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MOXICO PODE SER, NOS PRÓXIMOS TEMPOS, A CAPITAL DO MÓVEL EM ANGOLA

Governo quer travar abate indiscriminado da floresta

EXPLORAÇÃO FLORESTAL. Autoridades acreditam que o cenário da última época florestal, do abate indiscriminado de madeira, não se vai repetir este ano. E garantem que as regras vão ser mais apertadas.

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Na última época florestal, suspensa pelo Governo angolano a 31 de Janeiro de 2017, foram constantes os relatos de dezenas de camiões a circularem diariamente na província, carregados com toros de madeira para a exportação, sem qualquer transformação local.

O vice-governador do Moxico, Carlos Alberto Masseca, admitiu a preocupação com o cenário vivido no último ano e garantiu que a definição de “melhor modelo” de exploração de madeira está a ser preparado, com o Governo central, para a próxima época, que deverá arrancar em Maio.

“Em relação à madeira, reza a história que sempre foi um elemento importantíssimo na economia do Moxico. Não há uma oposição à exploração da madeira. A grande questão é o modelo que temos de aplicar”, sublinhou.

A prioridade, diz Carlos Alberto Masseca, passa por apostar nas indústrias de transformação que já existem na província e captar outros investimentos, para garantir que a madeira seja tratada localmente.

“No nosso entendimento, o melhor modelo passa pela transformação da madeira cá na província. Nós temos de, a partir da madeira, criar indústrias, criar empregos, por esta via, e gostaríamos, pelo potencial que temos, que o Moxico, nos próximos tempos, fosse a capital do móvel em Angola”, apontou o vice-governador.

Apesar da intenção, de apertar as regras da exploração florestal, já anunciada pelo Governo, o bispo da diocese do Moxico, Tirso Blanco, que, nos últimos meses, denunciou publicamente o “abate indiscriminado e selvagem” da floresta da província, confessa preocupação com o que aconteceu e a necessidade de “todos estarem muito atentos”.

“Quem conhece o Moxico sabe que o nosso chão é areia, basicamente. Tirando a madeira e a floresta que cá está, isto virará um deserto”, critica, falando numa “desflorestação selvagem” no último ano, algo sem precedentes.

“Nunca, mesmo na história passada, houve uma desflorestação desta forma”, criticou, garantindo ter chegado a contar 200 camiões por dia, carregados com madeira retirada das florestas do Moxico, circulando por uma rede rodoviária que, naquela província, já é débil, com apenas 5% de estradas asfaltadas.

“A população não beneficiou em nada e até o pouco que tínhamos, de estradas que comunicavam com o resto do país, ficou destruído pelo peso e frequência destes camiões. Pontes e caminhos”, exemplifica o bispo.

Com nove municípios, o Moxico tem uma superfície superior a 223 mil quilómetros quadrados, mais do dobro da área de Portugal, mas enfrenta, desde logo, a falta de vigilantes para os vários polígonos florestais.

“O número de empresas vai reduzir porque há muitas que não têm capacidade efectiva e passam para estrangeiros, a exploração dos nossos recursos. Mas, a partir deste ano, o quadro vai mudar”, começou por apontar, em declarações à Lusa, o director provincial de Agricultura do Moxico, Tomás Manuel Inácio.

“Actualmente, já funcionam cinco indústrias locais de tratamento primário da madeira em toros e mais duas de carteiras e cadeiras. Aposta que será reforçada este ano, garante o responsável, acrescentando que “vai dar empregos e permitir que a província se desenvolva mais e tenha mais recursos”.

Garante que já há contactos com investidores privados, para a instalação no Moxico, garantido o tratamento local da madeira, daí a confiança que o cenário do último ano, de abate indiscriminado de madeira e sem retorno para a província, não se volte a repetir.