PROJECTO PERTENCIA À TRAFIGURA GROUP

Governo paga 400 milhões USD por mina parada

Vários observadores questionam a compra, pelo Governo, de um projecto mineiro inactivo há mais de três anos,numa altura em que o Estado se vê a braços com graves limitações orçamentais que o colocaram em negociações com o Fundo Monetário Internacional para um acordo de assistência financeira.

No primeiro semestre os lucros da Trafigura Group foram impulsionados pelo pagamento de 400 milhões USD para um projeto de minério de ferro pelo Governo angolano. Não fosse isso, a empresa teria uma queda de 50% nos resultados líquidos, disse à agência financeira Bloomberg News.

Pelo mundo, o preço do minério de ferro caiu 27% desde Abril quando a tonelada métrica custava 70 USD. O preço actual, mesmo assim, está 17% acima do valor transacionado no início do ano. Os índices do ferro começaram a cair acentuadamente em Fevereiro, após revelações de que a China - actualmente o maior consumidor mundial - tinha armazenado 100 milhões de toneladas métricas nos seus portos e que, com a sua própria produção, tinha amplo fornecimento para suas necessidades.

É no meio deste quadro que analistas internacionais questionam a opção do Governo de pagar 400 milhões de dólares por uma mina de ferro inactiva há três anos. Acresce-se o facto de Angola e o Fundo Monetário Internacional estarem a negociarem um pacote de assistência financeira que visa, entre outras soluções, reavivar a economia afectada pela queda do preço do petróleo. “Toda a operação parece estranha, já que é um montante avultado a pagar para um projeto que tem estado dormente por três anos”, comentou ao VALOR um analista que solicitou o anonimato. “E ninguém no mundo está a comprar de projetos de minério de ferro, e sem falar mais pagar tantos dólares por eles”, acrescenta.

A Trafigura prestou a informação aos reguladores financeiros angolanos e declinou fornecer mais detalhes, segundo a Bloomberg. O Ministério de Geologia e Minas ainda não respondeu ao email enviado solicitando comentário oficial.

A Tranfigura, uma empresa baseada na Singapura, detinha o projeto minério com o grupo Cochan, de Leopoldino Fragoso do Nascimento, numa parceria de 50% para cada um. A mina AEMR está localizada em Kassinga e Kassala-Kitungo, no município da Jamba Mineira, na Huila.

Contudo, o Decreto Presidencial nº 220/15 de 21 de Dezembro justifica a transferência do projecto para a Ferrangol, como “necessidade de reestruturação do Projecto Integrado Minero-Siderúrgico de Kassinga e Kassala-Kitungo”, parte da estratégia de “intensificação da actividade de prospecção e exploração de minerais.”