvir internamente, bater portas internacionais como a União Europeia, Rússia e EUA. Mas a meta ainda continua a ser o diálogo. “Queremos que isso não seja feito pela comunicação social, mas acompanhado, num ambiente sobre os auspícios do Presidente da República em que ele [Presidente] alinhe a sua equipa económica, os representantes alinhem os seus especialistas e encontremos uma agenda comum e depois identifiquemos as metas a cumprir.”
Fazem parte da equipa económica do Governo, Manuel Nunes Júnior, ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social, bem como Ricardo de Abreu, secretário para os Assuntos Económicos do Presidente da República. Ainda Archer Mangueira, ministro das Finaças e José Massano, governador do BNA.
AGT “feroz”
Numa carta dirigida ao Presidente da República, nos mês passado, a CEA espelhava a difícil situação por que muitas empresas estavam a passar e pediam uma amnistia fiscal, perdoando multas e juros nos períodos entre 2012 e 2017. Na missiva, os empresários alertavam o Presidente da República sobre a “ferocidade incompreensiva da Administração Geral Tributária, que, num momento difícil para as empresas, tem fustigado os empresariado nacional honesto e trabalhador com multas astronómicas e impossíveis de pagar, causando a falência de milhares”.
Em mais de 28 pontos, são apresentadas várias reclamações como a falta de divisas, insuficiência de meios para alavancar o sector produtivo e instrumentos financeiros competitivos. “Continua a verificar-se uma grave carência de divisas para o sector económico e a prevalência do tráfico de divisas, que continua a destruir a economia angolana e a impossibilitar o seu normal funcionamento”, lê-se na carta.
A João Lourenço, a CEA manifestou a pretensão de criar um Conselho de Auscultação e Concertação Económica capaz de institucionalizar o diálogo entre os empresários e o Executivo.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...