Grupo Castel e Refriango justificam baixa da cerveja
CERVEJAS. Empresas fixaram as unidades de 33 mililitros em 150 kwanzas, mas apresentam racionais diferentes para a redução do custo de produção. Sodiba mantém o preço e garante que “trabalha com margens mínimas há mais tempo”.
A decisão do Grupo Castel e da Refriango de baixar o preço da cerveja para 150 kwanzas tem despertado acusações de uma estratégia concertada que envolve o Governo, mas as duas empresas garantem que se trata apenas de uma decisão de negócio que resulta exclusivamente da redução dos custos de produção.
Os receios são suportados pelo actual contexto económico, marcado pela desvalorização da moeda, o que exige constantes actualizações para cima dos preços dos produtos, cuja produção dependa excessivamente da matéria-prima importada, como é o caso das cervejas. Também concorre para a suspeita o recente alerta da Associação das Indústrias de Bebidas de Angola (Aiba) para a possibilidade de se registarem falências no sector, na sequência da implementação do Imposto Especial de Consumo. A coincidência no período em que as duas empresas apostam na redução dos preços da cerveja também consta entre as razões que motivam interrogações.
“Não é verdade, não tivemos nenhum incentivo que nos permite baixar os preços”, garante Philippe Frederic, director-geral da Cuca, acrescentando que conseguiram baixar os custos negociando a redução dos salários dos que estão em casa.
“Temos o pessoal em casa e alguns com o salário reduzido, mas, como deve imaginar, estamos a ganhar muito menos. Estamos num período difícil e precisamos de vender, mas também queremos ajudar as pessoas que, nesta altura, têm o poder de compra limitado. Com os restaurantes e bares fechados, tomámos medidas para reduzir os custos que nos permitam baixar os preços. Queremos aumentar a nossa quota de mercado e vender mais para aguentar a crise”, explica.
No entanto, o gestor reconhece ser “impossível” reduzir custos nas matérias-primas, visto que são importadas e pagas em divisas. “Em relação à matéria-prima, o importante é salientar que temos garantida para cinco meses, fizemos uma boa planificação e não temos problemas”, acrescenta.
Por sua vez, Estêvão Daniel, da Refriango, produtora da cerveja Tigra, também assegura que a decisão de baixar a cerveja para 150 kwanzas “tem que ver com o custo de produção que baixou”. No entanto, contrariamente ao gestor do grupo Castel, Estêvão Daniel coloca a matéria-prima na equação.
“O que acontece é que temos tido muita ajuda do Governo no que concerne à importação de matéria-prima. A questão cambial também ajudou. Embora o câmbio esteja muito elevado, há mais divisas no mercado e são factores que têm ajudado muito para baixar os custos”, salienta, acrescentando que já começaram a sentir o efeito da decisão, pois têm “vendido um pouco mais”.
Quem mantém os preços dos produtos é a Sodiba, produtora das marcas Luandina e Sagres. “A Sodiba já trabalha com margens mínimas há mais tempo para garantir os melhores preços aos consumidores e não vai colocar em causa a qualidade dos produtos para baixar mais os preços”, explicou Luís Correia, director-geral da empresa.
O IEC CONTINUA A PREOCUPAR
Philippe Frederic lamenta, no entanto, o silêncio do Governo sobre a solicitação dos industriais de bebidas para a redução do IEC. “Estamos a fazer um grande esforço financeiro. Como já temos o IVA que não facilita a vida dos nossos clientes, pedimos ao Governo para rever o IEC, mas o Governo ainda não respondeu.” O empresário acrescenta que a redução do imposto seria a principal ajuda que se poderia dar aos produtores de bebidas para reduzir o impacto da covid-19. “As medidas criadas pelo Governo para reduzir o impacto da Covid-19 não têm impacto nas nossas empresas, o importante seria mesmo a redução do IEC”, insiste.
A Aiba defende a redução em cerca de 50% do IEC que, em Agosto, passou de 16% para 25%, no caso das bebidas alcoólicas, enquanto, para os refrigerantes e águas, está fixado em 2%.
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