ANGOLA GROWING
FALTA DE DOCUMENTAÇÃO TEM ATRASADO A LEGALIZAÇÃO DO NEGÓCIO

Grandes produções em pequenas produtoras

PRODUÇÃO MUSICAL. Com aumento de cantores, há cada vez mais ‘home-studios’ e produtores ‘caseiros’ um pouco por todo lado. Nas pequenas produtoras, o investimento pode ultrapassar os 500 mil kwanzas, dependendo do material usado e da área de actuação.

 

o negócio, apesar das margens de lucro que pode garantir, falta ainda a componente académica ou científica, sendo que não existem, até ao momento, instituições do ensino superior vocacionadas para tal, factor que seria decisivo para a internacionalização da produção feita em Angola.

Mas, enquanto isso, a actividade gera ‘furor’ entre os praticantes, no mercado nacional, sobretudo devido às receitas que produz. A produção de uma música programada de afro-house e kizomba ronda entre os 30 e os 50 mil kwanzas, valor discutível, dependendo da produtora e da quantidade de músicas a produzir. As produções acústicas, no entanto, são mais caras em relação às programadas, por envolverem a terceirização de mão-de-obra.

Além da produção musical, os estúdios ou produtoras também se dedicam à gravação de videoclips. Neste último caso, não há preços fixos, já que se trata de um trabalho que envolve uma equipa de mais de cinco elementos e cada um a seu preço.

Os rendimentos mensais podem ultrapassar os 100 mil kwanzas. Numa produtora, por exemplo, em que trabalhem mais de cinco sócios, a divisão é parcelada a 25% do valor total do trabalho prestado. Rap, afro-house e kizomba são dos estilos mais procurados, mas os mais caros são a kizomba, afro-house e semba, em que os preços podem ultrapassar os 30 mil kwanzas. Já o kuduro e rap rondam os 15 a 20 mil kwanzas a produção.

Na produtora ‘BCM Record’, localizada na comuna da Coreia, distrito da Samba, em Luanda, em que um dos membros é Bruno Silva, já foi produzido o hit ‘Pengua’ do músico Mestre Dangui, produzido pelo DJ Perereca. O produtor trabalha também com um sócio que é responsável da edição, produção e gestão de vídeo. Há ainda outros membros que foram fazer formação ao estrangeiro.

Na BCM Record aparecem, mensalmente, perto de 10 cantores, mas “há meses muito atípicos”, em que podem surgir bem menos.

“A produção de uma música pode demorar, no máximo, três dias”, adianta o produtor Bruno Silva, referindo que o kuduro e a kizomba “são dos estilos mais exigentes”, sendo que os dois têm um padrão, e qualquer descuido “é fatal para o insucesso da música”.

Ladislau Neto, conhecido por L-Shine, tem a seu estúdio montado na sala de casa, no bairro Prenda, em Luanda, por trás da escola Simione Mucune. Saiu da música para a produção musical, porque achava que, muitas vezes, as suas ideias não eram idealizadas no seu projecto. Há quatro anos que se dedica à produção musical e tem o ofício como a fonte de rendimentos.

No estúdio em que trabalha sozinho, tem um rendimento acima de 70 mil kwanzas mensais, produzindo desde o kuduro, semba, kizomba, afro-house entre outros estilos. Os preços variam dos 10 mil a 50 mil kwanzas, por produção. Se um cliente, por exemplo, optar por parcelar o trabalho, o produtor garante que fica mais caro, pois só a captação custa cerca de 15 mil kwanzas, a mistura 20 mil e a instrumentalização 35 mil, pelo que aconselha aos clientes a fazerem o trabalho com um único produtor.

Para abrir o pequeno estúdio, investiu mais de 300 mil kwanzas. O material usado no estúdio foi adquirido em Angola e outra parte no estrangeiro, “porque, no mercado angolano, tudo é muito caro”.

L-Shine, para além de produzir, toca piano e já trabalhou com músicos como Semini NyMoyo, Roberto Stefanny, Lukenny Bamba, entre outros. O produtor apela aos patrocinadores a investirem mais nestas áreas, principalmente nos que estão ligados à música.

Outro produtor, Tomé Mendes, mais conhecido por ‘Seven’, produz há oito anos. Para a abertura da produtora, que fica localizada em Cacuaco, Kaop B, nas casas novas, investiu mais de 500 mil kwanzas. Apesar dos esforços e do investimento, pensa que, a dada altura, o empreendedor tem de recorrer aos empréstimos bancários para apetrechar o espaço, pois o conforto e a beleza do estúdio também cativam o cliente. A falta de documento para legalizar o negócio da produção musical é o maior empecilho para não arriscar num empréstimo.

Mensalmente, pode facturar até 120 mil kwanzas, “porque o rendimento é muito em função da projecção dos músicos”.